O local escolhido foi a Terra do Nunca, por dois grandes motivos convincentes: 1º) Seria contraditório escolher qualquer cidade ou estado brasileiro para não alegarem preferências e, portanto, deturpar a decisão final sobre o assunto em questão. 2º) A Terra de Peter Pan não possui tempo cronológico; durasse uma hora, dez ou mil anos, a Terra do Nunca não acusaria a passagem temporal, afinal, a tarefa não é nada fácil!
O Capitão Gancho publicou uma nota à imprensa dizendo que não se intrometeria em assuntos brasileiros.
“Segundo o artigo 13, no capítulo III, da Constituição, a língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.” – nada mais a declarar, bradou um juiz.
“Sim, Excelentíssimo, mas temos também o amazonês, baianês, mato-grossensenês, mineirês, carioquês, catarinês, paulistanês, etc... é muito mais abrangente a diversidade lingüística em nosso país, que um único e simples idioma definido legalmente pelo papel” – argumentou um professor de Língua Portuguesa.
Personagens literários também tiveram o direito de manifestar-se.
Marcelo, Marmelo, Martelo (de Ruth Rocha) foi o primeiro:
- É uma incoerência. Devemos dar o nome correto às coisas. A língua portuguesa é a língua de Portugal. No Brasil, o idioma deve ser denominado “Brasileiro”, obviamente. Aproveitaremos para renomear muitas coisas com nomes sem sentido.
- Pois eu não canso de dizer que a nossa língua deve ser o Tupi Guarani; abandonemos de vez o colonialismo. – bradou calorosamente Policarpo Quaresma.
Muitos outros usufruíram do direito de falar, cada qual com vocabulário, de épocas e palavras diferentes, com sotaques e pronúncias peculiares...
- Gente, prestem atenção em mim – esperneou Emilia, a boneca de pano. – Vejam, até para discutirmos e discordarmos, nos entendemos muito bem. Celebremos a diversidade e a criatividade do fenômeno lingüístico-cultural: falemos, escrevamos, comuniquemo-nos e viva a língua do Brasil – ou dos Brasis...
A boneca multicolorida foi ovacionada por tão eloqüente contribuição. Todos se convenceram da inutilidade de discutir algo desta natureza.
- Mas, gente, porque vocês jogaram ovo na coitada da Emília... – externou a esposa de Caco Antíbes.
- Cala a boca, Magda! – bradou o mesmo.
Abril de 2006.
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