O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

sexta-feira, março 10, 2006

O mundo em que habito...

“O verdadeiro lugar de nascimento é aquele em que lançamos pela primeira vez um olhar inteligente sobre nós mesmos: minhas primeiras pátrias foram os livros”.

Mais que poética, esta frase, esta idéia, é simplesmente perfeita. Nos emaranhados entre imaginação e realidade, esta frase faz parte de uma obra meio fictícia, meio realidade, baseada na vida do Imperador Adriano, escrito por Marguerite Yourcenar.

Não o estou lendo com afinco, mas não estou aqui para falar do livro, e sim, a respeito da cadeia e sucessão de pensamentos que esta idéia desencadeou, expressa por Marguerite através da fala de seu personagem; falar do mundo em que habito...

O da imaginação, do fantástico, fantasioso, lírico, poético, ideal, da lua – como diz Lucas Silva e Silva: “onde tudo pode acontecer!!!”. Habito este mundo: presente em cada livro, história, enredo; transitando, perambulando, esbarrando em cada personagem; amando, odiando, sorrindo, chorando, ansiando, sofrendo juntamente com cada situação por eles vividas!

Nárnia, Terra do Nunca, Oz, Antares (de Veríssimo) e tantos outros lugares fantásticos com personagens não menos exóticos, frutos de mentes brilhantes... como me encantam! O enredo, o cenário, os seres, a magia no filme “A Lenda” (aquele com Tom Cruise ainda jovenzinho); não cansava de ver e rever nas repetidas vezes que o canal do “Plim Plim” o reprisou na Sessão da Tarde... Os unicórnios, os anões, a floresta, os dentes-de-leões flutuantes, cortando os ares e os raios luminosos que penetravam a copa das imensas árvores... que saudade, tanto tempo que não o assisto!

Mas revivi a magia deste universo, deste mundo que toda criança, por direito e dever, precisa habitar, recentemente ao ver, numa quarta-feira a tarde, no cinema “As Crônicas de Nárnia – O Guarda-roupa, a Feiticeira e o Leão”... So beautiful! Wonderful! Até mesmo gelada e fria como aparece Nárnia no início da trama; as crianças, as criaturas, a feiticeira, os lobos, os esquilos... Foi um deleite em cada nova cena. Eu babo, só de imaginar esse deleite multiplicado por mil, infinitamente mais, quando eu tiver a oportunidade de ler o livro de C. S. Lewis interiro – são sete Crônicas, segundo me informaram!

Ah, quando eu tiver aluninhos, primeira, segunda séries, ou de terceira e quarta, serei um professor-fantástico,
que encanta, fascina – não porque em mim haja algo de especial, mas pelo mundo que levarei a eles... terei um gigante baú – rústico, onde caibam muitas coisas... onde cada aula será uma surpresa: um livro com sua história, cenário, personagens, um a um tomando vida a partir do momento em que o baú é aberto!

Eu me empolgo e me animo só de imaginar os olhinhos deles e a ansiedade e expectativa pela aula do dia seguinte... “Que surpresa o professor nos reserva amanhã?” – mais que realizado e muito mais que satisfeito ficarei. “Bah! Pedagogia – curso sem prestigio e pompa no meio acadêmico...” – já valeria a pena tê-lo cursado só por esta realização.

Por mais que eu me sinta lesado quando considero meus muitos anos na condição de aluno, em que meus professores não me levaram a habitar este mundo, voar nas asas da imaginação, a pensar, a refletir sobre livros, personagens, seus autores, em que ou em quem se inspiraram para então, eu mesmo, criar asas – como o Menino de Asas, livro da série Vaga-Lume, mas falo de asas literárias e não literais – criando meu próprio mundo, meus próprios seres fantásticos, histórias, enredos, cenários... Ah, como teria sido, aonde eu teria chego?! Ou melhor, aonde me levariam meus prováveis e pretensos leitores?

Timidamente, sozinho (acho), aproximei-me de tão bela arte: ler, escrever, imaginar e dar vida a lugares e pessoas apenas com papel e caneta na mão que, por sua vez, são coordenados pelo mundo indescritível e infinito da imaginação. Sim!

Não li tudo o que penso que deveria ter lido em minha infância – os adequados à idade, igualmente na adolescência e juventude... e ainda hoje não consigo sanar este grande problema, não posso ler tudo o que desejo! Os “mediadores”, “instrutores” estavam preocupados em ensinar-me formalidades, formulas inúteis, podando qualquer vôo literário, imaginário, fantástico... realmente, hoje sei o quanto este mundo material é cruel. Mas analisemos com cuidado: o mundo é realmente cruel ou somos treinados a transformá-lo e perpetuá-lo assim, e por acostumada, a humanidade se degladia neste ciclo vicioso?!

Ensinarei meus alunos, meus filhos e demais pupilos, e amigos, e conhecidos, e leitores (olha como sou chique bem!) a habitarem o mesmo mundo que habito...

Ele é simplesmente LINDO! Está feito o convite.
André Coneglian
23 de fevereiro de 2006.

domingo, março 05, 2006

O meu imaginário particular

Existem pessoas que fazem parte do meu imaginário particular; pessoas reais que ocupam lugares cativos em cenários afetivos e expressivos que povoam minha mente com suas silhuetas, gestos, palavras, a marca registrada de cada uma delas...

Isto que chamo de imaginário, não tem nada haver com invenção, fantasioso... é tudo aquilo que um dia fui e fiz, que ficou registrado naquele tempo e espaço e hoje, pelo fantástico poder da memória, faz parte do meu imaginário, que abrange etapas da minha infância e juventude e, o que hoje é o meu presente, amanhã, também fará parte deste imaginário.

O sentimento mais forte, os cenários e pessoas obrigatórias neste meu imaginário são aquelas que fazem parte da minha infância; meu bairro, as pessoas e suas casas, a dona Maria que cata lixo, o Carlinhos e suas seis filhas do bar, a Marisa da padaria, a Regina que tem uma síndrome, mas é super amiga e simpática e gostava de jogar vôlei na pracinha, aquela senhora e a filha que é doente e moravam em frente à mesma praça...

Pessoas com quem cruzei durante dias, meses, anos... ir e vir, estudar, trabalhar, passear... as pessoas estavam ali, em suas casas, com seus afazeres ou, simplesmente, sentadas na praça mesmo, durante as noites de verão, quando é quase impossível permanecer dentro de casa...

Nina é uma dessas pessoas. A Nina da esquina da rua debaixo, a mãe da Gisele que estudou comigo no colegial (mãe da Gislaine e do Ronaldo também) esposa do Geraldo, aquele que tirou meu RG quando eu tinha 9 anos de idade...

“Nina” é como todos a conhecem, como sempre a chamei desde pequeno, não sei seu nome de registro, mas é assim que está registrada em meu imaginário. Assim como estão registrados os “bom-dia, Nina”; “Tudo bem, André?”... Uma mulher grande, braços fortes, cabelos claros, curtos; avó de três ou quatro netos, filhos da Gisele e Gislaine. Uma mulher calma, serena... que contrasta, em muito, com sua constituição física. Em frente à sua casa há um jardim lindo, com flores muito coloridas, orquídeas talvez, vermelhas, amarelas, se soubesse e me interessasse pela botânica, saberia falar com mais propriedade e certeza, mas admiro a beleza apenas, como leigo...

Nina morreu... esta manhã! Minha mãe noticiou quando cheguei em casa por volta do meio-dia. Passei em frente a casa dela, na hora que fui para o meu destino de hoje e também no retorno... Aéreo talvez, não percebi nenhuma movimentação diferente.

Uma tristeza profunda me invadiu... não pela morte em si, inconformidade por ter ido, como pensou minha mãe... Minha tristeza era por saber que Nina não mais estaria na esquina, próxima ao seu jardim, com a mão amparada no portão amarelo, com sua silhueta gigante e calma...

Nina não estará em meu velório. Eu estarei no velório dela! E como em meu tempo de menino, quando os velórios aconteciam na sala das casas, Nina será velada na sala de sua casa, com uma imensa janela com vista para o belo jardim.

A mim resta-me o imaginário, este sobre o qual escrevi no início... nostálgico, no qual a Nina sempre estará presente!

André Coneglian
04 de março de 2006.

Ps.: Natalina é o seu nome, 54 anos de idade. Eu e minha mãe passamos rapidamente no velório, pela manhã de hoje (05/03). “Era melhor não ter ido; agora vou ficar com a imagem dela no caixão... preferia lembrar dela, de pé, lá na esquina, viva...” – expressou minha mãe; esboçando flashes do seu imaginário particular.

quinta-feira, março 02, 2006

Pergunta que não quer calar dentro de mim

Pergunta que não quer calar dentro de mim: “Quem estará em meu velório?” (a que dia, daqui a quanto tempo, em quais circunstâncias, eu não sei...). “Toda carne é erva, e toda a sua glória, como a flor da erva; seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito do Senhor” (Isaías 40:6-7); “Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida?” (Mateus 6:27); “Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa” (Tiago 4:14).

Essa pergunta sugere outra: “Ou estarei em outros velórios de pessoas que, obviamente, não estarão no meu?” Podem soar mórbidas estas perguntas, mas não é esse o sentido que elas têm para mim e nem desejo que tenha para quem as leiam e ousem se colocar como sujeitos dessas perguntas também.

O Pregador em Eclesiastes 7:2 ponderou: “Melhor é ir a casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos que o tomem em consideração.”

Por que a morte é um assunto tão delicado, muitas vezes, até evitado? Um fato que acontece a todo momento, com todo mortal, por que causa tanto pânico? Temos medo do desconhecido. Viver em trevas, em constante expectativa temerária torna as pessoas escravas de seus próprios medos. E a morte, de todos os medos, é o principal, pois o mistério é grande: num instante somos! Respiramos, o coração pulsa e, em outro instante, não há nada mais que um corpo inerte, matéria morta que logo se deteriorará e voltará ao pó, do qual foi formado.

A Palavra de Deus diz que o amor lança fora todo medo: “No amor não existe medo; antes o perfeito amor lança fora todo o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor” (I João 4:18).

Aquele que recebe o Senhor da Vida como Salvador não vive mais em trevas e em tormento. Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5:24). E ainda: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (João 8:12).

A vida eterna não é promessa para depois da morte; aquele que crê em Jesus e nas Suas Palavras passou da morte para a vida, e vida eterna. Não é preciso medo. O apóstolo Paulo escreveu: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual chamamos: Aba, Pai” (Romanos 8:15).

Por mais que estejamos tão acostumados com este mundo, a ordem natural dos acontecimentos, entre o nascer e o morrer, os discípulos de Jesus são recordados de que a Pátria verdadeira do cristão está no Céu (Filipenses 3:20). A Bíblia nos convida em muitas passagens a meditarmos na brevidade da nossa vida neste mundo. Somos como a erva do campo que logo passa e já não existe; como a neblina passageira que logo se dissipa...

Devemos pedir ao Senhor que nos ensine a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio (Salmo 90:12). Aprendi que, sendo Moisés o autor deste Salmo, que até os 40 anos de idade cresceu como os da casa real de Faraó, aprendendo toda ciência, a mais avançada de sua época, conhecia sobre astronomia e muito mais. Quando orou ao Senhor para que o ensinasse a contar os dias, não eram os dias cronológicos a que se referia. O calendário e a contagem dos tempos para Deus é outra, e é essa que devemos aprender, para alcançarmos corações sábios.

Para um texto que começou com perguntas tão complicadas e inesperadas, me permitam encerrar com outra pergunta: “Estamos preparados para a morte, a morte física?”, o que vale é o que fizemos da nossa alma enquanto vivos.

Triste é a ausência de um ente querido, mas sabemos que, se morreu com Cristo, em breve nos encontraremos no lar celestial, portanto, não é necessário tormento, dor ou medo.Se eu precisar passar pela morte física, já orei ao Senhor que quero uma morte tranqüila, se possível, deitado e dormindo. Quem estiver em meu velório possam lembrar a todos estas palavras: Em Cristo Jesus já não há condenação. Mais que feliz estarei no lar celestial para a Ceia do Cordeiro.
Ps.: é incrível como esta pergunta me persegue; achava que ainda nãp havia registrado ela; escrevi uma "crônica" recentemente entitulada "Quando eu morrer" que não está tão bem escrita como essa, escrita em 19 de julho de 2004. Gostaria de poder escrever muito mais; ah... se eu pudesse ao menos registrar 20% do que passa por meus pensamentos, este emaranhado interminável. Como perguntou Cecília Meireles: "Para onde é que vão os versos/ que às vezes passam por mim/ como pássaros libertos?/ Deixo-os passar sem captura,/ vejo-os seguirem pelo ar/ - um outro ar, de outros jardins.../ Aonde irão? A que criaturas/ se destinam, que os alcançam/ para os possuir e amestar?/ De onde vem? Quem os projeta/ como translúcidas setas?/ E eu, por que os deixo passar,/ como alheias esperanças?". Para onde irão os meus pensamentos?