O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

sábado, dezembro 30, 2006

REGISTROS DE DIÁLOGOS E SITUAÇÕES INUSITADAS (os primeiros...)


O repórter e a anã
- Como é o seu nome?
- Veronika, mas pode me chamar de Veka!
- Mas porquê?
- Veronika é muito grande!
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El reportero y la enana
- Como és tu nombre?
- Veronika, pero puede llamarme de Veka!
- Por que?
- Veronika és muy grande!
(traducción libre para el Español; una homenaje a mi amiga y hermana Paula Rosário)

André Coneglian
1ª quinzena dez/2006.

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Um brasileiro e uma boliviana na brincadeira das línguas

- O que é “gelinho”? – ela.
- É um suco que se põe no saquinho e depois no congelador. – ele.
- Ah... bolo (para os bolivianos).
- Bolo? E bolo (o nosso bolo)?
- Torta!
- E torta?
- Queque!

Palavras com a mesma forma, quase com os mesmos sons, porém, que significam coisas diferentes, ainda que muito próximas, ou nem tanto: gelinho é bolo!!!

- Hahahahaha!
- Jajajajaja! (representação do riso em castelhano).

André Coneglian
1ª quinzena dez/2006.

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Provocações

- Su letra parece de médico.
- Mas letra de médico é feia!
- Por eso!
- ... [cara de admiração e espanto!]
Outro dia:
- Veja minha letra de maestro.
- Si tu letra és de maestro, mi abuelita tiene quince años!
- Mira! Como sua avó é nova!!
- Kakaka, jajaja!!!

André Coneglian
1ª quinzena dez/2006.

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Cultura brasileira X Cultura boliviana

O encontro entre culturas diferentes é muito interessante. Na verdade, “encontro” não é a melhor palavra. “Choque cultural” parece ser uma expressão adequada para a situação quando línguas, costumes e tradições que envolvem vestimentas, comida, artes e até mesmo aspectos geográficos (temperatura, fauna, flora...) estão em contato.

Tudo começou quando Paula veio procurar-me. Seu interesse era pela Língua Brasileira de Sinais. Paula tem um biótipo andino muito característico; seu “portunhol” ou ainda, um português carregado de sotaque castelhano confirmaram; ela apenas especificou seu país de origem: Bolívia. No Brasil havia 7 meses, inicialmente morou na cidade de Rio Claro, onde teve contato com a LIBRAS.

Paula passou a freqüentar as aulas do curso de LIBRAS aos sábados e segundas-feiras assiduadamente, bem como as atividades semanais do Ministério de Surdos da Primeira Igreja Batista de Marília, o grupo de oração na quarta e a Escola Bíblica de Surdos, aos sábados e ainda o Culto de Celebração aos domingos.

Aprendizado em toda e qualquer palavra ou sinal expressados. Paula aprendendo LIBRAS e Português; eu, o Espanhol e aspectos da cultura boliviana.

Os choques culturais começaram quando expressei a delícia que é tomar vitamina de abacate, batida com leite e açúcar; ao que Paula expressou:

- Argh... abacate com açúcar e leite?!

- Sim. Nunca tomou? – indaguei.

- Na Bolívia comemos como salada, temperada com sal e cebola. – ela respondeu.

- Abacate com sal e cebola... eca!!! – minha vez de estranhar.

Paula disse que estranhou muito nossa comida, parecida com comida de hospital, fraca, sem tempero, nada “picante”. Estranhou também a quantidade de feijão que consumimos.

Assim, aprendi muito, ri muito também, por causa dos encontros e desencontros das línguas e culturas.

Num sábado fomos todos do Ministério de Surdos comer “panchito” – cachorro-quente. Entre fotos, conversas e risadas, Paula nos contou um “segredo” boliviano que envolve as lhamas e os turistas que vão à Bolívia. Disse mais: para los chiquititos y chiquititas és tan divertido, que van al zôo solamente para mirar los turistas, y estos, com ganas de conocerem las llamas.

O segredo: é que as lhamas têm uma defesa para auto-proteção; elas cospem naqueles que se aproximam muito. Paula disse que não é pouco mas muito cuspe. Ao cuspir, as lhamas emitem um barulho forte que, para os desavisados, soa assustador.

Um misto de indignação com celebração me invadiu por essa omissão e passatempo de muitos bolivianos: ver turistas serem vitimados com susto e cuspidas de lhamas. Ri tanto, mais tanto, que até chorei. Mas o alerta está registrado: turistas brasileiros, quando visitarem a Bolívia, mais especificamente as lhamas e verem um monte de chiquititos y chiquititas mirándote, lembrem-se do segredo boliviano.


André Coneglian
28/12/2006.

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Travalenguas

Paula ensinou-me este travalíngua:

Trepa la catatrepa y trepan los tres catatrepitos. Mas precisa ser dito depressa, repetidas vezes, claro, sem travar a língua.

Quis saber o que eram catatrepas. Pelas explicações recebidas, me pareceram insetos como a taturana que conhecemos por aqui.

Aliás, os primeiros relatos de Paula sobre insetos típicos da Bolívia, foram sobre as assustadoras chulupacas, uma barata gigante, com uns 15 centímetros de comprimento, que além do tamanho, voa. As chulupacas voadoras morrem ao chocarem-se com cabeças de pessoas que têm o azar de estar em seu caminho.

Está nos planos de Paula trazer para o Brasil uma chulupaca fêmea e outra chulupaca macho para terem muitos chulupaquitos por aqui.

Atenção fronteiras brasileiras com a Bolívia: não permitam a passagem do casal de chulupacas, para a segurança de nossas cabeças!
(Leiam esta matéria que encontrei sobre insetos típicos da Bolívia; acabo de descobrir que as chulupacas picam - Paula escondeu este detalhe!
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Casa da Borracha

Em minha cidade há um local chamado Casa da Borracha, uma loja ampla que vende uma variedade de produtos de borracha como mangueira para jardins e botas, como também outros tipos de materiais como espuma e isopor.

Quando era criança precisei ir até a Casa da Borracha comprar uma bola de isopor para a confecção de um palhacinho, que aprendemos na escola.

Borracha, material retirado da seringueira. Borracha, companheira escolar, preciosíssimo seu valor e função.

Casa da Borracha! Mas ontem, este título ganhou outra conotação, muito, mais muito engraçada. Era noite; estávamos dentro do carro, esperando o sinal abrir, em frente à Casa da Borracha; portas fechadas, mas bem visível o seu nome: Casa da Borracha.

Eis que a minha amiga boliviana diz:

- Suena muy divertido para mi este nombre Casa da Borracha... algo como “Casa da Bébida” – ela quis dizer bêbada.

Explodi em gargalhadas: Casa da Borracha, Casa da Bêbada.

O mais difícil será passar em frente à Casa da Borracha e segurar o riso. Ao me verem rindo sozinho, poderão pensar: “deve estar borracho este muchacho!”.

André Coneglian
28/12/2006.
(os primeiros... por que haverão muitos outros registros de situações e diálogos inusitados!)

sexta-feira, dezembro 22, 2006

A Surdolândia

Era uma vez uma terra chamada Surdolândia. As pessoas que lá viviam comunicavam-se com as mãos. Falavam com os braços, mãos e dedos em movimentos rápidos ou lentos somados às expressões faciais e corporais.

Não sabiam falar com a voz, afinal não precisavam dela; entendiam-se perfeitamente bem com as mãos. Claro que tinham pregas vocais e os moradores da Surdolândia contavam e recontavam “lendas” para as gerações mais novas, de épocas em que seus ancestrais eram forçados a vibrar “um músculo bem aqui, oh!” – e apontavam para o pescoço.

As crianças ficavam admiradas e espantadas. Secretamente, longe dos adultos, forçavam a garganta para saber se acontecia algo. Em vão! Riam das “caras&bocas” provocadas por tanto esforço. O esforço era em vão, não porque não saia som... Afinal, estavam na Surdolândia!

Essas e outras histórias antigas, como, por exemplo: a de aparelhos estranhos pendurados nos ouvidos; aliás, os ouvidos, na Surdolândia, são chamados de sustentadores (substantivo perfeito para a função que desempenhavam para aquele povo: sustentavam óculos, brincos e outros acessórios estéticos), não aparelhos esdrúxulos como descreviam os mais velhos.

“Diziam que ajudavam na hora de mexer a garganta”! – as crianças ficavam mais espantadas e intrigadas, imaginando que relação haveria entre os sustentadores e a garganta.

As mãos eram muito preciosas na Surdolândia; estavam estampadas até na bandeira nacional, lindas e maravilhosas mãos, orgulho para os cidadãos de Surdolândia. Algumas estrofes do Hino Nacional, “entoado” com as mãos, também exaltavam a destra e a canhota, este par habilidoso. Por falar em lateralidade, quase 90% da população era composta de canhotos. Na língua de sinais, há a predominância de uma das mãos, mas para os próprios sinalizadores ser destro ou canhoto era um simples detalhe, quase imperceptível.

Existia TV na Surdolândia, toda programação era em língua de sinais. Programas sobre cuidados com as mãos era uma constante. Havia um rádio. No museu. Mais uma peça intrigante do passado para as novas gerações de surdos. Por ser um objeto raro, este único rádio era avaliado em torno de 100.000 LIBRAS[1]. Os jornais, livros e demais registros impressos eram em “sinal-escrito”, muito parecido com ideogramas. As crianças, em fase inicial de escolarização, logo aprendiam o “sinal-escrito”, não porque era uma transposição direta da língua de sinais, mas porque seus professores exploravam precocemente a função social da leitura e da escrita.

Surdolândia estava prestes a descobrir algo surpreendente. Era cada vez mais comum, pais relatarem que seus filhos assustavam quando algo caía próximo a eles. Esta reação era raríssima em Surdolândia, por tanto, os pais que a percebiam, não davam atenção. Porém, o fenômeno do susto com objetos ou outros eventos não sabidos ainda, tornaram-se recorrentes.

O caso mais espantoso foi dos gêmeos. Os pais descobriram a anomalia quando uma panela caiu e os dois começaram a chorar. Pior, ao ver panelas, começam a piscar e retrair os ombros como esperando novamente o susto. Decorrido alguns meses, os pais dos gêmeos passaram a perceber uma forma de interação entre as crianças que não utilizava as mãos. Estavam apavorados!

Foi então que um estrangeiro vindo de terras bem distantes, o qual não se comunicava com as mãos, desestabilizou a paz em Surdolândia... Anos depois à sua chegada, o pequeno país passou a ter jovens e crianças que se comunicavam sem as mãos, influenciados pelo forasteiro.

As autoridades não sabiam que atitude tomar. Não viam benefício e sentido naquela forma de comunicação, mas cientistas já apontavam a possibilidade de alguma anomalia bio-fisiológica de alguns jovens e crianças, pois não eram todos que conseguiam êxito. Levantavam hipóteses sobre a ligação entre os sustentadores e a garganta ser real, embora, não entendiam como os sustentadores funcionavam sem os lendários e esdrúxulos aparelhos! Alguns médicos já tinham a convicção que as crianças que levavam sustos com objetos que caíam, em 99% passaram a se comunicar como o forasteiro. Ainda que não deixassem de usar a língua de sinais.

“Pais, mestres e digníssimos cidadãos surdolenses. Cuidemos de nossas crianças para que nunca deixem de sinalizar. Não sabemos os malefícios dessa comunicação “quieta”, “estática”, sem vida, que não usam os preciosos e ricos movimentos das mãos. Não podemos permitir que o símbolo de nossa nação – as mãos e o poder que possuem de significar o mundo, seja prejudicado por influências estrangeiras.” – pronunciou em rede nacional, o presidente da Surdolândia, o qual foi ovacionado por milhares e milhares de palmas, braços levantados ao céu, mãos e dedos movimentados pra lá e pra cá, numa “dança” sincronizada.

Fim

André Coneglian
dezembro de 2006.

[1] Não resisti ao trocadilho, ou melhor, à semelhança entre a sigla da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e a moeda inglesa, Libras Esterlinas, comumente confundia aqui no Brasil.

terça-feira, outubro 31, 2006

Equilíbrio by Cecília Meireles

Escrita em 1932, concordo em gênero, número e grau com esta doce e frágil figura, mas de espírito e palavras seguras e fortes. Recomendo a leitura na integra de "Crônicas de Educação", volumes I, II e III. Todos deveriam ler, mas principalmente aqueles que têem contato com crianças ou que, de alguma forma atuam como educadores. É de arrepiar, cada uma das crônicas! Por enquanto, aproveitem esta...

"Não há nada mais triste no mundo que o vôo do espírito detido pelo peso das necessidades. As obrigações que o homem criou para si mesmo, no sistema de vida que os séculos superpuseram à vida espontânea, começaram por ser uma disciplina de relações mútuas, mas acabaram por uma tortura de prisões múltiplas, diferentes umas das outras para tornarem ainda maior o sofrimento.

O homem tendo que atender a tantas coisas que inventou, secretamente pergunta a si mesmo se valeria a pena tê-las inventado, para assim limitar sua liberdade, para assim ter de ficar como um operário vigilante junto a engrenagens que, ao menor descuido, o sacrificarão – sentindo, no entanto, que a vida verdadeira não é aquela posição atenta do dever, exaustivo, monótono, mesquinho, mas uma participação nesse sentimento total do universo, nessa gravitação geral em que os acontecimento libertam seus ritmos na plenitude de seu poder de realização.
Ao lado dos seus mais profundos e generosos impulsos de sociabilidade, o homem parece continuar a ser uma força individualista, que em sua própria concentração prepara a riqueza que, em seguida, poderá converter em favor coletivo. Não pode dar quem nada tem. E para ter é necessário adquirir, produzir, acumular, multiplicar: o rendimento se verificará depois, como a própria continuação desse processo de enriquecimento humano, que, atingida uma grandeza que o emancipe, logo se põe a transbordar.

Talvez não seja difícil encontrar-se justamente nos que mais apelam para uma civilização feita conjuntamente, e igualmente distribuída pelos homens todos, esse processo contra o desvirtuamento da capacidade de cada um; contra a limitação de seu destino, por fatalidades detestáveis: contra a incompletação de desenvolvimento, que obrigou, criaturas normais como muitas outras, a precipitarem numa formação medíocre, dando-lhes para sempre esse gosto inexato, e essa aparência castigada dos frutos amadurecidos à força.

Continuam, pois, os ideais individualistas governando a ação mais avançada dos homens. O que se pode dizer é que esse individualismo perdeu a estreiteza com que antes o consagravam: não é mais uma forma luxuosa de viver, para uso apenas de alguns, confinados num mundo pretensioso, inútil e falso. Esse tipo de individualismo estéril não foi, afinal, o dos grandes individualistas de todos os tempos que, seguindo aquela marcha de enriquecimento próprio a que acima nos referimos, foram sempre os mais humanos dos homens, sendo, por isso mesmo, os que, no quadro medíocre da vida, poderiam parecer mais sobre-humanos.

Infelizmente, as palavras têm o amargo destino de, às vezes, comprometerem os pensamentos. Pelo ódio a palavras desfiguradas ou mal compreendidas, tem-se visto perseguirem-se as aspirações que elas definiam tanto quanto os homens que as pronunciavam. Há uma injustiça largamente esparsa pela terra, uma obstinada incompreensão que bem poderia ser responsabilizada por estas demoras de evolução, - se acaso - e sem menor fatalismo – não vai nisto tudo um ritmo necessário, média das possibilidades humanas vencendo os tempos.

Uma coisa, porém, isenta de todas as dúvidas é o sonho de acelerar o progresso humano. Sonho vago, enquanto não se determina – e quando poderá isso ser feito? e por quem? – o que ao certo caracteriza definitivamente esse progresso.

De qualquer modo, parece que não se trata de obra a encaminhar por uma só direção e num único sentido. Será para abranger o mundo, mas para não perder de vista o homem, que o constitui. Para se divulgar largamente, mas sem se dissolver nessa grande divulgação, conservando sempre vivos os núcleos em que se elabora, por uma força espontânea e decisiva, a plenitude ardente que é, afinal, a garantia de uma constante irradiação.

O mundo é complicado e os homens se desentendem tão facilmente quanto seriam capazes de se entender. Mas o que importa é que se faça uma libertação destas necessidades obrigatórias em que a existência se mecaniza, esquecendo-se de que é vida, ou lembrando-se disso com angústia.
A educação pretende hoje realizar esse equilíbrio. Todas as criaturas deviam empenhar-se em ajudá-la, sabendo que trabalham no seu próprio interesse, ao mesmo tempo, no interesse humano, em geral."

Cecília Meireles
[Rio de Janeiro, Diário de Notícias, 30 de outubro de 1932]
In.: Crônicas de Educação, 1. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Fundação Biblioteca Nacional, 2001. p. 55-57.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Café da Tarde


Numa dessas tardes, pensamentos a mil por hora, reservei-me o direito de desviar a atenção para o momento que vivia, debruçar os olhos nos elementos à minha volta e aos meus movimentos.

Sentado à mesa na cozinha, estendi o pano de prato para fazer a vez de toalha, peguei a garrafa térmica com café, feito pela manhã por meu pai, também o pacote com biscoito de água e sal e o pote de margarina.

Lá fora, uma tarde molhada; não havia poucos minutos, a chuva cessara e o sol, timidamente iluminava. Observar e absorver esta cena remontou em minha mente flashes da minha infância. Aquele lugar no tempo em que não importa o quão difícil fora as circunstâncias da vida, a sofrida descoberta do mundo e das pessoas que nele habitam, será sempre recordado como o melhor tempo. Tempo de não se preocupar com dinheiro, com avaliação, trabalho e outras responsabilidades de adulto. Tempo de ir à escola, esperar ansiosamente pela batida do sinal e ir ao encontro da mãe que já esperava no lado de fora. Tempo de brincar na rua: balança caixão, esconde-esconde, queima, conversar bobeiras e travar discussões com os amigos.

Gosto daquele tempo em que não era tão consciente desse movimento chamado vida, quando apenas me movimentava...

Mas nessa tarde, essa tarde molhada na mesa do café, senti uma felicidade imensa por valorizar esse momento, à primeira vista, tão corriqueiro. Pegar um biscoito de água e sal, com a faca passar generosamente a margarina e cobri-la com outro biscoito. E brincar com elas antes de morder, assim, comprimindo-as para ver nascer as minhoquinhas de margarina pelos orifícios, tão certinhas, as minhocas...

Manchar os lábios com estas minhoquinhas, agora desfeitas e embeber a mistura de biscoito e margarina com café morno, quase frio.

Para mim, foi gratificante olhar e pensar sobre cada um desses movimentos... Que vontade de convidar alguém para fazer parte dessa hora e compartilhar esses meus pensamentos... ”Aceite esses minutos de café da tarde com biscoito de água e sal, com margarina e café... Oh, mas, por favor, aceite também este que vos convida, minhas qualidades e meus defeitos. Mesmo sendo previsível em muitos dos meus atos, aceite minhas prováveis imprevisões. Conhecendo minha calmaria externa, não se assuste com a minha tempestade interna, que às vezes, incontrolável, traspassa essa fina carcaça”.

Mais importante que a gratuidade da infância, do tempo sempre bom de ser lembrado, quero aprender o esquecido e inutilizado exercício do diálogo, e viver o hoje, o agora. Usar o bálsamo do perdão, derramar sobre mim o óleo da alegria, refletir no olhar, no agir e no falar, o meu doce Jesus.

Será Ele o convidado para o meu café da tarde? Para aceitar-me assim, como sou... e pacientemente conduzir-me a um estado de estar e ser melhor do que este em que estou e sou?! Ah, obrigado meu Senhor, meu Salvador, meu Amigo, por aceitar tão humilde café...


André Luís
Escrita em: 28/11/2003
Até pensei em escrever um comentário atual a respeito desta crônica, escrita há quase três anos... Decidi que o melhor é não fazê-lo. A perenidade do escrito não precisa estar suscetível à minha instabilidade.

domingo, agosto 20, 2006

Nárnia em São Paulo


Foi assim que tudo aconteceu...

Sou uma pessoa que adora ouvir histórias: datas passadas, situações ocorridas, pessoas envolvidas e os lugares-palcos de todo o desenrolar narrativo... Tentarei não divagar e florear este pequeno relato, pois só pela primeira oração eu queria escrever sobre a minha avozinha que gostava de contar histórias – verídicas, de seus familiares e eu adorava ouvir. Quem sabe em outra ocasião escreverei mais a respeito da “vó Linda”!

Preciso situar meus leitores com algumas informações prévias para, enfim, explicar como passei a ser um cidadão de Nárnia.

Para quem não conhece – como eu não conhecia, “As Crônicas de Nárnia” é de autoria de C. S. Lewis. Ainda que eu tenha lido ou ouvido este nome e trechos de algumas obras em outros contextos, ouvir o nome de C. S. Lewis levava-me a associar ao nome da Charlene Lemos, grande amiga, bibliotecária, fãzérrima de C. S. Lewis; a mesma associação, logo após o nome da Charlene, vem o nome da Débora Correia, grande amiga também, pedagoga, que é fã de C. S. Lewis – se por influência da Charlene ou se o era antes, preciso perguntar. Tão logo estas palavras sejam lidas, essas minhas leitoras e incentivadoras me esclarecerão.

Por influência da Charlene e Débora então, eu sou, não digo fãzérrimo, mas um curioso e interessado nas obras de C. S. Lewis. Comecei a ler “Cartas do Inferno”, mas só comecei!

“Crônicas de Nárnia” ganhou notoriedade na mídia por causa da adaptação de uma das partes do livro para o cinema, “O leão, a feiticeira e o guarda-roupa”. Era uma tarde quando fui ao cinema ver o filme. Foi mágico, encantador: as imagens são marcantes, o enredo, as personagens...

Quase comprei o livro “As crônicas de Nárnia” pela internet, mas não deu certo. A Charlene e a Débora têm. Em São Paulo tive a oportunidade de iniciar a leitura no livro da Débora. Entre os horários de passeio turístico por São Paulo e muitos outros afazeres e atividades, lá estava eu com o grande volume aberto; é como se ao abrir o livro irradiasse uma luz que envolvia todo meu imaginário. Como uma iniciação; ao ler, é como passasse a fazer parte de toda aquele enredo. Li toda a primeira parte do livro em São Paulo, afinal o livro não era meu e aqui em Marília, não conheço ninguém que o possua.

Estação da Luz, Mercado Municipal (o sanduíche de mortadela com pão, nesta ordem mesmo), Rua 25 de março, Torre do Prédio do Banespa, Praça e Catedral da Sé, Rua Conde de Sarzedas, Museu da Língua Portuguesa, Shopping Tatuapé, Estações de Metrô, de Trem, ônibus, lotações, Igreja Batista da Penha. A Maior parte eu li sobre a cama ou sentado no sofá da sala, mas no último dia eu o levei no passeio. Primeira parada: consultório odontológico, a amiga Débora foi colocar o aparelho. Na sala de espera, eu estava em outro plano, bem distante, uma viagem indescritível.

No trem com destino ao Terminal Barra Funda para comprar minha passagem de volta para casa, enquanto a amiga Débora lia a revista Isto É (uma matéria marcante que também li, sobre psicopatas/sociopatas), eu continuava a viajar pelos mundos fantásticos e mirabolantes criados por C. S. Lewis. É fascinante a descrição da criação de Nárnia, de uma poesia e delicadeza profundas.

Nesta primeira parte do livro descobri, por exemplo, como foi criado o guarda-roupa que dá título ao filme baseado na 3ª parte.

Era sábado, 22/07, o dia seguinte, dia do regresso. Adeus amigos, adeus São Paulo, adeus Nárnia! Não estou agüentando de curiosidade. Não vejo a hora de escrever: “Nárnia em Marília”!

Até lá, espero que seja em breve!

Nota: Se não conheciam “Crônicas de Nárnia – o livro”, ou ainda, C. S. Lewis, como eu não conhecia, leiam! E como eu os associo à Charlene e Débora, vocês o associarão a este pequeno relato.

André Coneglian
13/08/2006.

sábado, agosto 12, 2006

“Crucialidade”

Não sei se a palavra existe na lista de vocábulos da língua portuguesa, mas é uma extensão da palavra crucial; utilizarei a palavra do título para fazer referência a toda situação na qual vivemos atualmente, no 5º ano do século 21, particularmente a crucialidade da minha vida.
As palavras são, em última instância, nossos únicos e verdadeiros bens, principalmente as palavras escritas, registradas para a posteridade, diferentemente das faladas que se perdem com o vento. Mas elas também são tentativas de ordenamento do eu interior de cada um, e mesmo quando usadas para expressar algo do mundo exterior, necessariamente passam pela individualidade, pela idiossincrasia daquele que escreve – ou fala. E como aprendi recentemente, nossos discursos, todos eles, são tentativas de imposição, mesmo aqueles que, pretensamente dizem-se neutros ou ainda, uma visão particular, que não precisa, nem deve ser generalizada ou aceita por todos.
Este meu discurso atual é particular, não precisam concordar, as idéias nele contidas não desaparecerão simplesmente por discordância. (Será que impus sutilmente o meu atual discurso?).
Pois bem, concordam todos que, superadas perguntas como “de onde vim?”, “para onde vou?”, estarmos vivos é FATO?! Friamente analisando, somos duas datas: a que nos inaugurou a chegada na Terra e a que demarca nosso fim terrestre. O que preenche o intervalo entre uma data e outra, podemos chamar de distrações, hobbies, ou dar nomes mais sérios como ocupações, orientadas por um projeto de vida, etecetera e tal.
Dê-se o nome que quiser, se não existissem tais distrações ou ocupações, não faria sentido nenhum existir, estar, morar, viver no planeta Terra.
Mas a existência humana não é mero acaso, não é resultado de uma explosão e processo de uma evolução das espécies; existe um criador, existe um manual. Aceitem ou não! Mesmo na condição de criaturas, não somos robôs, manipulados ao bel prazer do criador. Foi pré-estabelecida uma ordem, simples até. Ou é assim ou assado! Ou é isto ou aquilo! É pau ou pedra! Por aqui ou por ali! Entenderam a idéia, não é mesmo?!
As escolhas foram feitas. Não podemos nos esquecer que temos um opositor, que nesta dinâmica toda, também fez suas escolhas e como tudo foi pré-estabelecido (lembram-se?!), o fim deste opositor também. Até lá, ele e seus seguidores têm muito o quê fazer.
Aceite a humanidade ou não, é fato: tal e qual a Bíblia diz, assim aconteceu, acontece e acontecerá! Mesmo que não tenhamos sido nós que, originalmente desobedecemos ao criador, nascemos na ordem pré-estabelecida. É fato! Aceitar o sacrifico salvífico de Jesus para se reconciliar com Deus, e ter a oportunidade de passar a eternidade diante d’Ele. Do contrário, o outro lugar, a outra opção é juntamente com o nosso opositor e seus seguidores, no lago de enxofre, onde haverá choro e ranger de dentes.
Para a humanidade, que se especializou em criar, inventar e propor distrações, muitas de caráter sério e até mesmo de importância para a coletividade, está cada vez mais difícil acreditar nesta obviedade. Tão simples contada assim!
Num vou me esquecer. Entre muitos cultos de ensino da Palavra de Deus que estive presente, o pastor disse: “Israel é o relógio de Deus na face da Terra! Fiquem atentos; tudo o que ocorrer ali, está em consonância com o que já foi escrito na Bíblia!”. É óbvio também, mas para aqueles que querem realmente entender.
A crucialidade do mundo a qual me referi no início deste texto é esta: caminhamos para o fim, The End! Sem pavor, sem sensacionalismo, sem qualquer outra pretensão escrevo isso.
Agora, a crucialidade individual, pessoal é: eu entendo tudo isso que escrevi acima, aceito e acredito que assim foi, é e será. Simplesmente não entendo o PORQUÊ! “Para glorificarmos e adorarmos a Deus!”. Sim, eu já entendi esta parte também, muito bem explicada, por sinal, no livro “Uma Vida com Propósitos”, de Rick Warren.
A questão de estar vivo é tão séria, compreendida nesta ordem pré-estabelecida a qual citei acima que: quem não estiver com Cristo, passará a eternidade toda no lago de enxofre, onde haverá choro e ranger de dentes. Mesmo esforçando-me para estar com Cristo e obedecendo a Bíblia em proclamar a todos quantos puder esta verdade, para estarem a eternidade no céu, não entendendo que uma grande e maciça parte de todos os seres humanos que já existiram e daqueles que estão vivos, não estarão a eternidade com Cristo. Sei que faço toda esta colocação com base na minha mente e conhecimentos limitados e, reconheço que não compete a mim, fazer tais perguntas, muito menos buscar entendimento.
Comparativamente, serão muitos os que ficaram de fora, do lado esquerdo, no acerto final. A corrida daqueles que têm o entendimento da Palavra de Deus é estar no lado direito, receber de Jesus as doces palavras “servo bom e fiel”, encontrar Moisés, Elias, José do Egito, Maria, João, Paulo... e, imaginando um céu totalmente diferente do que apresentado por Dante Alighieri – será que foi ele mesmo? Não sei ao certo, um autor que em sua obra apresentou o que imaginava ser o céu e o inferno. Imaginem o que é mais convidativo, alegre e exuberante, não é mesmo?! Segundo aprendi neste último domingo de culto, seremos surpreendidos constantemente no céu, não será monótono estar lá! Como não haverá choro, nem dor, nem tristeza, não teremos lembrança daqueles que tivemos como familiares e amigos enquanto vivemos na Terra.
Será que os que passarão a eternidade no lago de enxofre terão consciência do que abriram mão?!
A Bíblia diz que Deus é sempiterno, ou seja, não teve início, não terá fim. Ele é o criador de todo o UNIVERSO. Sinceramente digo que Ele não precisava da terra, da humanidade e de todo este enredo para ser MAIS DEUS. Ainda que eu não esteja desmerecendo em nada tudo que Ele criou e planejou, fico me perguntando o que justificaria todos os milhares de almas que existiram naquele período entre as duas datas, apenas se divertindo com aquilo que cada época lhes ofereceram, que negaram qualquer aproximação com o Criador, com o que os profetas disseram, com o que os discípulos, a Bíblia e a Igreja Verdadeira de Cristo ensinaram e proclamaram?!
Senhor, não tive segundas, terceiras ou quartas intenções ao escrever e registrar tais idéias e pensamentos. Eles me consomem atualmente, é a crucialidade na qual me encontro. E sei que não sou digno de qualquer resposta, principalmente pelos constantes desacertos e carnalidade destes últimos meses...
Ilusoriamente, ao escrever, é como se domasse, ainda que por instantes, os leões que procuram me devorar!
André Coneglian

post scriptum (18/03/2021, ou seja, 16 anos depois): muitos questionamentos aqui relatados no texto ficaram guardados por longo período e voltaram com força total. A diferença é que não tenho mais medo deles! Os leões não me assustam mais. Tbm deixei de acreditar em muitas coisas, só porque me ensinaram daquele jeito e tem que ser daquele jeito e ponto final. Não sou obrigado a acreditar... uma mentira contada como verdade, muitas vezes, repetidamente como verdade, "torna-se" verdade, mas não é A Verdade!

quarta-feira, agosto 02, 2006

De Marília só sai coisa boa!


De Marília só sai coisa boa! Como bom mariliense, este bordão faz parte do meu discurso quando na presença de amigos e conhecidos de outras localidades quando faço referências às tais coisas boas (no plural mesmo); ou quando estou em outra localidade, como estive recentemente na capital do Estado.

Marília está localizada há 443 Km da capital paulista, mais precisamente no centro-oeste paulista; emancipada em 04 de abril de 1929, cujo nome foi inspirado na obra “Marília de Dirceu” de Tomás Antônio Gonzaga.

Sou mariliense desde 15 de janeiro de 1981; morei fora da cidade por um ano apenas, quando bebê; meus pais moraram por este período no interior do estado do Paraná, experiência, aliás, nada agradável de ser lembrada por eles; recém-casados, com um bebê, tiveram a casa toda roubada.

Marília, por comportar três universidades e uma faculdade de medicina, recebe anualmente muitos estudantes de praticamente todas as regiões brasileiras. Como me graduei em uma dessas universidades, tive contato com muitos desses estudantes e acompanhei a dificuldade de adaptação que enfrentam.

- E você, de onde é?

- Sou mariliense, nascido e crescido aqui (e bem crescido - 1,89m)! – respondia.

Pois então, vou listar as coisas boas e porque não, excelentes que saem de Marília, ou seja, nascem aqui e se expandem, ganham visibilidade, notoriedade.

O Banco Brasileiro de Desconto, mais conhecido como BRADESCO, teve a sua agência 01 em terras marilienses, algum tempo depois transferiu a agência para Osasco; na Avenida Sampaio Vidal de Marília temos a agência 02 agora!

A TAM, antes de ser a Transportes Aéreos do Mercosul, significou originalmente Transportes Aéreos de Marília.

A Marilan Alimentos S/A, que hoje é a 3ª empresa no Ramo Alimentício Nacional, começou humildemente como uma pequena padaria, e ainda, orgulhosamente mantém seu moderno pólo industrial na cidade – diga-se de passagem, a 15 minutos a pé da minha residência.

A Sassazaki Portas e Janelas também nasceu e cresceu aqui em Marília. Ainda me lembro, quando menino, dois tios maternos eram funcionários quando a fábrica ainda estava instalada próxima ao Terminal Urbano da cidade. Hoje ela está localizada na Avenida Eugênio Coneglian – ascendente da minha família paterna.

A máquina fotográfica de 360º foi inventada em Marília. Seu inventor, o fotógrafo Sebastião Carvalho Leme, como descobri recentemente, não é mariliense e atualmente reside em São Paulo. “Não importa – retruquei – a máquina foi inventada aqui!”.

Listei estas empresas e nomes clássicos quando estive em São Paulo, onde fui muito bem recebido por minha amiga Débora e sua irmã, Gislene. Um dia, a televisão noticia o julgamento de Susane fulana de tal e dos irmãozinhos – fato repugnante, necessário ser dito – mas, o promotor do caso, Nadir de Campos Júnior é de Marília. Conheço a irmã dele; o sobrinho estudou na escolinha onde fui estagiário.

- Ele é de Marília! – gritei para a Gislene.

- Ah não! Quer dizer agora que todo mundo é de Marília. – respondeu ela.

- Mas é verdade, o que posso fazer!

Bem, a modéstia me segura a não dizer o óbvio: André Coneglian é de Marília também, hehehehe! Brincadeiras à parte – e mesmo que eu seja adepto à teoria de que “toda brincadeira tem um fundo de verdade” – não me julgo à altura para merecer qualquer menção em lista de cacife tão elevado.

Marília tem seu lado podre também e como tem! Falo de politiqueiros, baderneiros e outras pessoas, que ficam conhecidas por ações escusas, reprováveis e abomináveis. Como não edificaria em nada citar nomes e/ou situações deste lado negro, encerro meu patriotismo local por aqui.

Ah, Marília está na TV Tem, também! – apesar de não me simpatizar com tal emissora local da Rede Globo.
Obs.: Estes são alguns links interessantes relacionados à história da cidade e empresas citadas acima. Visitem, principalmente a página oficial da prefeitura da cidade no link sobre a História e Curiosidades.

Site da Prefeitura <http://www.marilia.sp.gov.br/prefeitura/index.html>
Site da Marilan Alimentos S/A <http://www.marilan.com/frontend-marilan/html/institucional/IN_historia.asp?nivel1=1#Top>
História do BRADESCO pela Wikipédia <http://pt.wikipedia.org/wiki/Bradesco>
História da TAM pela Wikipédia <http://pt.wikipedia.org/wiki/TAM_Linhas_Aéreas>

Site da Sasazaki <http://www.sasazaki.com.br/empresa.html>

Inventor da Máquina 360º <http://www.fotoemfoco.art.br/historia.htm>

As fotos estão no site da Yes Marília. Visitem também: http://www.yesmarilia.com.br/index2.php?pag=principal


André Coneglian

Toda casa tem seus segredos

A casa de uma grande amiga foi para mim, em nove dias de férias, um abrigo aconchegante neste mês que se finda. Há 450 KM longe da minha cidade natal. Pois então vou contar três segredos – os três mais perceptíveis, que a casa desta amiga me apresentou:

1- Para tomar banho, o chuveiro precisa estar desligado (no frio); após aberto, muda-se a chave para o quente. Nestes dias era preciso água bem quente, “afinal, não podemos nos esquecer que estamos no mês de julho” – eu dizia. Antes de fechar, era preciso mudar a chave do chuveiro para o estado inicial, ou seja, para o frio. “Abre no frio, muda para o quente; depois muda para o frio sem fechar”.

“E se eu me esquecer desta ordem, o que acontece?” – perguntei para sondar a importância de memorizar a ordem lógica da seqüência liga-delisga; “A resistência continua a esquentar, mesmo com o chuveiro fechado, até explodir” – ela respondeu. Um ritual diário. Um banho metódico. Abre no frio, muda para o quente – frio novamente, fecha o chuveiro.

O 2º e 3º segredos dizem respeito a chaves e fechaduras. Básico: qualquer casa que tem segredos, chaves e fechaduras fazem parte deles. O portão da frente só pode ser fechado e aberto pelo lado de dentro. Se estiver do lado de fora, coloca-se a mão do lado de dentro, roda a chave para o lado conveniente – direito para trancar, esquerdo para abrir. Metódico também.

Não perguntei o que aconteceria se tentasse abrir (ou fechar) o portão do lado de fora. Quebrar a chave, a fechadura? Ou simplesmente, não abrir (ou fechar) o portão. Explodir não explodiria, com certeza (pelo menos, acho que não).

O 3º segredo é o cadeado da lavanderia. Não poderia ser fechado, pois a chave estava em lugar não-sabido. Um dia, saímos logo pela manhã e sem pensar, minha amiga fechou o cadeado. A tarde, sua irmã queria estender a roupa que estava na máquina e não podia entrar.

Tentamos todos, eu, a amiga, a irmã da amiga e outro amigo da amiga, arrombar o cadeado. Até quebrei um pequeno martelo na tentativa, mas o amigo da amiga conseguiu abrir. Ufa! Roupa estendida no varal.

Passar por esta experiência, vivenciar nove dias em outra residência, com outra rotina, fez-me pensar sobre os segredos da minha própria casa. Pareciam não existir, mas na verdade eles estão arraigados nesta rotina, comumente realizada... Difícil nomear os segredos da minha própria casa agora, mas eles existem.

Quais são os segredos da sua casa, hã?

André Coneglian

sexta-feira, julho 07, 2006

Sobre ser Triste

Quando Shakespeare escreveu a tão conhecida frase “To be or not to be”, dita por Hamlet, para nós falantes da Língua Portuguesa é inconcebível que um único verbo abarque o ser e o estar. É tão óbvio e oposto um estado do outro, um permanente (ser) e outro temporário (estar). Mas a questão que quero suscitar aqui não é tão filosófica quanto esta; apenas para situar o verbo “ser” do título acima. E ele não tem nada haver com o verbo “estar”, não poderia ser aleatória ou automaticamente traduzido para o Inglês como “About to be sad”.

Ainda é necessário situar de que tristeza escrevo; sem sombras de dúvidas não é essa tristeza popularmente conhecida, negada, mal-vista, indesejada por todos. Não é! Também não é a tristeza que o apóstolo Paulo descreveu em sua 2ª Carta aos Coríntios (7:10): “Porque a tristeza segundo Deus produz arrependimento para a salvação, que a ninguém traz pesar; mas a tristeza do mundo produz morte” – se já ultrapassei este nível de tristeza ou ainda não atingi... depende do ponto de vista.

Numa leitura agradável encontrei: “Sábio é receber a tristeza, permitir-se ficar triste, mas junto buscar compreender o que o deixa assim. Elaborar a tristeza é diferente de nega-la (alienando-se). Sentir-se triste não é deixar de ser feliz [...] É fundamental desenvolver o contato com a tristeza, refletindo sobre o que ela diz. É impossível passar com serenidade de uma tristeza a uma alegria sem uma profunda reflexão sobre o motivo de estar-se triste”[1].

Já situei a questão do ser e estar. O título diz respeito a minha condição pessoal. Reconhecer-me e confessar-me triste não é um pecado, uma derrota, um fracasso para mim, mesmo porque ser triste não significa que não possa ser alegre. Como reconheceu e escreveu Cecília Meireles sobre a morte e a solidão, que a todos os mortais apavora, enquanto a ela, foram combustíveis para belíssimas e fecundas obras. Não que ela tenha cultivado ou buscado a ambas, morte e solidão. Nossas vidas são (estão?) aquilo que fizemos (e fazemos) com os fatos que preenchem o primeiro fato de todos, que é estar vivo.

Meu pai relembra nostalgicamente de um dia quando ele, minha mãe e minha avó paterna riam sobre algo; eu, bebê, senti'ndo prazer naquele som – as gargalhadas dos adultos, sorria – um espasmo facial infantil e depois gritava bem alto, na tentativa de imitar som tão agradável... Os adultos passaram a rir das tentativas do bebê em imitá-los, que por sua vez, insistia, por serem insistentes as gargalhadas dos mais velhos e os gritos aumentavam em força e intensidade. Sempre foi hilariante para mim, remontar no imaginário esta cena...

Devo ter cansado muito nesta tentativa temprana e pueril. Sorrir, gargalhar, levar os outros a se contagiarem com minhas risadas não foi (e não é) a minha aptidão, decididamente! Melancólico?! Talvez seja... e não tem nenhuma ligação direta com o gosto por Cecília Meireles, mais que melancólica, é sagaz e inteligente; um realismo cheio de lirismo e poesia inundam suas obras.

Tem haver com o crescimento, com a maturidade, que tem haver com a perda da inocência, que as pessoas são boas e más, quase sempre más, não porque queiram, mas porque assim é que garantem a sobrevivência em meio a tamanha selvageria que é um ciclo vicioso... Tem haver com o conhecimento: “o muito estudar é enfado da carne” (Eclesiastes 12:12b); seria menos triste o homem que ficou no mundo da caverna, que não atingiu, não conheceu a luz, sobre o qual escreveu Platão? Quanto mais pensamos ter galgado degraus no conhecimento, mais aumentamos a angústia e o tormento interno, não devia ter sabido isto, não devia ter descoberto aquilo... é o pago do homem adâmico por ter a pretensão de querer conhecer o bem e o mal.

Segundo a percepção e pensamento de uma grande amiga, devia ser muito feliz um sujeito surdo, analfabeto, sem os dentes e que sorria a todos e de tudo, pensava ela com seus botões e um dia compartilhou comigo. Parece tão sensata a ignorância, aquela de viver na superfície da existência, não aprofundar nos sub-mundos, bastidores, segredos, valores e mecanismos que regem a vida. Entendam que não culpo nem procuro culpados por ser triste... muito menos quero parecer auto-comiserado. Não escrevo sobre ser triste desejando ser feliz, também não quero ser fatalista. É apenas uma saudável constatação como apontou Alex Rocha.

O Pregador aconselhou: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração” (Eclesiastes 7:2).

[1] Alex Rocha, psicólogo, citado por Esther Carrenho, no livro “Raiva: seu bem, seu mal”. São Paulo: Editora Vida, p. 34.

Cri-ativ-idade

“Para escrever um verso que seja, há que ter visto muitas cidades, muitos homens e muitas coisas; há de conhecer os animais, há que ter sentido o vôo dos pássaros e saber que movimentos fazem as flores ao abrirem-se de manhã, leves, brancas e adormecidas, voltando a fechar. Há que ter recordações de muitas noites de amor, todas diferentes, de gritos de mulheres com dor de parto e de parturientes. E ter estado junto a moribundos, e ao lado de um morto, com a janela aberta, pela qual chegavam, de vez em quando, os ruídos do exterior. E tampouco basta ter recordações. Há que saber esquece-las quando são muitas, e há que ter a imensa paciência de esperar que voltem. Porque as recordações não servem. Tem de converter-se em sangue, olhar, gesto; e quando já não tem nome, nem se distinguem de nós próprios, então pode acontecer que a certa altura, brote a primeira palavra de um verso.” (Rilke)

Este trecho possui uma longa história. O fio do novelo começa por José Antonio Marina, que o leu e o transcreveu em seu livro “Teoria da Inteligência Criadora”, Lisboa: Caminho, 1995. p. 216-7 (o qual ainda não li), juntamente com outro trecho de sua própria autoria, embasando, comentando o trecho de Rilke, reproduzido em outro livro, de três autoras, que escreveram sobre o ensino de arte. Assim, me faltam elementos, por exemplo: quem foi Rilke, por que José Antonio Marina o citou, que por sua vez, foi citado por Martins, Picosque e Guerra (as três autoras), num outro recorte; encaixa-se esta última escolha no objetivo das autoras de esboçar caminhos e possibilidades do ensino da arte.
Afinal, chamou-me a atenção o trecho de Rilke, assim como de José Antonio, pela essência criadora, poética, etc. Agora, existe a história do próprio livro, este único (apesar de existir milhares de outros exemplares iguais editados pela FTD, em 1998); falo deste único que toco, folheio, leio... Era julho de 2005, fui para um único final de semana em São Paulo; entre outras visitas, passeios e afazeres a Priscila Fernandes presenteou-me com um livro que já era dela, tanto que este possui, aqui e ali, carimbos de PRISCILA K MENDONÇA – Fonoaudióloga – CRFa xxxx –SP. E que ganhado, provocou emoções, sentimentos: o livro, o dar, o presentear, a intuição de que seria útil em algum momento... Empreendi uma leitura no ônibus voltando para casa, nos dias seguintes ainda, mas não prossegui.
Ontem, 22 de junho de 2006, peguei-o, enquanto aguardava o computador ligar altas horas da noite, início da madrugada. Abrindo na página 74, chamou-me a atenção a definição de leitura, trazida para o contexto da arte plástica: “Ler é produzir sentido. Lemos a cor vermelha em uma obra figurativa ou abstrata da mesma maneira que a cor vermelha do semáforo?”. Quase um ano após ganhar o livro, este trecho foi muito significativo devido ao momento específico que vivo. Escrever uma monografia para a disciplina “Aspectos técnicos e sociais da leitura no tempo e no espaço”, do programa de pós-graduação (mestrado). Retomei a leitura do trecho e prossegui em outros tópicos, hoje pela manhã (23/06/2006). Reencontrei autores como Gardner, que conheci depois de um seminário na graduação em pedagogia sobre inteligências múltiplas, citando outra obra, comparando os estágios de desenvolvimento psicológico proposto por Jean Piaget, Gardner mais preocupado com o desenvolvimento estético, artístico da criança.
Bem, já passa do meio-dia, estou no meu quarto, sentindo a fome chamar, com barulhos e movimentos traduzíveis por: “chega de fazer o que faz agora, está na hora de almoçar, por favor!”. Assim, todo livro, ou qualquer trecho, autores, idéias possuem outras histórias, enfim... Concluindo, Rilke está repleto de certeza! Concordo em gênero, numero e grau.

André Coneglian
23/06/2006
12h33m.

terça-feira, junho 27, 2006

"O outro é um ser em conflito, em permanente tensão com todas as vozes que o constituíram. O 'eu' está imerso no fluxo dessas contradições e se constitui com elas" (Maria Regina de Souza, in: "Que palavra que te falta?"

Agora sei porquê me considero uma "guerra civil" - desde que me conheço por gente, o conflito interno constante é realidade. Há treguás, há desespero, há esperança, há inércia... Como administrar um 'eu' que não é singular, único? Deve ser esse um dos passatempos aqui na Terra: embaixador e diplomata de si!

Só para escrever algumas palavras...

No momento, são elas que estão me dominando!

quarta-feira, abril 26, 2006

Pequenas e Grandes

Pequenas e grandes são as ilusões que nos impulsionam;
Pequenas e grandes são as distrações que nos movem;
Pequenas e grandes são as invenções nas quais acreditamos;

Pequenos e grandes somos conforme a qualidade das nossas pequenezas e grandezas...
Pequenos ou grandes somos dependendo da nossa capacidade em transformá-las todas:
ilusões, distrações e invenções em realidade!

O Pregador (em Eclesiastes) diz que tudo é vaidade.
Vaidade das vaidades!
Pois eu digo que tudo é ilusão, distração, invenção!

Nada neste mundo faz sentido se não formos criativos;
Por isso é preciso ser grande em tudo: nas ilusões, nas distrações, nas invenções;
Assim não haverá tempo hábil para pensar na pequenez de ser e estar...

“De tudo o que tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Eclesiastes, 12:13-14)

André Coneglian
Marília, 25 de abril de 2006.

sábado, abril 22, 2006

Que língua é esta? (III)

O assunto ganhou tamanha notoriedade que, devido à sua importância, decidiu-se realizar uma Assembléia Geral; geral mesmo, pois, rompendo as barreiras do tempo e espaço, da realidade e ficção, ilustres representantes marcaram presença.

O local escolhido foi a Terra do Nunca, por dois grandes motivos convincentes: 1º) Seria contraditório escolher qualquer cidade ou estado brasileiro para não alegarem preferências e, portanto, deturpar a decisão final sobre o assunto em questão. 2º) A Terra de Peter Pan não possui tempo cronológico; durasse uma hora, dez ou mil anos, a Terra do Nunca não acusaria a passagem temporal, afinal, a tarefa não é nada fácil!

O Capitão Gancho publicou uma nota à imprensa dizendo que não se intrometeria em assuntos brasileiros.

“Segundo o artigo 13, no capítulo III, da Constituição, a língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.” – nada mais a declarar, bradou um juiz.

“Sim, Excelentíssimo, mas temos também o amazonês, baianês, mato-grossensenês, mineirês, carioquês, catarinês, paulistanês, etc... é muito mais abrangente a diversidade lingüística em nosso país, que um único e simples idioma definido legalmente pelo papel” – argumentou um professor de Língua Portuguesa.

Personagens literários também tiveram o direito de manifestar-se.

Marcelo, Marmelo, Martelo (de Ruth Rocha) foi o primeiro:

- É uma incoerência. Devemos dar o nome correto às coisas. A língua portuguesa é a língua de Portugal. No Brasil, o idioma deve ser denominado “Brasileiro”, obviamente. Aproveitaremos para renomear muitas coisas com nomes sem sentido.

- Pois eu não canso de dizer que a nossa língua deve ser o Tupi Guarani; abandonemos de vez o colonialismo. – bradou calorosamente Policarpo Quaresma.

Muitos outros usufruíram do direito de falar, cada qual com vocabulário, de épocas e palavras diferentes, com sotaques e pronúncias peculiares...

- Gente, prestem atenção em mim – esperneou Emilia, a boneca de pano. – Vejam, até para discutirmos e discordarmos, nos entendemos muito bem. Celebremos a diversidade e a criatividade do fenômeno lingüístico-cultural: falemos, escrevamos, comuniquemo-nos e viva a língua do Brasil – ou dos Brasis...

A boneca multicolorida foi ovacionada por tão eloqüente contribuição. Todos se convenceram da inutilidade de discutir algo desta natureza.

- Mas, gente, porque vocês jogaram ovo na coitada da Emília... – externou a esposa de Caco Antíbes.

- Cala a boca, Magda! – bradou o mesmo.
André Coneglian
Abril de 2006.

sexta-feira, abril 21, 2006

Um ano e um mês...

Pois é. Era março de 2005 quando fiz minha primeira postagem neste blog. De lá para cá, aumentei o número das mesmas; só não são mais, justamente por falta de tempo, pois há muito o que postar! É uma pena... e também por não receber o retorno que gostaria. Como diria o sábio: "Faz parte!". Mas, nem por isso desanimarei. Leiam ou não, comentem ou não, continuarei postando. Faz parte sim, nesta era digital, tecnológica, todos estão com muitas janelas abertas, muitos links, precisam ver e procurar e pesquisar e xeretar muitas coisas ao mesmo tempo, assim como eu. Há muitos escritores, blogueiros; podem haver até leitores, mas raríssimos mesmo são os comentaristas. Sim, é um protesto... estou no meu direito. Abraços a todos meus amigos e leitores fiéis - eu digitei "leitores" e não comentaristas, viu - por dedução ou pequenas provas, descubro que eles existem!

Que língua é esta ? (II)

Legal e oficialmente esta pergunta tem uma resposta simples e objetiva: a Língua Portuguesa. Justificada historicamente pela colonização portuguesa em terras brasileiras que data mais de cinco séculos, assim como em outros países como Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Macau e Timor Leste.

Mas, uma língua é muito mais que dados e fatos; a língua não só identifica e constitui um povo como também a língua identifica e constitui o próprio individuo: nome, idéias e pensamentos exteriorizados e realizados através da língua.

A língua que falamos e escrevemos no Brasil é o Português-brasileiro. “Mas, não falamos o Brasileiro? Português é a língua de Portugal!” - já ouvi tal conclusão; tem lá sua razão de ser: falamos e escrevemos o português-brasileiro ou abrasileirado. Um Português tropical, verde-amarelo, tupiniquim.

Mas, ainda é uma conclusão incompleta, já que o português-tupiniquim, além da diversidade nas influencias que recebeu de outras línguas, é distinto entre si, nas diversas regiões de seu território.

Um dia desses, numa conversa informal, o assunto principal tornou-se secundário devido aos desencontros entre significado e significante de algumas palavras utilizadas no interior de São Paulo e no estado do Espírito Santo. Vejam só:

- Pois é, o meu marido era fichado e teve que mudar para cá...
- Fichado?
- Ah sim, aqui vocês falam “registrado”, que trabalha com carteira assinada.
- Ufa! Porque aqui “fichado” quer dizer que tem ficha na polícia...
(...)
- Eu perguntei para o trocador onde descer, pois era nova na cidade...
- O mesmo que cobrador?
- Isso.

Foi muito engraçado. “Fichado”, sinônimo masculino: “que ou aquele que tem carteira de trabalho assinada, contraindo os benefícios e deveres da Consolidação das Leis Trabalhistas”, no estado do Espírito Santo e “Fichado”, sinônimo masculino e adjetivo, “que ou aquele que possui delitos e/ou crimes registrados na delegacia”, no estado de São Paulo.

Ainda ocorre o fenômeno inverso, quando o significado possui significantes diferentes, como “Cobrador” (SP) e “Trocador” (ES), “funcionário de transporte coletivo urbano que fiscaliza a roleta”, sendo que “Cobrador” (SP e ES) é aquele que faz cobranças de débitos, dividas em aberto e “Trocador” (SP) é o móvel destinado a trocar bebês.

O surpreendente é que falamos de estados de uma mesma região e o melhor de tudo é que celebramos uma diversidade lingüística salutar e criativa neste pais “multilíngüe” e todo mundo se entende ainda que seja necessário alguns minutos e alguns ajustes para isso!

André Coneglian
Abril de 2006.

domingo, abril 16, 2006

Assim circula a sociedade

E o círculo casou-se com a circulo e tiveram circulinhos; cresceram, tornaram-se círculos bonitos e vistosos que casaram-se com outros círculos igualmente bonitos e vistosos que por continuidade tiveram lindos circulinhos...

Assim circula a sociedade dos círculos, tão fluída e constante e circulante, senhores e senhoras círculos, respeitosos, profissionais, trabalhadores; jovens e adolescentes e crianças e bebezinhos circulinhos com raios e diâmetros milimetricamente perfeitos para cada faixa etária; tudo em perfeita harmonia geométrica, circular, obviamente.

Até que encontraram um bebê quadrado aos berros numa das rotatórias da cidade circular.

- Oh!!! Uma aberração!
- O que faremos com este ser?
- Não há o que dizer? É horrendo o destino deste pequeno monstro; olha estes quatro cantos... nunca vimos algo parecido; como circulará, como poderá ir e vir por si só? De certo, não sobreviverá!
- Não seja cruel!
- Não sou, apenas externo a constatação de um fato.

O fato abalou aquela sociedade que, desde então viveu abalos constantes... o quadradinho cresceu e sobreviveu, contradizendo todas as previsões e possibilidades... casou-se com uma círculo, sofrendo toda a vida, juntamente com o marido, a crueldade da discriminação. Aqui e ali nasceram outras formas igualmente estranhas para a sociedade dos círculos, que classificaram como esdrúxulas e medonhas: triângulos, retângulos, polígonos, trapézios...

A sociedade circular não era mais a mesma! Entre eles mesmos passou a existir uma forma variante de círculo, formas ovais de diferentes curvaturas; eram tolerantes com os ovais, apenas isso, tolerantes...

Piorou quando passaram a surgir retas, semi-círculos e ângulos... “certamente vivemos um caos! O que seremos daqui mais uns tempos?! Traços? Pontos? E nada mais...”- perguntaram-se os círculos.

Mas a sociedade prosseguia: de todas as formas e tamanhos; aprenderam que a tolerância proporcionava o nascimento de outras virtudes, nunca antes imaginadas possíveis. Até os mais resistentes - os círculos - aprenderam e evoluíram muito.

“Pois é meus netinhos, não consigo imaginar como meus bisavós suportavam aquela monotonia circular... penso que foi isto que fez a minha avó casar-se com meu avô quadrado! Eu o amava muito também” – falava a senhora triângulo para seus três netinhos: triangulo eqüilátero, isósceles e o retângulo.

A Geometria sorria satisfeita por perceber que a harmonia entre todas as formas geométricas tornou-se real, independente de serem círculos ou por possuírem cantos ou pontos.

André Coneglian
14 de abril de 2006.

Que língua é esta...?

Pois bem, uma revista de circulação nacional, da área da educação, promoveu um concurso para a criação de uma frase (com até 200 caracteres), respondendo à pergunta: "Que língua é essa, que falamos e escrevemos no Brasil?"; empolguei-me com a possibilidade de poder ser premiado com o prêmio (um livro, também referente à questão da língua - o que me fascina demais). Pus-me a escrever e escrever... e 200 caracteres foram poucos para tantas palavras.
A frase com a qual estou concorrendo - ainda não fui comunicado se ganhei ou não o livro; seriam contempladas as 10 melhores frases! - é esta: "Falamos e escrevemos a língua que conecta o nosso interior com todo o exterior, que dá vida às idéias, que se entende na diversidade; o Português adornado de brasileirismo, velho e novo, reinventado dia-a-dia". Depois de enxugar e enxugar um texto enorme. A seguir, o que sobrou do texto enorme, uma versão mais condensada dele. Decidi incluir alguns links, para os mais curiosos - como eu - sobre assuntos pertinentes ao texto. Boa leitura!
O Brasil é MULTI: racial e cultural; lingüisticamente, nem se fala (ou se escreve)! O Português é a língua oficial, porém adornado de um brasileirismo, que o torna distinto do Português falado e escrito do Português de Portugal, Angola, Moçambique...

O Português do Brasil é “vários”; constituímo-nos “muitos” e um “só” povo. Incorporamos elementos semânticos e pragmáticos, até morfêmicos e fonéticos do tupi guarani, dos dialetos africanos, francês, inglês... “Abrasileiramos”, reinventando assim nossa(s) língua(s) portuguesa(s).

O que dizer do Português codificado no Sistema Braille? Dedos leitores e usuários do Português! BRASILEIROS que não ouvem a língua portuguesa falam a Língua Brasileira de Sinais, distinta da Língua Gestual Portuguesa, falada pelos surdos de Portugal. E quantos dialetos e línguas distintas temos entre as tribos indígenas brasileiras? Já descobertas, há serem estudadas...

Até os cães parecem latir e os gatos miarem em Português, aliás, toda nossa fauna possui uma sonoridade muito peculiar! O que dizer do BEM-TE-VI? Como cantam na América do Norte? Well-see-you?!

Falamos e escrevemos no Brasil a língua que conecta o nosso interior com o nosso exterior, que dá vida às idéias, que se entende na diversidade. Pluri-bacana! TRI-LEGAL!

Obs.: Leiam a Crônica de Cecília Meireles sobre o modo de falar dos Bem-te-vis, é muito legal:

sexta-feira, março 10, 2006

O mundo em que habito...

“O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos: minhas primeiras pátrias foram os livros”.

Mais que poética, esta frase, esta idéia, é simplesmente perfeita. Nos emaranhados entre imaginação e realidade, esta frase faz parte de uma obra meio fictícia, meio realidade, baseada na vida do Imperador Adriano, escrito por Marguerite Yourcenar.

Não o estou lendo com afinco, mas não estou aqui para falar do livro, e sim, a respeito da cadeia e sucessão de pensamentos que esta idéia desencadeou, expressa por Marguerite através da fala de seu personagem; falar do mundo em que habito...

O da imaginação, do fantástico, fantasioso, lírico, poético, ideal, da lua – como diz Lucas Silva e Silva: “onde tudo pode acontecer!!!”. Habito este mundo: presente em cada livro, história, enredo; transitando, perambulando, esbarrando em cada personagem; amando, odiando, sorrindo, chorando, ansiando, sofrendo juntamente com cada situação por eles vividas!

Nárnia, Terra do Nunca, Oz, Antares (de Veríssimo) e tantos outros lugares fantásticos com personagens não menos exóticos, frutos de mentes brilhantes... como me encantam! O enredo, o cenário, os seres, a magia no filme “A Lenda” (aquele com Tom Cruise ainda jovenzinho); não cansava de ver e rever nas repetidas vezes que o canal do “Plim Plim” o reprisou na Sessão da Tarde... Os unicórnios, os anões, a floresta, os dentes-de-leões flutuantes, cortando os ares e os raios luminosos que penetravam a copa das imensas árvores... que saudade, tanto tempo que não o assisto!

Mas revivi a magia deste universo, deste mundo que toda criança, por direito e dever, precisa habitar, recentemente ao ver, numa quarta-feira a tarde, no cinema “As Crônicas de Nárnia – O Guarda-roupa, a Feiticeira e o Leão”... So beautiful! Wonderful! Até mesmo gelada e fria como aparece Nárnia no início da trama; as crianças, as criaturas, a feiticeira, os lobos, os esquilos... Foi um deleite em cada nova cena. Eu babo, só de imaginar esse deleite multiplicado por mil, infinitamente mais, quando eu tiver a oportunidade de ler o livro de C. S. Lewis interiro – são sete Crônicas, segundo me informaram!

Ah, quando eu tiver aluninhos, primeira, segunda séries, ou de terceira e quarta, serei um professor-fantástico,
que encanta, fascina – não porque em mim haja algo de especial, mas pelo mundo que levarei a eles... terei um gigante baú – rústico, onde caibam muitas coisas... onde cada aula será uma surpresa: um livro com sua história, cenário, personagens, um a um tomando vida a partir do momento em que o baú é aberto!

Eu me empolgo e me animo só de imaginar os olhinhos deles e a ansiedade e expectativa pela aula do dia seguinte... “Que surpresa o professor nos reserva amanhã?” – mais que realizado e muito mais que satisfeito ficarei. “Bah! Pedagogia – curso sem prestigio e pompa no meio acadêmico...” – já valeria a pena tê-lo cursado só por esta realização.

Por mais que eu me sinta lesado quando considero meus muitos anos na condição de aluno, em que meus professores não me levaram a habitar este mundo, voar nas asas da imaginação, a pensar, a refletir sobre livros, personagens, seus autores, em que ou em quem se inspiraram para então, eu mesmo, criar asas – como o Menino de Asas, livro da série Vaga-Lume, mas falo de asas literárias e não literais – criando meu próprio mundo, meus próprios seres fantásticos, histórias, enredos, cenários... Ah, como teria sido, aonde eu teria chego?! Ou melhor, aonde me levariam meus prováveis e pretensos leitores?

Timidamente, sozinho (acho), aproximei-me de tão bela arte: ler, escrever, imaginar e dar vida a lugares e pessoas apenas com papel e caneta na mão que, por sua vez, são coordenados pelo mundo indescritível e infinito da imaginação. Sim!

Não li tudo o que penso que deveria ter lido em minha infância – os adequados à idade, igualmente na adolescência e juventude... e ainda hoje não consigo sanar este grande problema, não posso ler tudo o que desejo! Os “mediadores”, “instrutores” estavam preocupados em ensinar-me formalidades, formulas inúteis, podando qualquer vôo literário, imaginário, fantástico... realmente, hoje sei o quanto este mundo material é cruel. Mas analisemos com cuidado: o mundo é realmente cruel ou somos treinados a transformá-lo e perpetuá-lo assim, e por acostumada, a humanidade se degladia neste ciclo vicioso?!

Ensinarei meus alunos, meus filhos e demais pupilos, e amigos, e conhecidos, e leitores (olha como sou chique bem!) a habitarem o mesmo mundo que habito...

Ele é simplesmente LINDO! Está feito o convite.
André Coneglian
23 de fevereiro de 2006.

domingo, março 05, 2006

O meu imaginário particular

Existem pessoas que fazem parte do meu imaginário particular; pessoas reais que ocupam lugares cativos em cenários afetivos e expressivos que povoam minha mente com suas silhuetas, gestos, palavras, a marca registrada de cada uma delas...

Isto que chamo de imaginário, não tem nada haver com invenção, fantasioso... é tudo aquilo que um dia fui e fiz, que ficou registrado naquele tempo e espaço e hoje, pelo fantástico poder da memória, faz parte do meu imaginário, que abrange etapas da minha infância e juventude e, o que hoje é o meu presente, amanhã, também fará parte deste imaginário.

O sentimento mais forte, os cenários e pessoas obrigatórias neste meu imaginário são aquelas que fazem parte da minha infância; meu bairro, as pessoas e suas casas, a dona Maria que cata lixo, o Carlinhos e suas seis filhas do bar, a Marisa da padaria, a Regina que tem uma síndrome, mas é super amiga e simpática e gostava de jogar vôlei na pracinha, aquela senhora e a filha que é doente e moravam em frente à mesma praça...

Pessoas com quem cruzei durante dias, meses, anos... ir e vir, estudar, trabalhar, passear... as pessoas estavam ali, em suas casas, com seus afazeres ou, simplesmente, sentadas na praça mesmo, durante as noites de verão, quando é quase impossível permanecer dentro de casa...

Nina é uma dessas pessoas. A Nina da esquina da rua debaixo, a mãe da Gisele que estudou comigo no colegial (mãe da Gislaine e do Ronaldo também) esposa do Geraldo, aquele que tirou meu RG quando eu tinha 9 anos de idade...

“Nina” é como todos a conhecem, como sempre a chamei desde pequeno, não sei seu nome de registro, mas é assim que está registrada em meu imaginário. Assim como estão registrados os “bom-dia, Nina”; “Tudo bem, André?”... Uma mulher grande, braços fortes, cabelos claros, curtos; avó de três ou quatro netos, filhos da Gisele e Gislaine. Uma mulher calma, serena... que contrasta, em muito, com sua constituição física. Em frente à sua casa há um jardim lindo, com flores muito coloridas, orquídeas talvez, vermelhas, amarelas, se soubesse e me interessasse pela botânica, saberia falar com mais propriedade e certeza, mas admiro a beleza apenas, como leigo...

Nina morreu... esta manhã! Minha mãe noticiou quando cheguei em casa por volta do meio-dia. Passei em frente a casa dela, na hora que fui para o meu destino de hoje e também no retorno... Aéreo talvez, não percebi nenhuma movimentação diferente.

Uma tristeza profunda me invadiu... não pela morte em si, inconformidade por ter ido, como pensou minha mãe... Minha tristeza era por saber que Nina não mais estaria na esquina, próxima ao seu jardim, com a mão amparada no portão amarelo, com sua silhueta gigante e calma...

Nina não estará em meu velório. Eu estarei no velório dela! E como em meu tempo de menino, quando os velórios aconteciam na sala das casas, Nina será velada na sala de sua casa, com uma imensa janela com vista para o belo jardim.

A mim resta-me o imaginário, este sobre o qual escrevi no início... nostálgico, no qual a Nina sempre estará presente!

André Coneglian
04 de março de 2006.

Ps.: Natalina é o seu nome, 54 anos de idade. Eu e minha mãe passamos rapidamente no velório, pela manhã de hoje (05/03). “Era melhor não ter ido; agora vou ficar com a imagem dela no caixão... preferia lembrar dela, de pé, lá na esquina, viva...” – expressou minha mãe; esboçando flashes do seu imaginário particular.

quinta-feira, março 02, 2006

Pergunta que não quer calar dentro de mim

Pergunta que não quer calar dentro de mim: “Quem estará em meu velório?” (a que dia, daqui a quanto tempo, em quais circunstâncias, eu não sei...). “Toda carne é erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do Senhor” (Isaías 40:6-7); “Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?” (Mateus 6:27); “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tiago 4:14).

Essa pergunta sugere outra: “Ou estarei em outros velórios de pessoas que, obviamente, não estarão no meu?” Podem soar mórbidas estas perguntas, mas não é esse o sentido que elas têm para mim e nem desejo que tenha para quem as leiam e ousem se colocar como sujeitos dessas perguntas também.

O Pregador em Eclesiastes 7:2 ponderou: “Melhor é ir a casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos que o tomem em consideração.”

Por que a morte é um assunto tão delicado, muitas vezes, até evitado? Um fato que acontece a todo momento, com todo mortal, por que causa tanto pânico? Temos medo do desconhecido. Viver em trevas, em constante expectativa temerária torna as pessoas escravas de seus próprios medos. E a morte, de todos os medos, é o principal, pois o mistério é grande: num instante somos! Respiramos, o coração pulsa e, em outro instante, não há nada mais que um corpo inerte, matéria morta que logo se deteriorará e voltará ao pó, do qual foi formado.

A Palavra de Deus diz que o amor lança fora todo medo: “No amor não existe medo; antes o perfeito amor lança fora todo o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor” (I João 4:18).

Aquele que recebe o Senhor da Vida como Salvador não vive mais em trevas e em tormento. Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5:24). E ainda: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (João 8:12).

A vida eterna não é promessa para depois da morte; aquele que crê em Jesus e nas Suas Palavras passou da morte para a vida, e vida eterna. Não é preciso medo. O apóstolo Paulo escreveu: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual chamamos: Aba, Pai” (Romanos 8:15).

Por mais que estejamos tão acostumados com este mundo, a ordem natural dos acontecimentos, entre o nascer e o morrer, os discípulos de Jesus são recordados de que a Pátria verdadeira do cristão está no Céu (Filipenses 3:20). A Bíblia nos convida em muitas passagens a meditarmos na brevidade da nossa vida neste mundo. Somos como a erva do campo que logo passa e já não existe; como a neblina passageira que logo se dissipa...

Devemos pedir ao Senhor que nos ensine a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio (Salmo 90:12). Aprendi que, sendo Moisés o autor deste Salmo, que até os 40 anos de idade cresceu como os da casa real de Faraó, aprendendo toda ciência, a mais avançada de sua época, conhecia sobre astronomia e muito mais. Quando orou ao Senhor para que o ensinasse a contar os dias, não eram os dias cronológicos a que se referia. O calendário e a contagem dos tempos para Deus é outra, e é essa que devemos aprender, para alcançarmos corações sábios.

Para um texto que começou com perguntas tão complicadas e inesperadas, me permitam encerrar com outra pergunta: “Estamos preparados para a morte, a morte física?”, o que vale é o que fizemos da nossa alma enquanto vivos.

Triste é a ausência de um ente querido, mas sabemos que, se morreu com Cristo, em breve nos encontraremos no lar celestial, portanto, não é necessário tormento, dor ou medo.Se eu precisar passar pela morte física, já orei ao Senhor que quero uma morte tranqüila, se possível, deitado e dormindo. Quem estiver em meu velório possam lembrar a todos estas palavras: Em Cristo Jesus já não há condenação. Mais que feliz estarei no lar celestial para a Ceia do Cordeiro.
Ps.: é incrível como esta pergunta me persegue; achava que ainda nãp havia registrado ela; escrevi uma "crônica" recentemente entitulada "Quando eu morrer" que não está tão bem escrita como essa, escrita em 19 de julho de 2004. Gostaria de poder escrever muito mais; ah... se eu pudesse ao menos registrar 20% do que passa por meus pensamentos, este emaranhado interminável. Como perguntou Cecília Meireles: "Para onde é que vão os versos/ que às vezes passam por mim/ como pássaros libertos?/ Deixo-os passar sem captura,/ vejo-os seguirem pelo ar/ - um outro ar, de outros jardins.../ Aonde irão? A que criaturas/ se destinam, que os alcançam/ para os possuir e amestar?/ De onde vem? Quem os projeta/ como translúcidas setas?/ E eu, por que os deixo passar,/ como alheias esperanças?". Para onde irão os meus pensamentos?

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Exercício Nefelibata (1)

Queria eu morar nas nuvens! Alvas nuvens que, por sua vez, habitam vagarosa e lentamente o céu azul. Um contraste estonteante, estarrecedor: o branco alvíssimo das nuvens com o límpido azul do céu. Morar nas nuvens, um desejo poético? Ou caótico? Ou ambos: o caos vestido de poesia para disfarçar o escapismo. Não nego!

Mas que são convidativas tais moradas, também não se pode negar; macias e branquinhas, distantes de tudo e de todos... está aí sua principal serventia: distância! Não me surpreendo mais por estar apenas de corpo presente no chacoalhar do ônibus, em sua constante rotação de marchas e acelerar e frear... e eu lá no alto, com olhos fitos no meu mais caro sonho residencial. Também pudera! Qualquer artista plástico poderá endossar minha percepção: há cores e formas e textura tão cheias de beleza e de leveza como estas? Creio que não!

Eu quero uma casa nas nuvens! Quero morar na própria nuvem. Como diz a letra da canção, cujo compositor e todos os que a interpretaram e todos os que ainda a cantam: “Eu quero uma casa no campo!”; o fim é o mesmo, tanto da casa bucólica como da nefelibata: “Onde eu possa ficar do tamanho da paz, plantar amigos, discos e livros e nada mais”.

Não quero ser rotulado como escapista – ainda que pareça ou o seja realmente... o mundo nos leva a tal atitude mais cedo ou mais tarde, por isto ou aquilo! Pois então, se poético, se caótico, não abro mão de tão perfeita habitação. Mesmo que fique apenas no plano das idéias, este, o de habitar entre as nuvens...

André Coneglian
13/02/2006.

sábado, fevereiro 11, 2006

Vida

A melhor definição da VIDA pode ser resumida por estas palavras-chaves: INCERTEZA – ESCOLHAS – CONSEQÜÊNCIAS. Dito de outra forma: não é a VIDA uma grande interrogação?! Na qual fomos e somos inseridos e escolhem por nós nome, escola, profissão e, fazemos nossas próprias escolhas à partir das anteriores já tomadas por nós... Depois das nossas próprias escolhas e também concomitantemente a elas, colhemos conseqüências das mesmas; lógicas e óbvias; ou inesperadas, ilógicas, incertas... as conseqüências são existem!

A VIDA é esta: um maestro e gigantesco Ponto de Interrogação...Não nos cabe respondê-la. Tarefa impossível!

Nesta grande interrogação que é a VIDA somos levados pela própria natureza, egoísta, a agarrar-nos à pequenas e particulares exclamações, verdades absolutas nossas de cada vida, de toda uma vida, essa grande interrogação!

Quando não tão exclamativos ou taxativos, inflexíveis, ignorantes, nossa vida é composta por alguns pouquíssimos pontos-finais, muitos pontos-e-vírgulas, e vírgulas e basicamente muitas reticências...

Anterior e mais profundo a estas escolhas há a escolha da época, lugar, família, sexo... Escolhas também não-pessoais de nossos pais, avós, bisavós, ancestrais...

É mais fácil viver do que pensar na VIDA, assim, para a maioria maciça das pessoas basta o ir e vir, acordar, trabalhar, comer, beber, dormir... Recusam-se a procurar o sentido da existência. É mais cômodo. Suportam a difícil e única certeza da grande interrogação, que é a MORTE. Vão inventando distrações, hobbies, atividades mil, enquanto o tempo cronológico realiza, inexoravelmente, sua tarefa.

Parar para fazer um exercício reflexivo, pensar a respeito da VIDA, significaria deparar-se com o inevitável: o GRANDE Engendrador, Arquiteto, Administrador de tudo isso que é o tempo, o espaço, o ser e o estar! Nada mais óbvio que, para uma resposta satisfatória e infalivelmente certa só poderia vir do próprio que criou a grande INTERROGAÇÃO. Também é certo que Ele não a responderá aqui e agora, neste tempo e espaço limitado. Mas Ele não nos deixou sem base, a mercê das filosofias e explicações da criatura humana, capaz de pensar, refletir, de fazer juntar a semente do homem à semente da mulher, mas nunca de criar a existência de outrem. Por isso, a VIDA é valiosa, sem sombras de dúvida. Por isso Ele deixou-nos Sua Palavra, Palavra de Vida, eterna, abundante, mais que vitoriosa, a Grande EXCLAMAÇÃO! No mais, nada mais que reticências...

Marília, 01 de fevereiro de 2006.
André Coneglian