O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

sexta-feira, fevereiro 19, 2021

“DIZEI-ME COM POUCAS PALAVRAS*...”



O silêncio é minha veste nesses dias. Não é meu traje favorito, entretanto, o provisório silêncio é um pijama confortável para noites de sono. O pijama pode até ser confortável, mas tranquilo não é o sono, nem a noite, o dia, tempo algum. 

Cecília pede para dizer com poucas palavras aquilo que me atormenta... Não posso! Não consigo dizer com parcas “parole”... Há tanta dor, há tanto sofrimento... Dores e sofrimentos pessoais, não obstante, dói mais fundo a dor do coletivo.

Um coletivo de pobres e desassistidos! Pobres e desassistidos no qual me incluo - sem perspectiva de vacina e um retorno às atividades dos homens na Terra, todos abandonados e entregues ao deus Mercado e ao deus dará...

Despi-me brevemente de meu confortável silêncio-pijama por um motivo:

Ontem eu vi um pedido que me comoveu – sensível sempre fui; criei casca, transformou-se em couraça – mas encontro-me vulnerável.

Era uma jovem esposa clamando pela vida do jovem marido, internado com covid-19, com complicações no coração, ela pedia a todos, no vídeo.

“Tão corriqueiro nesse 2020 e 2021”, 240 mil pessoas perderam a vida. “Ah, mas afinal morreremos todos um dia”, podem argumentar os céticos, negacionistas e alienados alinhados ao bolsohitler tupiniquim.

Esse pedido foi diferente, foi feito em Língua Brasileira de Sinais, ela e ele são Surdos. Por que me comoveu tanto? A resposta não é simples, por isso, dizer com poucas palavras é difícil...

Há muitos anos uma amiga Surda chorou desesperadamente para mim. Não me recordo de choro mais triste, brotado no mais profundo âmago da alma, som gutural de quem não se ouvia a voz.

Não há palavra em Português, em Libras, em nenhuma língua para acalmar esse som gutural... Apenas abracei!

O clamor da jovem esposa em Língua de Sinais pelo jovem marido, para rezarmos/orarmos em favor dele, junto com suas lágrimas, foram como punhais em meu já abalado coração.

- Senhor das nossas pobres almas, que Sua Soberana Vontade alcance esse jovem casal. Os ouvidos surdos não ouvem som humano, mas creio que suas almas/espíritos podem ouvir o Céu.

Aproveito e peço pelo povo brasileiro: cego, surdo e mudo, hipnotizados por discursos e práticas de ódio e de homicídio em massa – armas ao invés de vacinas! – guiados por um “líder” desde sempre questionável, evidentemente equivocado, despreparado, que nunca escondeu suas intenções malignas.

Quase despi todo o pijama. Todavia, volto a ele, ao silêncio contemplativo. Sigo clamando, sigo pedindo. Que nossas súplicas – em alta voz, em meio tom, em silêncio, em Língua de Sinais, sejam todas atendidas.

Amém.

André Coneglian

17 fev. 2021



* Poema de Cecília Meireles, com mesmo título: “Dizei-me com poucas palavras”