O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

sexta-feira, junho 26, 2020

O Diário de Anne Frank - minha segunda leitura



Londrina-PR, 26 de junho de 2020, é uma sexta-feira nublada e fria, terceiro mês de confinamento, isolamento social devido a pandemia do novo coronavírus. Há poucos minutos encerrei a leitura de "O Diário de Anne Frank" pela segunda vez. A primeira leitura fiz aos 16 anos, recomendado por uma colega da Legião Mirim em Marília-SP. Não consigo me lembrar o nome dessa colega, afinal, nossa interação foi por volta de três meses.

Claro que a primeira leitura me impressionou a ponto de passar a nomear meu diário - meu Querido Pirrô, assim como Anne nomeava seu diário, a querida Kitty. A segunda leitura, meu Deus, meu Deus, dói mil vezes mais. Aos 39 anos de idade, casado, com dois filhos, acumuladas tantas outras vivências, dói muito, profundamente, por tudo que vivemos na atualidade, além da pandemia, a situação política, econômica, social e educacional no Brasil agravadas pela pandemia! A humanidade é doente...

Chego a acreditar que Anne Frank foi uma garota superdotada, com muitos indicadores para chegar a essa conclusão. A Segunda Guerra Mundial para mim sempre foi um tema assombroso demais, inacreditável, aterrador, imaginar que a humanidade chegou nesse nível. Ler o diário de Anne faz com que o horror ao nazismo, Hitler, fascismo, Mussolini e tudo dentro deste pacote seja multiplicado por 1000. Grifei nesse livro que ganhei da minha esposa em 12 de junho de 2020, alguns trechos que me saltam aos olhos, seja por concordar com Anne, seja pela prova de que esta garota era muito à frente de seu tempo.

A data em que ganhei o livro era o 91o. ano de nascimento de Anne, mas ela viveu somente 15. Na página 279 deste exemplar, edição de bolso, Anne escreveu: "quero continuar vivendo depois da morte! E é por isso que agradeço tanto a Deus por ter me dado esse dom, que posso usar para me desenvolver e para expressar tudo o que existe dentro de mim!". Anne realizou seu desejo: continua viva depois de sua morte.

Algo que passou o tempo todo em minha mente nessa segunda leitura é: quem eu seria naquele contexto de guerra? As duas famílias escondidas foram ajudadas por cristãos. Eu seria esse tipo de cristão? Ou seria como a maioria, tipo "umbiguista", não é conosco, cristãos, não é comigo! Aliás, "Deus", o "Deus cristão" que sempre esteve no discurso dos nazistas/fascistas, assim como está nos discursos dos políticos, não só dos políticos atuais, mas ao longo da História, que defendem os valores e a moral da família de bem. Quem seria eu naquele contexto?

Eu teria muito para escrever, mas são tempos malucos: "Kitty, Anne é maluca, mas estes são tempos malucos e as circunstâncias são ainda piores. A melhor coisa é poder escrever todos os meus pensamentos e sentimentos, do contrário, iria me sufocar" (p. 247). Sei como é esse sentimento, Anne: não escrever é acumular a ponto de explodir. Como eu disse acima, teria muito mais para escrever, se eu escrever tudo que penso, ai, ai, ai, ai, serei expulso de muitos círculos de amizades.

Não me importo! Só não escrevo, não por medo da expulsão, mas para manter a falsa ilusão de que algumas poucas coisas continuam no lugar, entretanto, estou muito consciente - todos os dias, horas, e minutos -  de que tudo está desarranjado há muito tempo, tudo perdeu o sentido!

Não sejam superficiais e rasos no julgamento, não me refiro a política e a pandemia somente; antes da pandemia, antes desse governo desastroso, o sentido de tudo já desmoronava. Posso dizer que é admirável o modo como as pessoas se agarram à filosofias de vida, à religião, algumas não apenas seguem agarradas a elas, mas as defende com unhas e dentes, e armas e outros formas de controle.

Por hora, não estou defendendo nada. Sigo nesse mar infinito de “nonsense”...

Fim.