O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

quinta-feira, outubro 12, 2006

Café da Tarde


Numa dessas tardes, pensamentos a mil por hora, reservei-me o direito de desviar a atenção para o momento que vivia, debruçar os olhos nos elementos à minha volta e aos meus movimentos.

Sentado à mesa na cozinha, estendi o pano de prato para fazer a vez de toalha, peguei a garrafa térmica com café, feito pela manhã por meu pai, também o pacote com biscoito de água e sal e o pote de margarina.

Lá fora, uma tarde molhada; não havia poucos minutos, a chuva cessara e o sol, timidamente iluminava. Observar e absorver esta cena remontou em minha mente flashes da minha infância. Aquele lugar no tempo em que não importa o quão difícil fora as circunstâncias da vida, a sofrida descoberta do mundo e das pessoas que nele habitam, será sempre recordado como o melhor tempo. Tempo de não se preocupar com dinheiro, com avaliação, trabalho e outras responsabilidades de adulto. Tempo de ir à escola, esperar ansiosamente pela batida do sinal e ir ao encontro da mãe que já esperava no lado de fora. Tempo de brincar na rua: balança caixão, esconde-esconde, queima, conversar bobeiras e travar discussões com os amigos.

Gosto daquele tempo em que não era tão consciente desse movimento chamado vida, quando apenas me movimentava...

Mas nessa tarde, essa tarde molhada na mesa do café, senti uma felicidade imensa por valorizar esse momento, à primeira vista, tão corriqueiro. Pegar um biscoito de água e sal, com a faca passar generosamente a margarina e cobri-la com outro biscoito. E brincar com elas antes de morder, assim, comprimindo-as para ver nascer as minhoquinhas de margarina pelos orifícios, tão certinhas, as minhocas...

Manchar os lábios com estas minhoquinhas, agora desfeitas e embeber a mistura de biscoito e margarina com café morno, quase frio.

Para mim, foi gratificante olhar e pensar sobre cada um desses movimentos... Que vontade de convidar alguém para fazer parte dessa hora e compartilhar esses meus pensamentos... ”Aceite esses minutos de café da tarde com biscoito de água e sal, com margarina e café... Oh, mas, por favor, aceite também este que vos convida, minhas qualidades e meus defeitos. Mesmo sendo previsível em muitos dos meus atos, aceite minhas prováveis imprevisões. Conhecendo minha calmaria externa, não se assuste com a minha tempestade interna, que às vezes, incontrolável, traspassa essa fina carcaça”.

Mais importante que a gratuidade da infância, do tempo sempre bom de ser lembrado, quero aprender o esquecido e inutilizado exercício do diálogo, e viver o hoje, o agora. Usar o bálsamo do perdão, derramar sobre mim o óleo da alegria, refletir no olhar, no agir e no falar, o meu doce Jesus.

Será Ele o convidado para o meu café da tarde? Para aceitar-me assim, como sou... e pacientemente conduzir-me a um estado de estar e ser melhor do que este em que estou e sou?! Ah, obrigado meu Senhor, meu Salvador, meu Amigo, por aceitar tão humilde café...


André Luís
Escrita em: 28/11/2003
Até pensei em escrever um comentário atual a respeito desta crônica, escrita há quase três anos... Decidi que o melhor é não fazê-lo. A perenidade do escrito não precisa estar suscetível à minha instabilidade.

Nenhum comentário: