“Talvez” é a minha palavra preferida
atualmente. Palavra, cujo significado e aplicação, produzem um aparente
equilíbrio nos mais variados contextos da minha existência, em particular.
Talvez, “maybe” em Inglês também é
sonora, “forse” em Italiano... porém, não importa a língua, a escrita, o som, o
significante – a la Saussure... Importa o seu significado: “talvez, advérbio de
dúvida, indica possibilidade, mas não certeza”. Popularmente, dizem que a única
certeza da vida é a morte. Sim, vou morrer, certeza! Então, é a vez de usar a
palavra “talvez”: Talvez idoso, talvez amanhã ou até mesmo hoje.
Talvez, a vida seja isso mesmo: a dúvida.
Uma coisa é saber ser um sujeito histórico, outra coisa, é viver e sentir na pele a História sendo escrita. Todos os dias, meses e anos passados antes da pandemia também era a História sendo construída. Porém, a pandemia no Brasil teve efeito negativo exponencial devido à imbecilidade do que temos por presidente e seus ministros.
Já não acompanho notícias a respeito – pandemia, política - muito menos sei o número de mortes por covid-19 no dia de hoje – uma pesquisa rápida no Google aponta 141.441 mortes (27 de setembro de 2020).
As redes sociais já não me atraem como antes; um belo dia, resolvi apaga-las do meu celular e passei uns dez dias em “sossego” – um sossego específico, das notificações das redes sociais, livre da “necessidade” de rolar a tela para acompanhar as publicações das pessoas que tenho como “amigos”. Um sossego!
Talvez, nossa essência humana não foi feita para isso: 1) relacionamentos virtuais, 2) dar conta de tantas pessoas e situações ao mesmo tempo. O isolamento social tem nos ensinado que nada substitui a proximidade, o contato com um grupo real de pessoas e situações concretas - mesmo que falemos de temas abstratos.
Voltei a baixar os aplicativos, mas o retorno não foi igual. Perdi o encanto das redes sociais. Assim como perdi o encanto sobre muita coisa desse mundo insano.
“O dilema das redes”, documentário novo da Netflix, tem causado um certo furor. Pessoas importantes que contribuíram para a criação de mecanismos existentes nas redes sociais fazem uma série de denúncias. A conclusão de que os usuários são os verdadeiros produtos, comercializados, adestrados para desejar o que não precisam e consumir. Tal conclusão não me assustou. É sabido que somos vigiados e esses algoritmos cumprem o objetivo de quem os mantem: gerar riqueza para seus donos.
Com potencial enorme para servir de controle num sistema de autoritarismo para o qual caminhamos.
Os dias no isolamento social vão passando e é com um certo assombro que penso nessa “novidade” do século XXI: “seis meses se passaram!”, sem a rotina costumeira: trabalho-casa-casa-trabalho para simplificar, com as demais obrigações, atividades e exigências do cotidiano: levar e buscar os filhos na escola, igreja, lazer... Seis meses dentro de casa, saindo apenas para o necessário: supermercado.
O vício que tenho alimentado ininterruptamente e hoje completou 100 dias é o Duolingo, aplicativo de aprendizagem de línguas estrangeiras. A primeira vez que usei foi em 2013 e de lá para cá, entre altos e baixos, tentando conciliar o uso do aplicativo com aquelas tarefas do dia a dia, falhei muitas e muitas vezes.
O aplicativo foi criando, o que chamo de artimanhas, para prender os usuários, para além da meta diária – a constância que se deve manter, há um tempo tem uma competição entre os aprendizes. Há “ligas” que semanalmente podem ser conquistadas se ficar entre os 10 primeiros naquela semana. Se ficar entre os três primeiros, há outras vantagens e se terminar em primeiro, então, ganha “lingots”, ganha “escudos” e “brasões. Por exemplo, estou a ponto de conquistar o escudo “Champion” por avançar para a Liga Diamante, aparentemente a última. E se, na Liga Diamante, eu terminar em primeiro, ganho o escudo de “A lenda”.
Há também as histórias, que são diálogos em diversas situações (museu, supermercado, etc), porém, disponível para poucas línguas. Geralmente, as mais conhecidas no ocidente (Alemão, Italiano, Francês) para quem faz o curso em Inglês.
É tão crazy o bagulho que, semana passada fiquei ela toda em primeiro lugar até que, no último dia, domingo, uma pessoa me ultrapassou sem deixar oportunidade para eu retomar ao posto de primeiro lugar. Terminei a semana com pouco mais de 3000 XP, em segundo lugar.
Nessa semana, oscilei entre oitavo e sexto lugar. Hoje, últimas 10 horas de competição, estou em 10º lugar com 2725 XP, o 11º está com 2550 XP, ou seja, posso perder o posto e não ser promovido para a liga diamante – a última. O primeiro lugar está tão obstinado em ser o primeiro que disparou sem precedente, estando atualmente com 17889 XP.
Atualizando a informação acima: avancei para a oitava posição, porém, nos últimos minutos me distraí (comendo), terminando a semana em 11º, ou seja, permaneço na mesma liga.
Fiz questão de registrar tudo isso, pois realmente, as lições do Duolingo têm sido meu melhor passatempo, mais que as redes sociais, pois, tenho me divertido aprendendo vocabulário nas línguas que estou estudando. Até pouco tempo atrás estava me dedicando quase que exclusivamente ao Francês (feito em Português).
Também tinha iniciado há muito tempo atrás, o Italiano, porém, em Inglês. Achei incrível a ginástica cerebral nessas lições. Também estudava Alemão (em Português), Grego (em Inglês) e Guaraní (em Espanhol). Iniciei por curiosidade e sem sucesso: Esperanto, Russo, Japonês...
Grego e Guaraní são exóticos, mais ainda o Grego por conta da escrita, não usar o alfabeto romano é estranho e divertido. Então decidi que não mais estudaria Alemão e Francês em Português; mudei ambas as línguas para aprender em Inglês e tem sido divertido.
Esses dias fiz uma postagem sobre o pronome “nosotros” em Guaraní que reproduzo a foto aqui abaixo. Escrevi que esse tipo de descoberta me deixa feliz e é a mais pura verdade. Todavia, uma felicidade sem sentido, ou melhor, me deixa feliz e nada mais que isso!
Num dos textos recentes do meu blog (Sobre bombas e guerras – Hiroshima e Nagasaki) eu terminei desse modo: “Guardei comigo durante muito tempo a doce ilusão de que existiam meninos e meninas do dedo verde espalhados pelo mundo, que pudessem, a seu tempo e a seu modo, mudarem seu ambiente e, consequentemente, as pessoas e circunstâncias. A ilusão se perdeu! Resta-me a alegria da palavra”.
A alegria da palavra é o que me resta. Tenho expandido essa alegria para outras línguas, por isso minha dedicação às lições do Duolingo.
“GATO” em Francês é “CHAT” (lê-se “chá”), e “THÉ” é “chá”, a bebida. Em contrapartida, “GATEAU” (”gatô”) é “BOLO”. “GARÇON” (menino), “FILLE” (“menina”). Descobrir que “maçã” é “POMME” e relacionar com o “pomo de Adão” e a lenda do homem que engoliu a maçã proibida no Éden, por isso, anatomicamente os homens possuem o pomo de Adão – mulheres também possuem, porém, não “crescem” e as mulheres que possuem “pomme”, sofrem bullying.
Sem contar com as aproximações e distanciamentos entre todas as línguas estudadas, não somente com o Português:
“karoto” em Grego (καρότο)
“carrot”
em Inglês
“carota”
em Italiano
“carotte”
em Francês
“Karotte”
em Alemão
Em Espanhol e Português que se distanciam dessa referência: “zanahoria” e “cenoura” (sonoramente mais próximas uma da outra).
Poderia fazer essa brincadeira com tantas outras palavras, que possuem parentesco gráfico ou sonoro. Tem outras que são descobertas malucas, por exemplo, “skilos” em Grego é “cachorro” e “esquilo” é “skiouros”. Algumas palavras em Francês estão numa categoria mental que criei - “palavras sonoras e lindas”: “parapluie” (guarda-chuva), “boulangerie” (padaria) e “poubelle” (cesto de lixo).
Pedir “desculpas” em Alemão é um palavrão com 14 letras com apenas 4 vogais: “Entschuldigung”. “Água” em Francês (“eau”, que se lê “ô”) e em Guaraní é o minimalismo da palavra escrita e falada “y” (que não sei reproduzir uma proximidade de como se pronuncia, pois é bem gutural).
Sem contar as sentenças que só o Duolingo formula: "Eu sou um urso", "Ele come uma baleia", "O pato bebe meu xampu", para citar algumas mais recentes e que recordo. Vou colocar alguns poucos - dos muitos - prints que faço e me divirto duplamente com essas frases a la Duolingo (prints no final do texto).
Passatempo, aprender vocabulário em diversas línguas. Passar o tempo. O tempo da existência terrestre. É apenas um jogo. Um jogo non-sense, mas um jogo.
Tenho cada vez mais certeza de que é um jogo, jogo cruel - por isso non-sense. Porém, minha certeza devesse ser amenizada com um “talvez”, minha palavra preferida atualmente.
Convido-os à razoabilidade – sejamos razoáveis! Digam se não é uma crueldade nascer humano, ter consciência da finitude da vida – existe para morrer; amar, ser amado, sofrer, perder, sempre intimados a nos conformar: é assim!
E se, a "esperança" dessa vida é em outra dimensão, perde-se qualquer sentido de tudo o que padecemos em vida.
Talvez eu deva parar por aqui. Guardo dentro de mim muitas indagações. Indagações que já perderam a inocência. Não são simples indagações. Um dia, talvez, essas outras indagações ganhem o exterior. Talvez! Maybe! Forse!
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