O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

domingo, novembro 22, 2020

O TEXTO DE UMA VIDA INTEIRA

 



[o texto contém links em algumas palavras e frases, que direcionam para as referências de outros textos, meus ou de outros]

Como pode um texto ser de uma vida inteira? Não cabe a vida inteira numa folha de papel, em mil palavras ou em dez mil palavras ou cem mil, seja quantas forem. A vida real, de todas as horas, minutos, segundos que se tornam dias, meses, anos, décadas. Pois é o que somos, seres mortais, um amontado de décadas. Duas datas na lápide!

Mas, o intervalo entre elas, ah, é sobre isso que escrevo. A vida! A vida real. A vida real não cabe no papel, seja num romance, numa novela, numa peça de teatro, num roteiro de filme. Ainda que autobiográfico, não cabe, o papel não comporta. Por isso, entre outras maravilhas do texto escrito, amo o poema “Biografia”, de Cecília Meireles.

Entretanto, o fato e a consciência da vida real não caber no papel, não é impeditivo para escrever. É preciso escrever. Escrever, escrever, escrever! Por necessidade, como é o meu caso, escrevo. Já escrevi muito mais em anos passados do que escrevo hoje. Sem preocupação com regras e estilo, escrever para mim primeiro, na tentativa de ser compreensível depois. Folhas e mais folhas do que chamei de diário, devocionais, orações escritas, percepções dos dias. Escrever!

Escrevi tanto, tanto, que criei um calo nos dedos da mão direita, pois coube a mim ser destro, ainda que desejei ser canhoto ou um ser completo: ambidestro (canhodestro!) Escrevi sobre isso num dos meus trabalhos favoritos, redigido para uma disciplina da universidade. Escrever para mim sempre foi um imperativo, escrevi assim. Da minha família – pai, mãe e irmãos, sem pestanejar, sou o que mais escrevi. Mil vezes mais.

Porém, há outros sujeitos que já morreram inclusive, mais jovens e, que escreveram dez mil vezes mais que eu. Há aqueles que continuam escrevendo e escrevendo, por muitos motivos: pessoais, políticos, religiosos, financeiros. O importante é escrever!

Escrevi num dos grupos de whatsapp que participo que precisamos nos apropriar do poder da palavra. Da palavra falada: ouvir aos outros, pensar, refletir, ponderar e também falar. Falar e falar bem também é uma arte. Apropriar-nos da palavra escrita: ler, ler, ler, ler muito, todo tempo, tudo que quiser e puder ler. Também escrever, escrever, escrever e escrever.

Antes de escrever no grupo de whatsapp, disse o mesmo para um grupo de jovens do Ensino Médio, alunos de uma grande amiga-irmã, que me convidou para falar com sua turma sobre o meu amor por Cecília Meireles – pois ensinava a eles um determinado período da poesia brasileira e alguns poetas, entre eles Cecília. Tenho esperança de que minhas palavras tenham surtido efeito. Ao menos, que sejam sementinhas que no devido tempo, florescerão.

Vencida a timidez de pelo menos duas décadas de vida, na universidade, preparando-me para ser professor, seminários, estágios, regências. Vida acadêmica, mestrado e doutorado, entre um e outro tornei-me professor. Falei muito sobre muitos temas: Educação, Educação Especial, Educação de Surdos e tenho lido, escrito e falado sobre muitos outros novos assuntos. É um oxigênio para mim!

O texto de uma vida inteira! Estará no bilhete do suicida? Numa carta de amor? No testamento de um moribundo? O texto de uma vida inteira está na soma de todos os escritos que uma pessoa escreveu em vida? Talvez, pois o que escrevi nos idos dos meus 19 anos não sou eu. Aqueles escritos registram uma pequeníssima parcela do autor que fui naquela época.

Não importa! O importante é escrever. Escrever, escrever, escrever. Um dia, quando a data derradeira chegar, a segunda data da lápide estiver determinada, pois a morte é pragmática, o texto de uma vida inteira, da minha vida, alguém se interesse em reunir, tudo o que escrevi e buscar um sentido, interpretações, o que eu estava vivendo na época, o que eu queria dizer com este e aquele trecho... Será petulância acreditar que alguém se interessaria por minhas palavras? É a ilusão de uma possível eternidade, como desejou Anne Frank e escreveu no seu diário, escondida no sótão.

Lá nos idos de 2003, escrevi um “poema” intitulado “Perdoe-me se eu morrer”. “Perdoe-me se eu morrer ao amanhecer”, “Perdoe-me se eu morrer ao entardecer”, “Perdoe-me se eu morrer ao anoitecer”, “Perdoe-me se eu, simplesmente, morrer” são as frases iniciais das quatro estrofes do poema.

Tenho manuscritos, tenho textos digitados, perdidos nos meus computadores antigos, no Google Drive, em folhas avulsas, tenho dois blogs, um que continuo “alimentando” e outro que agora é um museu virtual, reunindo trechos daquele que será o meu texto de uma vida inteira.

Tenho necessidade de escrever sobre tantos assuntos: vida e morte são uma constante, mas também escrevo sobre leituras que me marcaram, sobre fatos corriqueiros que ganham importância – ao menos para mim, por isso escrevo sobre eles. Escrevi sobre uma mala que viajou 11 dias! Escrevi sobre a dominação das formigas!

Escrever é terapêutico. Sim. É um exercício catártico! Aconselho: escrevam. Foi assim que escrevi o meu primeiro livro “Cartas do Menino do Quarto para o Mundo”, nesse ano de 2020: um processo terapêutico sobre o processo de identificação da superdotação já adulto.

Como disse a querida Professora Stela Muller, quando eu estava na universidade: mesmo que escrevemos para não mostrar para ninguém, escrevemos para nós mesmos, somos nossos primeiros leitores. Ao lermos o que escrevemos é como aquela sensação do seu espírito fora do corpo, você está vendo a si próprio.

Portanto, escreva! E quando tiver coragem, compartilhe o que escreve. Primeiro com os amigos mais próximos, depois com as pessoas que vão se aproximando e, de repente, terá amigos que primeiro conheceram seus escritos.

Por fim, as pessoas do futuro saberão da sua existência, por que teve coragem de escrever. Assim como conheço Clarice, Cecília, Albert, Doyle, Drummond, Veríssimo pai, Veríssimo filho (vivo), Bandeira, o Manuel e o Pedro (vivo). Tantos outros e não tão famosos, mas que leio, e aprendo, e cresço, pois tiveram coragem de escrever.

Escrevam! Para vocês mesmos, para aquela determinada pessoa, para todo mundo. Escreva para mim!

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