O repórter e a anã
- Como é o seu nome?
- Veronika, mas pode me chamar de Veka!
- Mas porquê?
- Veronika é muito grande!
- Como és tu nombre?
- Veronika, pero puede llamarme de Veka!
- Por que?
- Veronika és muy grande!
(traducción libre para el Español; una homenaje a mi amiga y hermana Paula Rosário)
André Coneglian
1ª quinzena dez/2006.
Um brasileiro e uma boliviana na brincadeira das línguas
- O que é “gelinho”? – ela.
- É um suco que se põe no saquinho e depois no congelador. – ele.
- Ah... bolo (para os bolivianos).
- Bolo? E bolo (o nosso bolo)?
- Torta!
- E torta?
- Queque!
Palavras com a mesma forma, quase com os mesmos sons, porém, que significam coisas diferentes, ainda que muito próximas, ou nem tanto: gelinho é bolo!!!
- Hahahahaha!
- Jajajajaja! (representação do riso em castelhano).
André Coneglian
1ª quinzena dez/2006.
Provocações
- Su letra parece de médico.
- Mas letra de médico é feia!
- Por eso!
- ... [cara de admiração e espanto!]
Outro dia:
- Veja minha letra de maestro.
- Si tu letra és de maestro, mi abuelita tiene quince años!
- Mira! Como sua avó é nova!!
- Kakaka, jajaja!!!
André Coneglian
1ª quinzena dez/2006.
Cultura brasileira X Cultura boliviana
O encontro entre culturas diferentes é muito interessante. Na verdade, “encontro” não é a melhor palavra. “Choque cultural” parece ser uma expressão adequada para a situação quando línguas, costumes e tradições que envolvem vestimentas, comida, artes e até mesmo aspectos geográficos (temperatura, fauna, flora...) estão em contato.
Tudo começou quando Paula veio procurar-me. Seu interesse era pela Língua Brasileira de Sinais. Paula tem um biótipo andino muito característico; seu “portunhol” ou ainda, um português carregado de sotaque castelhano confirmaram; ela apenas especificou seu país de origem: Bolívia. No Brasil havia 7 meses, inicialmente morou na cidade de Rio Claro, onde teve contato com a LIBRAS.
Paula passou a freqüentar as aulas do curso de LIBRAS aos sábados e segundas-feiras assiduadamente, bem como as atividades semanais do Ministério de Surdos da Primeira Igreja Batista de Marília, o grupo de oração na quarta e a Escola Bíblica de Surdos, aos sábados e ainda o Culto de Celebração aos domingos.
Aprendizado em toda e qualquer palavra ou sinal expressados. Paula aprendendo LIBRAS e Português; eu, o Espanhol e aspectos da cultura boliviana.
Os choques culturais começaram quando expressei a delícia que é tomar vitamina de abacate, batida com leite e açúcar; ao que Paula expressou:
- Argh... abacate com açúcar e leite?!
- Sim. Nunca tomou? – indaguei.
- Na Bolívia comemos como salada, temperada com sal e cebola. – ela respondeu.
- Abacate com sal e cebola... eca!!! – minha vez de estranhar.
Paula disse que estranhou muito nossa comida, parecida com comida de hospital, fraca, sem tempero, nada “picante”. Estranhou também a quantidade de feijão que consumimos.
Assim, aprendi muito, ri muito também, por causa dos encontros e desencontros das línguas e culturas.
Num sábado fomos todos do Ministério de Surdos comer “panchito” – cachorro-quente. Entre fotos, conversas e risadas, Paula nos contou um “segredo” boliviano que envolve as lhamas e os turistas que vão à Bolívia. Disse mais: para los chiquititos y chiquititas és tan divertido, que van al zôo solamente para mirar los turistas, y estos, com ganas de conocerem las llamas.
O segredo: é que as lhamas têm uma defesa para auto-proteção; elas cospem naqueles que se aproximam muito. Paula disse que não é pouco mas muito cuspe. Ao cuspir, as lhamas emitem um barulho forte que, para os desavisados, soa assustador.
Um misto de indignação com celebração me invadiu por essa omissão e passatempo de muitos bolivianos: ver turistas serem vitimados com susto e cuspidas de lhamas. Ri tanto, mais tanto, que até chorei. Mas o alerta está registrado: turistas brasileiros, quando visitarem a Bolívia, mais especificamente as lhamas e verem um monte de chiquititos y chiquititas mirándote, lembrem-se do segredo boliviano.
André Coneglian
28/12/2006.
Travalenguas
Paula ensinou-me este travalíngua:
Trepa la catatrepa y trepan los tres catatrepitos. Mas precisa ser dito depressa, repetidas vezes, claro, sem travar a língua.
Quis saber o que eram catatrepas. Pelas explicações recebidas, me pareceram insetos como a taturana que conhecemos por aqui.
Aliás, os primeiros relatos de Paula sobre insetos típicos da Bolívia, foram sobre as assustadoras chulupacas, uma barata gigante, com uns 15 centímetros de comprimento, que além do tamanho, voa. As chulupacas voadoras morrem ao chocarem-se com cabeças de pessoas que têm o azar de estar em seu caminho.
Está nos planos de Paula trazer para o Brasil uma chulupaca fêmea e outra chulupaca macho para terem muitos chulupaquitos por aqui.
Atenção fronteiras brasileiras com a Bolívia: não permitam a passagem do casal de chulupacas, para a segurança de nossas cabeças!
Casa da Borracha
Em minha cidade há um local chamado Casa da Borracha, uma loja ampla que vende uma variedade de produtos de borracha como mangueira para jardins e botas, como também outros tipos de materiais como espuma e isopor.
Quando era criança precisei ir até a Casa da Borracha comprar uma bola de isopor para a confecção de um palhacinho, que aprendemos na escola.
Borracha, material retirado da seringueira. Borracha, companheira escolar, preciosíssimo seu valor e função.
Casa da Borracha! Mas ontem, este título ganhou outra conotação, muito, mais muito engraçada. Era noite; estávamos dentro do carro, esperando o sinal abrir, em frente à Casa da Borracha; portas fechadas, mas bem visível o seu nome: Casa da Borracha.
Eis que a minha amiga boliviana diz:
- Suena muy divertido para mi este nombre Casa da Borracha... algo como “Casa da Bébida” – ela quis dizer bêbada.
Explodi em gargalhadas: Casa da Borracha, Casa da Bêbada.
O mais difícil será passar em frente à Casa da Borracha e segurar o riso. Ao me verem rindo sozinho, poderão pensar: “deve estar borracho este muchacho!”.
André Coneglian
28/12/2006.
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