Nesses dias de isolamento social,
vasculhando caixas que guardam recordações, dentro de um diário, na última página,
um bolso feito com as duas últimas folhas, encontro alguns papéis.
O que se destacou entre eles foi
uma folha que continha, além da minha letra, outra caligrafia diferente, a de
uma grande amiga, Aldine. Cursamos, na mesma turma o curso de Pedagogia, na
Unesp de Marília-SP, de 2001 a 2004.
Concluímos a graduação em julho de
2005. Nós dois na Pedagogia, ambos escolhemos a Educação Especial, ela a habilitação
em Deficiência Física e eu, a Deficiência Auditiva. Algumas disciplinas das
habilitações em Educação Especial eram comuns a todas as especialidades:
auditiva, física, intelectual e visual.
Guardei essa folha sem pretensão,
que hoje, quase 16 anos depois, para mim é uma preciosidade: é como se nos dias
de hoje, dois amigos trocassem mensagens via whatsapp durante uma aula.
Fotografei a folha e enviei para
Aldine, que vive em Osasco-SP, via whatsapp. Perguntei como estavam, de que
modo estavam enfrentando o isolamento social, perguntei do Lucas, o filho e da
mãe. Então, Aldine lembrou outro fato: lembra que ele rebaixou nossas notas
quando vocês brigaram?
Ao que respondi: como esquecer! Minha
primeira e única média seis da vida inteira.
Devo ter relatado em algum diário
o fato, quando encontrar posso reproduzir aqui, mas basicamente foi: o
professor estava atribuindo falta aos alunos que não participavam da aula. Ticiane
e eu, que não tínhamos recebido a falta, fomos falar em nome dos alunos que
foram lesados.
Argumentamos que o professor tinha
todo direito de descontar pontos, diminuir a nota dos alunos que não estavam
participando, entretanto, atribuir falta a alunos presentes era algo muito
grave. Foi o suficiente para ambos sermos atacados e o professor começou um
ataque verbal a toda turma.
Tentamos ainda recorrer à sessão
de graduação, a que nos recomendou procurar a coordenação pedagógica do
curso... Não me recordo se chegamos a protocolar algo. A consequência desse
triste episódio – o autoritarismo docente – foram médias não condizentes com o desempenho
real dos alunos na disciplina. Retaliação da pior espécie.
Éramos todos professores em
formação e ele nos deu o pior exemplo do que não se deve fazer com alunos. Primeiro
e único professor que discuti na vida. Apesar de traumático todo esse episódio,
também foi pedagógico: não seja como ele, nunca. Primeiro: prepare melhor suas
aulas. Segundo: esteja aberto às demandas dos alunos, inclusive abra canais de
discussão sobre a sua didática. Nunca, nunca mesmo, transforme questões de sala
de aula em perseguição pessoal, muito menos, não faça do seu “poder” de
atribuir notas e presenças, elemento de chantagem: se não fizerem desse modo,
vocês sofrerão consequências, hahahahahah!
Minha amiga Aldine deu a ideia: “escreve
uma crônica sobre seu único 6,0 da vida”. Para ajudar, tinha compartilhado
outro papel, com uma oração escrita, datada em 13 de abril de 2004, ou seja, pouco
menos de um mês antes da outra folha com trocas de mensagens.
“Essa oração foi na aula dele
também, só pode”, disse ela, ao que eu confirmei, sim, era. “Medidas em Educação
Especial”, o título da disciplina. E como vocês podem verificar pelo histórico,
não foi 6,0 e sim 6,5, tão bonzinho esse professor.
Comprometedor tantos dados assim,
mas, aviso aos leitores: não fiquem especulando quem era o professor, não vale a pena quem era, vale o aprendizado com tudo isso. Claro que depois de
formado, ainda participando de cursos e eventos na Unesp, reencontrei esse
professor. Reinava o formalismo, a polidez, a educação. Ele está aposentado há muitos anos.
A conclusão: viva as recordações,
viva a amizade, viva a oportunidade de crescer e amadurecer, sempre! Obrigado Aldine
pela sugestão. Feito. Espero que goste do resultado desta “crônica”!
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