Não serei prolixo nesta reflexão de final de ano. Espero não sê-lo!
O que escrever sobre 2020? Este ano tão fora de série que vivemos, e se estou escrevendo, é porque passei por ele. Não ileso, é preciso registrar!
Cada um sentiu a seu modo; vivemos e sentimos os acontecimentos internacionais, nacionais, regionais, locais e pessoais igualmente: cada um a seu modo e com intensidades distintas.
Comecei o ano em endereço novo, a mudança tinha acontecido em 14 de dezembro de 2019.
Paula, Lorenzo e Benjamin viajaram para Itanhaém-SP (05/01/2020). No meu caso foram duas semanas no litoral paulista (09 a 23/01/2020). Participamos da “campanha” do ministério infantil da igreja que fazemos parte... Quem é de igreja pode imaginar como funciona. O propósito é evangelístico, com apresentações artísticas e esportivas: danças, teatros/esquetes e futsal.
Tinha dois trabalhos como professor, em duas instituições diferentes. Abandonei um emprego, ainda em janeiro, pois eu estava longe fisicamente desse trabalho e, segundo instâncias superiores eu deveria estar no trabalho, mesmo sem alunos, sem atividades, era preciso estar lá, cumprindo hora, assinando a folha ponto dia a dia... E, tenho o direito de contestar?
Engraçado! Quando fazia horas adicionais nesse mesmo local, para além das obrigações, ninguém chamava minha atenção, seja para orientações de TCC, grupo de estudos, correções de trabalhos e tantas outras atividades que não cabem no Lattes... – eu fazia, porque amava. Tudo bem! Foi livramento, talvez!
Final de janeiro, início de fevereiro recebemos pela primeira vez em casa, Marcela, minha cunhada, irmã da Paula. Direto de Oruro, Bolívia. Ela ficou conosco duas semanas e foram dias incríveis.
Chegou para ficar a Lupita, nossa shitzu, que agora é membro oficial da família. Fez uma enorme diferença nesse período de isolamento social tê-la em casa!
A mudança de endereço teve o propósito de abrirmos um negócio particular aqui em casa. Um espaço para os cursos de Língua de Sinais e outras atividades que tínhamos em mente.
Todavia, quando iniciamos as aulas em março, logo veio a pandemia. Todo investimento com a mudança, compra dos móveis e equipamentos para a sala de aula ficou tudo parado!
O trabalho que me restou, como professor contratado de uma universidade pública foi o que nos sustentou nesse tempo todo. Não nos faltou nada, porém, tivemos que fazer muitos cortes. Sinto um peso na consciência só de pensar em reclamar, sabendo que famílias inteiras tiveram que sobreviver com os R$ 600 do auxílio emergencial, considerando as famílias que conseguiram o auxílio... tantas outras nem isso! Não vou reclamar da nossa situação financeira!
Lancei um livro! O meu livro! Não foi o lançamento planejado, mas o livro “Cartas do Menino do Quarto para o Mundo” (Apprenhedere Editora) já está nas mãos de tantas pessoas diferentes, em várias partes do Brasil: Ceará, Paraná, São Paulo, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro. Também enviei o PDF para a Holanda e Canadá, para dois amigos, Shirlene e Tiago, respectivamente. Também foi para a Nova Zelândia, para uma pessoa que “conheci” num dos grupos de superdotados adultos que faço parte.
Aprendemos a viver sem plano de saúde, pois o plano estava vinculado ao emprego que abandonei em janeiro. Estamos sendo abençoados pelo Sistema Único de Saúde. Viva o SUS!
Li muito nesse ano, como há anos não fazia. Até entrei para dois Clubes de Leitura, do qual um, participo ativamente.
Perdi minha avó materna em 20 de agosto de 2020. Ela já vinha doente, foi diagnosticado um câncer, foi debilitando e morreu. Não pude visitá-la antes e não pude ir ao velório e enterro. Parece mentira que ela não está mais neste plano terrestre, porém, quando penso em todo sofrimento de vida dela e tudo o que estamos vivendo, não estar aqui parece muito melhor acreditar que ela está onde sempre desejou estar: no céu com Jesus.
Perdi outras coisas mais: inocência, encantamento, perspectivas... fui tomado por um realismo cruel, mas tenho sobrevivido a ele. Crescer, amadurecer, evoluir dói, dói muito! Perder o chão, estar em queda-livre acordado. Questionar TUDO o que até então acreditava. Quem assistiu ao filme “Divertida Mente”, sabe quando as ilhas internas da Rilley se desintegram? A sensação é parecida. Desintegração total!
Devo registrar meus agradecimentos à minha esposa e filhos. Somos todos sobreviventes!
Apesar de tudo, seguimos!
Eu teria muito mais a escrever, todavia, eu iniciei escrevendo que não seria prolixo.
A única certeza que tenho agora é 2020 termina hoje, em poucas horas, mas 2020 não sairá de mim e, creio que ainda valerá tantas outras reflexões.
Adeus,
2020.
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