Afirmo de antemão que não é objetivo ofender ninguém. Desejo apenas refletir sobre a morte como um negócio. Especialmente, nesses tempos em que a morte figura com mais frequência do que antes da pandemia causada pelo covid-19.
Na pandemia levantou-se a questão: será mais importante preservar as vidas das pessoas ou a economia que movimenta o mercado? Isolamento total ou parcial, etc.
De modo geral, fico a pensar, o que é mais vantajoso, em termos de negócio, no capitalismo, o que traz lucro seguro. Não sou economista, cientista político, muito menos estou defendendo o socialismo ou o comunismo. Quero simplesmente pensar na lógica que nos é imposta.
Se levantarmos as questões básicas para todo e qualquer ser humano, para a manutenção de uma vida confortável, eu listo: 1) alimentação; 2) trabalho; 3) moradia; 4) saúde; 5) educação; 6) lazer e 7) segurança. Parece que algumas questões caminham paralelas e são co-dependentes, por exemplo, saúde e segurança são necessários para trabalhar, conseguir comprar alimentos e pagar aluguel ou a prestação da casa e outras despesas.
Educação e lazer são necessários também para a manutenção da vida confortável, porém, dependendo do contexto social, econômico, podem ser entendidos como “supérfluos” ou “desnecessários”.
Pois bem, se tivesse a oportunidade de abrir um negócio, em que área seria? Uma premissa – das tantas outras – do capitalismo é criar a necessidade do consumidor para que ele deseje aquilo que ele não precisa, a priori. A pior premissa desse sistema é transformar em mercadoria com grande valor agregado, o que é item básico para a manutenção da vida: alimento, saúde e, claro que direi Educação. Educação básica, especialmente, nunca deveria ser mercadoria.
Abrir um comércio de alimento, pensando no alimento preparado, pronto para ser consumido. As pessoas têm vidas agitadas, comem fora de casa e, dependendo do lugar vale muito a pena, não comprar os itens e preparar aa refeições em casa, pois ainda tem o gasto com o gás da cozinha.
Porém, culinária, cozinha é algo que não me agrada. Tenho um amigo, cuja família toda trabalha nesse ramo. Vendem uma comida caseira deliciosa e compramos alguns dias na semana. Ir ao supermercado, comprar arroz, feijão, carnes, verduras e legumes. Preparar os alimentos. Disponibilizá-los no tempo e temperaturas adequados, acertar tempero e agradar os clientes. Lavar as panelas e demais utensílios usados na preparação; lavar pratos e talheres, no caso de clientes que consomem no local. Não! Definitivamente não abriria um comércio de alimentos.
Educação. As escolas particulares não têm alunos, têm clientes. Em sua maioria, visam o lucro, portanto, os professores não são remunerados adequadamente; possuem uma carga de trabalho altíssima, junto com um pressão psicológica muito forte. Já comercializei ensino, sim. Cursos de Libras. Porém, é um conhecimento muito específico; faz o curso e paga quem quer.
Saúde. Segurança. Lazer. Não vou me aprofundar em todos esses itens. A carga tributária no Brasil é altíssima. Sim, sabemos disso. Os impostos, a priori, deveriam proporcionar serviços públicos de qualidade a toda população: Educação, Saúde, Segurança, Transporte, tudo de qualidade. Porém, sabemos que a corrupção e a má gestão dos recursos públicos, basicamente, abrem duas vias bem distintas.
A primeira via: abre-se a “oportunidade” para a iniciativa privada lucrar com Educação particular, Planos de Saúde e de outros setores serem comandados e balizados pela iniciativa privada. A segunda via é: o pobre, considerando o pobre que tem trabalho formal, paga aluguel ou a prestação da casa, outras despesas – água, luz, alimentação, com os filhos na educação pública; a ele e seus familiares “resta” a saúde pública, que pode – e deve – ser eficiente.
Entretanto, os partidos políticos e seus representantes eleitos legislam e executam a legislação para o sucateamento desses serviços. E manipulam as informações para fazer a população acreditar que os serviços públicos são as verdadeiras fontes de mazelas da economia no país. A população, que não tem educação de qualidade, acredita e vota no lobo mau que “cuida” dos porquinhos.
Qual é o ramo mais lucrativo? Vamos afunilar a escolha: qual é o ramo mais lucrativo, mesmo tem tempos de dificuldades econômicas?
Ao considerar as poucas argumentações acima, creio que não é o ramo da alimentação o mais lucrativo, afinal, tem pessoas que não compram comida pronta, compram no mercado e fazem em casa. Tem pessoas que nem comem em casa, pois não tem casa. Tem pessoas que não tem casa, nem comem todos os dias e, aos milhares, morrem!
Saúde só é um negócio lucrativo para quem é dono do negócio, que precisam de clientes que paguem pelos serviços de saúde que vendem. Quem não tem plano de saúde, usa o SUS. Quando o SUS falhar, como eu disse, por má gestão dos recursos, corrupção e tantos outros crimes, os pobres adoecem, a doença pode agravar e, morrem!
Educação, já comentei acima, deveria ser universal, gratuita e de qualidade para todos. Até mesmo as universidades. O que não significa que não deva existir faculdades e universidades particulares. O que não pode é querer destruir a universidade pública para privilegiar o mercado, “educação como mercadoria”. O que não pode é dinheiro público ser injetado nas particulares, como foi o PROUNI, pois, ainda que o objetivo seja justificável – oportunizar o acesso do pobre ao ensino superior – que o poder público faça isso por meio da universidade pública e não privada. Vamos investigar os desvios e abusos que ocorreram com as verbas destinadas ao PROUNI e FIES?
Não ter educação não mata, a priori! Porém, ouso afirmar que a médio e longo prazo, a ignorância é uma arma letal e tem matado aos milhares também. Os mais vulneráveis são os pobres. Morrem os pobres alfabetizados, os pobres analfabetos, os pobres sempre morrem!
Segurança pública, bah. Não vou me estender mais.
A morte é, em suma, o ramo mais lucrativo! Pobres e ricos morrem – mais pobres que rico, pois proporcionalmente, há mais pobres do que ricos. Pobres e ricos querem enterrar com dignidade seus mortos. Para se diferenciar do pobre, os ricos criaram outras opções, como a cremação, como opção ecologicamente correta, inclusive.
Mesmo em tempos de guerra, eu estava tentado a dizer que a morte não é lucrativa. Como não? O que são as guerras, senão produção em massa da morte. Pode-se não lucrar com caixões e rituais, afinal, corpos e corpos são jogados em valas coletivas. Basta lembrar o holocausto – é dever nunca esquecermos!
A primeira vez que ouvi a frase do título “Funerária Santa Luzia, sua morte é a nossa alegria!”, a pessoa disse atendendo o telefone, como pegadinha. Achei de uma deselegância, de uma afronta, de um desrespeito com a morte. Passados alguns anos, vivido o que vivi – individualmente e, também observando o comportamento da humanidade nesses tempos de pandemia, tendo o Brasil como um dos piores países a enfrentar o problema, chego a cogitar: por que não?
Claro que não! Não tenho estrutura para trabalhar diariamente com a morte e ainda mais lucrando com isso. Enterramos um passarinho, enterramos o Blup Blup (peixinho do Lorenzo), enterramos os gambás... quantos e quantos velórios e enterros de familiares, amigos e conhecidos...
Viver
e morrer para os humanos não é tarefa pouca!
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