Queria eu morar nas nuvens! Alvas nuvens que, por sua vez, habitam vagarosa e lentamente o céu azul. Um contraste estonteante, estarrecedor: o branco alvíssimo das nuvens com o límpido azul do céu. Morar nas nuvens, um desejo poético? Ou caótico? Ou ambos: o caos vestido de poesia para disfarçar o escapismo. Não nego!
Mas que são convidativas tais moradas, também não se pode negar; macias e branquinhas, distantes de tudo e de todos... está aí sua principal serventia: distância! Não me surpreendo mais por estar apenas de corpo presente no chacoalhar do ônibus, em sua constante rotação de marchas e acelerar e frear... e eu lá no alto, com olhos fitos no meu mais caro sonho residencial. Também pudera! Qualquer artista plástico poderá endossar minha percepção: há cores e formas e textura tão cheias de beleza e de leveza como estas? Creio que não!
Eu quero uma casa nas nuvens! Quero morar na própria nuvem. Como diz a letra da canção, cujo compositor e todos os que a interpretaram e todos os que ainda a cantam: “Eu quero uma casa no campo!”; o fim é o mesmo, tanto da casa bucólica como da nefelibata: “Onde eu possa ficar do tamanho da paz, plantar amigos, discos e livros e nada mais”.
Não quero ser rotulado como escapista – ainda que pareça ou o seja realmente... o mundo nos leva a tal atitude mais cedo ou mais tarde, por isto ou aquilo! Pois então, se poético, se caótico, não abro mão de tão perfeita habitação. Mesmo que fique apenas no plano das idéias, este, o de habitar entre as nuvens...
13/02/2006.
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