Londrina-PR, 26 de junho de
2020, é uma sexta-feira nublada e fria, terceiro mês de confinamento,
isolamento social devido a pandemia do novo coronavírus. Há poucos minutos
encerrei a leitura de "O Diário de Anne Frank" pela segunda vez. A
primeira leitura fiz aos 16 anos, recomendado por uma colega da Legião Mirim em
Marília-SP. Não consigo me lembrar o nome dessa colega, afinal, nossa interação
foi por volta de três meses.
Claro que a primeira leitura
me impressionou a ponto de passar a nomear meu diário - meu Querido Pirrô,
assim como Anne nomeava seu diário, a querida Kitty. A segunda leitura, meu
Deus, meu Deus, dói mil vezes mais. Aos 39 anos de idade, casado, com dois filhos,
acumuladas tantas outras vivências, dói muito, profundamente, por tudo que
vivemos na atualidade, além da pandemia, a situação política, econômica, social
e educacional no Brasil agravadas pela pandemia! A humanidade é doente...
Chego a acreditar que Anne
Frank foi uma garota superdotada, com muitos indicadores para chegar a essa
conclusão. A Segunda Guerra Mundial para mim sempre foi um tema assombroso
demais, inacreditável, aterrador, imaginar que a humanidade chegou nesse nível.
Ler o diário de Anne faz com que o horror ao nazismo, Hitler, fascismo,
Mussolini e tudo dentro deste pacote seja multiplicado por 1000. Grifei nesse
livro que ganhei da minha esposa em 12 de junho de 2020, alguns trechos que me
saltam aos olhos, seja por concordar com Anne, seja pela prova de que esta
garota era muito à frente de seu tempo.
A data em que ganhei o livro
era o 91o. ano de nascimento de Anne, mas ela viveu somente 15. Na página 279
deste exemplar, edição de bolso, Anne escreveu: "quero continuar vivendo
depois da morte! E é por isso que agradeço tanto a Deus por ter me dado esse
dom, que posso usar para me desenvolver e para expressar tudo o que existe
dentro de mim!". Anne realizou seu desejo: continua viva depois de sua
morte.
Algo que passou o tempo todo
em minha mente nessa segunda leitura é: quem eu seria naquele contexto de
guerra? As duas famílias escondidas foram ajudadas por cristãos. Eu seria esse
tipo de cristão? Ou seria como a maioria, tipo "umbiguista", não é
conosco, cristãos, não é comigo! Aliás, "Deus", o "Deus
cristão" que sempre esteve no discurso dos nazistas/fascistas, assim como
está nos discursos dos políticos, não só dos políticos atuais, mas ao longo da
História, que defendem os valores e a moral da família de bem. Quem seria eu
naquele contexto?
Eu teria muito para
escrever, mas são tempos malucos: "Kitty, Anne é maluca, mas estes são
tempos malucos e as circunstâncias são ainda piores. A melhor coisa é poder
escrever todos os meus pensamentos e sentimentos, do contrário, iria me sufocar"
(p. 247). Sei como é esse sentimento, Anne: não escrever é acumular a ponto de
explodir. Como eu disse acima, teria muito mais para escrever, se eu escrever
tudo que penso, ai, ai, ai, ai, serei expulso de muitos círculos de amizades.
Não me importo! Só não
escrevo, não por medo da expulsão, mas para manter a falsa ilusão de que
algumas poucas coisas continuam no lugar, entretanto, estou muito consciente -
todos os dias, horas, e minutos - de que tudo está desarranjado há muito
tempo, tudo perdeu o sentido!
Não sejam superficiais e
rasos no julgamento, não me refiro a política e a pandemia somente; antes da
pandemia, antes desse governo desastroso, o sentido de tudo já desmoronava.
Posso dizer que é admirável o modo como as pessoas se agarram à filosofias de
vida, à religião, algumas não apenas seguem agarradas a elas, mas as defende
com unhas e dentes, e armas e outros formas de controle.
Por hora, não estou
defendendo nada. Sigo nesse mar infinito de “nonsense”...
Fim.
Um comentário:
Eu ainda não li o Diário de Anne Frank, mas será minha próxima leitura com certeza. Concordo com vc André em muitos aspectos. Quando confrontamos passado e presente a sensação é de que não saímos do lugar. Os métodos se aperfeiçoaram: "todo mundo vai morrer um dia" e por aí vai. Triste!!
Postar um comentário