O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

sexta-feira, novembro 30, 2007

INVECE IL CENTO C’É

Il bambino
é fatto di cento.
Il bambino ha
cento lingue
cento mani
cento pensieri
cento modi di pensare
di giocare e di parlare
cento sempre cento
modi di ascoltare
de stupire di amare
cento allegrie
per cantare e capire
cento mondi
da scoprire
cento mondi
da inventare
cento mondi
da sognare.
Il bambino ha
cento lingue
(e poi cento cento cento)
ma gliene rubano novantanove.
la scuola e la cultura
gli separano la testa dal corpo.
Gli dicono:
de pensare senza mani
di fare senza testa
di ascoltare e di non parlare
di capire senza allegrie
di amare e di stupirsi
solo a Pascua e a Natale.
Gli dicono:
di scoprire el mondo che già c’é
e di cento
gliene rubano novantanove.
Gli dicone:
che il gioco e il lavoro
la realtà e a la fantasia
la scienza e l’immaginazione
il cielo e la terra
la ragione e il sogno
sono cose
che non stanno insigne.

Gli dicono insomma
che il cento non c’é.
Il bambino dice:
invece il cento c’é.

Loris Malaguzzi

In: EDWARDS, C.; FORMAN, G.; GANDINI, L. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Tradução Dayse Batista. Porto Alegre: Artmed, 1999.

Le risposte più vere, (Madre Teresa di Calcutta) - As respostas mais verdadeiras

Il giorno più bello? Oggi.
O dia mais belo? Hoje.

L’ostacolo più grande? La paura.
O maior obstáculo? O medo.

La cosa più facile? Sbagliarsi.
A coisa mais fácil? Errar.

L’errore più grande? Rinunciare.
O maior erro? Renunciar.

La radice di tutti i mali? L’egoismo.
A raiz de todos os males? O egoísmo.

La distrazione migliore? Il lavoro.
A melhor distração? O trabalho.

La sconfitta peggiore? Lo scoraggiamento.
O pior fracasso. O desânimo.

I migliori professionisti? I bambini.
Os melhores profissionais? As crianças.

Il primo bisogno? Comunicare.
A primeira necessidade? Comunicar.

La felicità più grande? Essere utili agli altri.
A maior felicidade? Ser úteis aos outros.

Il mistero più grande? La morte.
O maior mistério? A morte.

Il difetto peggiore? Il malumore.
O pior defeito? O mau humor.

La persona più pericolosa? Quella che mente.
A pessoa mais perigosa? Aquela que mente.

Il sentimento più brutto? Il rancore.
O sentimento mais selvagem? O rancor.

Il regalo più bello? Il perdono.
O presente mais belo? O perdão.

Quello indispensabile? La famiglia.
Aquilo que é indispensável? A família.

La rotta migliore? La via giusta.
O melhor caminho? A via justa.

La sensazione più piacevole? La pace interiore.
A sensação mais prazerosa? A paz interior.

L’accoglienza migliore? Il sorriso.
A melhor acolhida? O sorriso.

La miglior medicina? L’ottimismo.
A melhor medicina? O otimismo.

La soddisfazione più grande? Il dovere compiuto.
A maior satisfação? O dever cumprido.

La forza più grande? La fede.
A maior força? A fé.

Le persone più necessarie? I sacerdoti.
As pessoas mais necesarias? Os sacerdotes.

La cosa più bella del mondo? L’amore.
A coisa mais bela do mundo? O amor.

Tradução livre: André Luís Onório Coneglian
Retirado de:
http://paroledivita.wordpress.com/, acesso dia 24/11/2007

sábado, julho 07, 2007

Pistóia - Cemitério Militar Brasileiro

Eles vieram felizes, como
para grande jogos atléticos,
com um largo sorriso no rosto,
com forte esperança no peito,
- porque eram jovens e eram belos.

Marte, porém soprava fogo
por estes campos e estes ares.
E agora estão na calma terra,
sob estas cruzes e estas flores,
cercados por montanhas suaves.

São como um grupo de meninos
num dormitório sossegado,
com lençóis de nuvens imensas,
e um longo sono sem suspiros,
de profundíssimo cansaço.

Suas armas foram partidas
ao mesmo tempo que seu corpo.
E, se acaso sua alma existe,
com melancolia recorda
o entusiasmo de cada morto.

Este cemitério tão puro
é um dormitório de meninos:
e as mães de muito longe chamam,
entre as mil cortinas do tempo
cheias de lágrimas, seus filhos.

Chamam por seus nomes, escritos
nas placas destas cruzes brancas.
Mas, com seus ouvidos quebrados,
com seus lábios gastos de morte,
que hão de responder estas crianças?

E as mães esperam que ainda acordem,
como foram, fortes e belos,
depois deste rude exercício,
desta metralha e deste sangue,
destes falsos jogos atléticos.

Entretanto, céu, terra, flores,
é tudo horizontal silêncio.
O que foi chaga, é seiva e aroma,
- do que foi sonho não se sabe
e a dor vai longe, no vento...

____________________

Pistoia - Cimitero Militare Brasiliano

Felici essi vennero, come
per grandi gare sportive,
con largo sorriso sui volto,
perch'erano giovani e belli.

Ma Marte soffiava fuoco
in questi campi e in quest'aure.
E ora stanno nella terra calma,
sotto queste croci e questi fiori,
cinti di soavi montagne.

Son come un gruppo di bimbi
in un dormitorio tranquillo,
con lenzuola d'immense nubi,
e un lungo sonno senza sospiri,
di profondissima stanchezza.

Le loro armi furono spezzate
insieme con il loro corpo.
E se per caso hanno un'anima
con malinconia ricordano
l'entusiamo di ogni morto.

Questo cimitero si puro
è un dormitorio di bimbi:
e le madri da lunge chiamano,
tra le mile cortine del tempo,
piene de lagrime, i loro figli.

Chiamano i loro nomi, scritti
sulle placche delle croci bianche.
Ma, con le orecchie spezzate,
con le labbra corrose dalla morte,
come rispondere, queste creature?

Quelle ancor sperano che si destino,
tal qualli furono, forti e belli,
dopo questo rude esercizio,
questa mitraglia e questo sangue,
queste false gare sportive.

Intanto, e cielo, e terra, e fiori,
tutto é orizzontale silenzio.
Quel che fu piaga, è linfa e aroma,
- di quel che fu sogno non si sa -
e il dolore va lontano, nel vento.

In: Poemas Italianos - Cecília Meireles, com versão italiana de Edoardo Bizzarri. São Paulo: Instituto Ítalo-brasileiro, 1968. p. 78-81.

sexta-feira, junho 22, 2007

VIAGEM À ILHA DE SANTA CATARINA – RELATO EM 3 PARTES


Por André Luís Onório Coneglian: aquele que viajou até lá!
Data da viagem: 18/06/2007 a 21/06/2007

Introdução

Creio que nada é mais emocionante que viajar, conhecer lugares e pessoas, viver situações novas e inusitadas. Depois de viajar para alguns lugares e algumas vezes posso afirmar que adoro viajar. Sempre adorei histórias, as narrativas com cenários, pessoas e as ações, sejam histórias contadas por outros, sejam elas lidas em livros[1]. Mas, oportuna felicidade é poder contar as histórias vividas nas andanças particulares. A última realizada nesta semana foi inspiradora, repleta de fatos e circunstâncias, impossível não registrar. Por isso este relato!

As três partes, Uma viagem frustrante, Uma viagem chocante e Uma viagem emocionante são as somatórias dos fatos e circunstâncias, e é óbvio, das pessoas envolvidas, inclusive deste que vos escreve, ora como observador, ora como participante e ora como mero narrador - dos meus pensamentos e percepções de algumas experiências.

Espero que o registro destes dias fantásticos fique para a posteridade; 13 horas para chegar, 13 horas para voltar e apenas um dia e meio na Ilha de Santa Catarina – Florianópolis. Também é uma forma de homenagear e agradecer a todos os envolvidos, de uma forma ou de outra, que tornaram possível a realização desta viagem, cujo motivo primordial e principal foi a coleta de dados para a minha pesquisa, que resultará na minha dissertação de mestrado.

Apenas para melhor informar o contexto desta viagem: sou aluno regular do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação, UNESP-Marília, sob orientação da Professora Dra. Helen Castro da Silva Casarin, na linha de pesquisa “Organização da Informação”; meu tema é a “Caracterização do comportamento informacional de pós-graduandos surdos”, os quais se concentram grande parte no Grupo de Estudos Surdos – GES, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Assim, as partes não estão divididas em ordem cronológica, mas sim agrupadas nas categorias frustrante, chocante e emocionante, devido às características dos fatos e percepções sobre os mesmos. Vamos às três partes, então. Boa leitura e boa viagem!

Uma viagem frustrante

Iniciar a primeira parte com a frustração é estratégico. Poderia ser a segunda, mas não a última. Devemos aprender a lidar com as frustrações que a vida vai nos apresentando... Algumas pessoas lidam muito bem com elas, outras nem tanto. Creio que a educação que meus pais me proporcionaram me permitiu aprender com as frustrações vividas ao longo desses 26 anos de idade – sei que pareço um velho escrevendo desta maneira, mas sei ser criança quando quero e quando é conveniente. O problema é que muitas pessoas agem como crianças a vida toda e são essas que não sabem de forma alguma lidar com as frustrações.

A maior frustração foi não passar mais dias na cidade de Florianópolis; conseqüentemente, esta frustração gerou as demais, como: não conhecer os lugares turísticos da Ilha como o centro histórico, o Mercado Municipal. Muito menos ir à praia!

Imaginem: o ônibus circular que me levou até a UFSC, passou pela avenida Beira Mar – sabe por que a avenida tem esse nome? Por isso mesmo, ela beira o mar... uma visão incrível: avenida larga, pistas que vão, pistas que vem, carros, ônibus, pontos de ônibus, semáforos, pessoas, calçadão e ele: o mar, imenso, lindo, o céu azul e eu dentro do ônibus – boquiaberto, feliz momentaneamente, vendo tudo aquilo pela primeira vez, mas sabendo que não desfrutaria de nada...

Não tirei nenhuma foto sequer do mar, o que é pior!

Com relação ao principal objetivo da minha ida até Florianópolis, as frustrações foram mínimas e compensadas por outros fatos e circunstâncias, mas apenas para constar: não conhecer todos os integrantes surdos do GES, (doença, viagem a trabalho, viagem pessoal e outros). A filmadora, emprestada de última hora, funcionou no quarto da pensão, mas na hora não! Sinais vistos foram congelados pela câmera fotográfica, pouquíssimos! Sem contar que alguns setores da UFSC entraram em greve um dia antes da minha chegada, como as bibliotecas, as quais eu precisava ter visitado.

Frustração por ter que ir embora, justo quando estava aprendendo a me encontrar pela UFSC, gigante que é; conhecer aos bairros adjacentes e a dinâmica dos itinerários dos ônibus. Frustração por deixar pessoas incríveis, recém conhecidas, em seus afazeres e atividades cotidianas.

A frustração existiu, mas não é o que permanece. “Em tudo, dai graças!” escreveu o apóstolo Paulo ao tessalonicenses (I Ts 5: 18a).

Uma viagem chocante

Como eu gostaria que esta parte não precisasse ser escrita! Mas, infelizmente, os fatos existiram e foram marcantes. Aproveitarei para dar o itinerário que fiz nesta viagem. Segunda-feira, dia 18/06, às 22h00 peguei o ônibus da Princesa do Norte com destino a Curitiba-PR, foram 8 horas de viagem.

Às 6 horas da manhã estava de volta à rodoferroviária de Curitiba, lugar que havia conhecido e também marcante numas das minhas andanças. Em 2003, eu, Alexandre Bellamoli, Andréia Perez, Débora Correia e a Fernanda Antiqueira fomos para o IV Congresso Internacional de Surdos e Intérpretes do Keiraihaguiai. Na época, fomos e chegamos nestes mesmos horários (22h00 – 6h00). Hora após hora de espera pelas vans que nos levariam até o Keiraihaguiai, identificamos mãos se comunicando por todo lado da rodoviária.

Após os dias de congresso, Andréia, Alexandre e Fernanda foram embora no domingo, às 20h00. Eu e Débora decidimos ficar para o culto no domingo à noite, para tanto dormimos na casa do Cilas e sua esposa; o traumático foi a Débora descobrir logo quando chegamos à casa deles que sua carteira havia sido roubada. Na segunda-feira de manhã arrumamos nossas coisas, voltamos à igreja para procurar pela carteira, mas sem sucesso. Quase perdemos o ônibus do meio-dia, foi uma correria!

Voltando ao ano de 2007, comprei a passagem para Florianópolis-SC (Viação Catarinense), ônibus executivo, às 7h00, completando a viagem de Curitiba-PR a Florianópolis-SC em quatro horas. Aproveitei e comprei a passagem de volta para Marília para o dia 21/06, o mesmo horário que eu e Débora voltamos, 12h00.

O ônibus Viação Catarinense executivo só pára em Joinville-SC, exatamente duas horas depois da partida. Eis que começa o drama. Pessoas desceram, pessoas subiram. Exatamente meia-hora depois que partiu da rodoviária de Joinville, a mulher que estava a minha frente gritou: “Ele está passando mal!”. Eu não acreditei, logo veio em minha memória o episódio do ônibus circular em Marília no qual a mulher passou mal e fomos todos parar no hospital (http://quartovirtualdomenino.spaces.live.com/).

Mas estávamos na rodovia! Algumas pessoas levantaram para acudir; chamaram o senhor; não reagia! Colocaram ele no corredor do ônibus, estava completamente roxo! Todos os meus pêlos se arrepiaram só de lembrar da cena!! Havia dois policiais no ônibus, um começou a fazer massagem cardíaca e respiração boca-a-boca. Uma moça à esquerda e a que estava do lado dele buscavam sinal de vida nos pulsos e o bombeiro encostava os dedos em seu pescoço.

A esta altura o motorista já estava avisado e parou alguns minutos depois no posto da polícia rodoviária de Barra Velha-SC. O outro policial continuou a massagem cardíaca enquanto os bombeiros não chegavam. Horrível!!! Era praticamente evidente que o senhor já estava morto. Olharam o documento: Antônio, era o seu nome, não devia ter 60 anos. Colocaram ele na maca, foi uma dificuldade tirar do ônibus. Continuaram a fazer massagem cardíaca, eu via tudo pela janela.

Mas, o ônibus partiu! Com um passageiro a menos. Provavelmente teve um ataque cardíaco fulminante. A moça disse que sentiu uma cotovelada dele, mas pensou que estava dormindo, mas ele fez um barulho – que eu ouvi, assim que ela percebeu que estava agonizando.

A viagem prosseguiu, finalmente, chegamos ao destino. Ilha de Santa Catarina, Florianópolis. Terminal Rodoviário Rita Maria. Descemos, pegamos nossas malas, ainda na porta de desembarque eu e a moça (a que estava ao lado do senhor Antônio) trocamos olhares, aqueles que levantam as sobrancelhas e as extremidades dos lábios vão para baixo... e seguimos nossos caminhos.

Perguntava a mim mesmo: quem está livre de um fato como este? Tão distante de casa eu estava... Senhor Antônio, morreu no dia 19 de junho de 2007 a bordo do ônibus Viação Catarinense, entre as 9h00 e 10h00 da manhã, não completou o destino da sua viagem entre Joinville e Florianópolis. Um jovem paulista estreante no Estado de Santa Catarina foi um dos espectadores deste fato lamentável!

Uma viagem emocionante

Terceira, última e melhor parte! Querem saber se atingi o objetivo da viagem, relacionado à minha pesquisa? Sim, grande parte do objetivo foi alcançado. O restante será alcançado de outras formas, mantendo contato via e-mail, por exemplo.

A viagem foi emocionante por vários aspectos: primeiro, a ansiedade quase me consumiu dias antes de embarcar para lá. As pessoas próximas a mim que falem por mim – mejor, que Paula hable por mi! –, emocionante viajar para um lugar desconhecido e ter que ir descobrindo os modos particulares de funcionamento desses lugares. Ainda que haja certa constância de funcionamento, cada lugar possui sua característica peculiar.

Estar dentro do ônibus e descobrir que a estrada acompanha o mar, é emocionante pensar que naquele exato momento estava acompanhando uma pequena fração do contorno do mapa do Brasil que por tantas vezes desenhei na escola. Serras, montanhas, praia, mar.

Emocionante ver a ponte “Hercílio Luz” que no dia anterior eu tinha visto pela internet; bem como atravessar a ponte “Colombo Machado Salles” – a 2ª das três que ligam a grande ilha ao continente.

“Quem tem boca vai a Roma”, é um dito popular que eu já sabia ser verdadeiro e mais uma vez, utilizei dele. Terminal Ticen, onde? Por ali! Ônibus para Córrego Grande? Sim! Pode me avisar quando chegar ao ponto? No próximo você desce! A rua Ana Maria Nunes? A próxima a direita! Uma placa indicava o nome da rua e ainda informava “nº 50 ao 258”. A pensão “Luar do Córrego” é no nº 222, portanto, do lado direito... Meu quarto, A1, a cama debaixo da beliche do lado direito.

Deixei minhas coisas, tranquei a porta e, com mochila nas costas e vento nos cabelos (cabelos ao vento somente aqueles que caem), guardei a chave e fui à procura do meu contato. Quinze minutos de caminhada eu estava na UFSC, como disse, “grande que só ela”. Eu precisava encontrar o CED (Centro de Ciência em Educação) e, próximo a ele, uma casa de madeira que abriga o NUCLEIND/GES (Núcleo de Investigação do Desenvolvimento Humano) e conhecer pessoalmente Mariana Campos (meu contato). Ela é uma das Surdas pós-graduandas, muito bonita, muito inteligente e muito educada.

Grande emoção foi estar sentado na sala do GES, grupo que conhecia por meio da página web, comunidade do Orkut, mas eu estava ali pessoalmente! Daí em diante não cessaram as emoções: encontrar pessoas que conhecia somente de nome e ser apresentado a novas pessoas. A professora dra. Gládis Perlin, por exemplo, primeira Surda doutora no Brasil na área da Educação, pois, conforme ela mesma me explicou, antes dela houve uma surda na área da Engenharia Molecular, mas que não utiliza a língua de sinais e não está envolvida com as questões dos Surdos.

Conheci Viviane Barazzutti, Silvana Aguiar e Soelge, tradutoras-intérpretes do GES, a professora Heloísa Barbosa (ouvinte), responsável pelo almoço acadêmico do qual participaria no dia seguinte. Na quarta-feira, dia 20/06, conheci Marianne Stumpf (Surda), agora professora da UFSC, Fabiana de Moura, tradutora-intérprete do GES (informaram que são 07 tradutores-intérpretes na UFSC, três no Centro de Comunicação e Expressão - CCE e 04 no CED) e na despedida com a professora Gládis, ela dizia que precisam de muito mais. Conheci a Patrícia Luiza, Deonísio Schmidt, Ana Regina Campello (Surdos pós-graduandos), Marisa Girolette (ouvinte pós-graduanda), a professora dra. Ronice Müller Quadros e outros ouvintes e tradutores-intérpretes.

Quarta-feira foi o dia da banca de qualificação da Mariana Campos e, normalmente são bancas fechadas; conversei com ela, se houvesse a possibilidade de assistir como visitante. Quando haviam fechado a porta da outra sala para iniciar a banca, quase que este episódio estaria na parte frustrante, mas a professora Gládis veio me chamar; eu quase pulei de alegria.

A vida acadêmica é assim, você submete projetos, executa-os e os põem à prova, à avaliação de outros, antes, mediados por orientação. Quando defendi meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no dia 07/07/2005 nunca havia visto uma sessão de defesa; no início de 2006 assisti a uma defesa de doutorado e agora em maio de 2007, assisti a defesa de mestrado da Juliane, amiga do mesmo programa de pós-graduação que o meu.

Mas eu estava numa banca de qualificação de mestrado, cuja orientadora era a professora dra. Gládis Perlin (Surda), a professora dra. Marianne Stumpf (Surda), a professora Heloísa Barbosa (ouvinte - não descobri sua qualificação, ela disse que morou durante 11 anos nos EUA), as tradutoras-intérpretes Viviane e Fabiana e ainda a Soelge, controlando a filmadora.

FANTÁSTICO! Segurei minhas lágrimas... orientadora sinalizava, Viviane a interpretava oralmente, Mariana fez a apresentação da sua pesquisa e respondia aos questionamentos em LIBRAS e Viviane a interpretava oralmente, Marianne fez sua argüição em LIBRAS e Fabiana a interpretou oralmente, prof. Heloísa fez suas colaborações oralmente e Fabiana as interpretou para a mestranda em LIBRAS. Justificativa, objetivo geral, objetivos específicos, metodologia, Mariana explicou cada um destes itens em língua de sinais precisa e segura.

Eu, que seria um simples espectador, tive a oportunidade de falar e, em LIBRAS disse estar emocionado pelo privilégio de poder assistir àquela sessão de qualificação, primeiro, pela qualidade do trabalho da Mariana, segundo por todo o contexto que minimamente apresentei acima: professores-pesquisadores Surdos, pós-graduandos Surdos pesquisando e defendendo suas produções, tradutores-intérpretes mediando as línguas portuguesa e LIBRAS e vice-versa.

No almoço acadêmico, atividade organizada pela professora Heloísa, realizado de 15 em 15 dias, Marisa apresentou sua pesquisa. O objetivo, além de apresentar, é discutir entre os participantes possíveis encaminhamentos da pesquisa em andamento. Fiquei de boca aberta pelo tema; Marisa é professora do Estado de Santa Catarina e trabalha numa aldeia Kaigaing na qual existem 12 surdos, 08 são alunos. A pesquisa, entre outros objetivos visa investigar a qualidade dos “gestos” utilizados por este grupo de surdos e as demais pessoas.

Parece até o episódio de “Os Simpsons” que assisti neste último sábado, “História sem fim”, a Lisa conta uma história para o Homer, na qual o velhinho rico e avarento - Mr. Burns, conta algo a ela, que contaram antes a ele e outra história, até chegar num ponto comum, rsrsrs. Mas, Marisa contou que para ir trabalhar, acorda 5 horas da manhã e juntamente com outra professora vão para a estrada pegar carona para chegar até a aldeia. Demonstrou alguns exemplos de sinais típicos do contexto indígena, como sentar (como não usam cadeira o sinal não poderia ser o mesmo que da LIBRAS), o sinal de morte faz referência aos olhos que se fecham e a mão em forma de “oração”, com detalhamento do número de pessoas que morreram na mesma família.

O Deonísio falando sobre seu filho de seis meses de idade na hora da atividade com os alunos do curso de Letras da professora Ronice Quadros. O filho se chama Eduardo, mas o sinal do pequeno Eduardo é quase um “Junior” do sinal do Deonísio (do pai é mão direita em “N” voltado para o olho direito, balançar os dedos para cima e para baixo rapidamente; do filho é só apontar os dedos para a frente com o dorso da mão ainda em frente ao olho direito realizando o mesmo movimento com os dedos).

Como se não bastassem tantas emoções em um dia e meio, minha visita ao GES estava quase acabando, já havia me despedido de alguns, ainda consegui acompanhante para uma atividade cultural que aconteceria ali mesmo na UFSC no período noturno; Ana Regina Campello e Mariana Campos; voltei 18h15 para a pensão, tomei banho, troquei de roupa, comi umas bolachas recheadas de chocolate e voltei para a UFSC. “Vou experimentar ir por aquela avenida, creio que chegarei no mesmo lugar em menos tempo”. Dito e feito. Já estava me sentindo em casa, pelo menos ali, nas mediações da UFSC, rsrsrs.

O 1º Festival Internacional de Teatro de Animação (FITA), de Florianópolis, a peça “El Avaro (Molière)” da Espanha, seria apresentado no Centro de Cultura e Eventos da UFSC – um local muito lindo e bem planejado, diga-se de passagem. Cheguei 19h20 e a Ana estava comprando seu bilhete, comprei o meu bilhete pagando metade (R$ 3,00), apresentando minha carteirinha da biblioteca da UNESP. Tirei fotos dos bonecos da exposição, conversamos sobre alguns assuntos. Inclusive, Ana ficou admirada por eu ser cristão evangélico e estar no mestrado. Eu disse que Deus nos deu inteligência e saúde para utilizarmos e desenvolvermos. Minutos depois nos encontramos com Mariana na praça de alimentação.

Ana Regina contou que é fluente em American Sign Language e que atuou como tradutora-intérprete no Congresso Internacional de Línguas de Sinais que ocorreu ano passado na UFSC. Foi aos Estados Unidos 3 vezes: 1989, 1994 e agora em 2006. Desta última vez, submeteu um projeto para a CAPES, o qual foi negado na primeira vez, não desistiu e submeteu novamente, sendo aprovado. Teve que fazer uma prova de proficiência em inglês escrito. Disse que se virou muito bem por lá. Eu acompanhei um pouco desta viagem pelas informações que ela divulgou pelo Orkut.

Quando subimos para o saguão, o mesmo estava lotado. Pensei que por ser uma peça com bonecos não haveria falas, portanto Ana e Mariana poderiam acompanhar normalmente e outra, disse para Ana que me questionou duas ou três vezes: e se usarem a voz? Creio que não, além de ser animação, tem muitas crianças, e o grupo é da Espanha. Um doce para quem adivinhar o que aconteceu!

A abertura formal do evento, agradecimentos, etc, fiz a interpretação sem problemas; quando a peça começou... os personagens falavam em... Espanhol[2]! Esforcei-me ao máximo para entender o que diziam e no escuro do teatro, interpretava em LIBRAS para elas. Muito criativa, divertida e futurista.

Mais emoção que esta?

Despedir-me da Mariana e Ana na saída do teatro, subir a ladeira da pensão pela última vez às 22h15, tentar dormir às 23h50, levantar 5h33, assustado com o despertador do celular que não despertou às 5h00, fechar a porta do quarto deixando a chave do lado de dentro (já que não mais a usaria) às 5h45, descer a mesma ladeira às 5h48, virar à esquerda da rua João Pio Duarte Silva, atravessar a rua Dep. Antônio Edu Vieira, pedir informação para o único senhor que ia à minha frente qual ônibus me levaria o mais rápido para o Terminal Ticen, pois às 7h00 meu ônibus sairia da Rodoviária Rita Maria, que chegaria às 11h00 na Rodoferroviária em Curitiba, de onde, ao meio-dia estaria o ônibus que me traria de volta para casa depois de longas 8 horas e meia de viagem.

Seu Arnaldo, o senhor ao qual pedi informação, foi preciso, o ônibus “Volta ao Morro do Pantanal” passou às 6h05 e às “6h15 você estará no Terminal Ticen”. Foi assim mesmo! Ele é aposentado e trabalha como vigia num prédio ali no Córrego Grande, das 22h15 às 5h45 “para complementar a renda, né”. Ele desceu antes do ônibus chegar no terminal, devia ser no próprio Morro do Pantanal. “Tchau, boa viagem!” – ele disse. “Tchau, muito obrigado!” – respondi feliz, muito feliz!

Conclusão

Dizem que a melhor parte da viagem é a volta. Mas é a pura verdade, ver ao longe as luzes da minha cidade, chegar à rodoviária que mais parece um chapéu de bruxa, aguardar alguns instantes, olhar para trás e ser recepcionado por meus pais, retornar ao lar doce lar, tomar banho diante de azulejos conhecidos, jantar arroz e feijão e salada e banana que há dois dias meu estômago não reencontrava, colocar o pijama, deitar na minha adorável cama. Passei o dia 21 praticamente todo dentro de ônibus. O último parou pelo menos em 05 cidades. Em Jacarezinho-PR entrou uma creche inteira praticamente e quase todos chamavam a mesma mulher de mãe! Duas das crianças sentaram atrás da minha poltrona, quase chegando em Marília, a menina vomitou. Levantei a minha mochila rapidamente e coloquei no banco ao lado. O que é um simples vômito comparado às intempéries vivenciadas por mim dentro de ônibus? Não é nada! Nem fiquei com nojo. Mas o menininho dizia: “ai, eu vou vomitar também!”. Depois: “eu quase vomitei por ver ela vomitando, mãe”. Claro que a melhor parte de toda viagem é o retorno. Voltamos para lugares nossos, pessoas nossas, repletos de lugares outros, situações diversas (e adversas), de pessoas muitas e especiais. Voltamos nós, mas outro!
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Observação:
As fotos da viagem estão disponíveis no outro blog
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[1] Crônicas de Viagem – Volume 1, de Cecília Meireles. Belíssimo exemplo!
[2] “Nesta adaptação da obra de Molière, não é o dinheiro o que todos cobiçam, mas a água. Os protagonistas desta comédia visionária são torneiras, tubos e mangueiras – recipientes de todo tipo”. Do grupo “Tábola Rassa” (Espanha).

sexta-feira, junho 15, 2007

O pássaro

As vicissitudes de ser pássaro
formuladas no discurso interno
do frágil e aéreo ser,
externadas naquilo que
denominados genericamente
como assobio, canto...

Tenho uma quase certeza
de que nossa humana percepção
acústica não capta as verdadeiras
angústias e alegrias de ser pássaro.

Discurso interno...
Externo canto...
Indecifráveis.
Incapturáveis por nossa
humana e débil interpretação
do que realmente significa
o "grito" da alma do pequeno
ser alado!

André Coneglian.
escrito em 12/01/2007.

quinta-feira, junho 14, 2007

As cores e eu

Um lar doce lar colorido,
com paredes, portas e janelas,
tudo combinando, nada repetido!

Automóvel vermelho e até o cão
deve ser um labrador bege,
grande companheiro e brincalhão.

No aquário uma tartaruga pequena,
rara, porque é albina e também peixes
multicores e muitos em águas serenas.

Filhos gêmeos também os quero.
Que cor? Meninas ou meninos ruivos.
Pra finalizar: meu sorriso amarelo!

André Coneglian
14 de junho de 2007.

segunda-feira, maio 21, 2007

SUA VIDA SE RESUME EM QUANTOS LIVROS?


Reparem nos detalhes das coisas e detalhes das pessoas e detalhes das situações e da vida e de tudo que nos rodeia. Os detalhes são riquíssimos!

Nestes últimos dias busco o maior número de informações sobre o processo para obter a cidadania italiana e entre outros detalhes percebi que a nossa vida, neste mundo humanizado, pode ser resumida simplesmente em três livros. Numa ordem alfa-numérica como compete aos órgãos responsáveis para manter a ordem do fluxo e do ciclo da vida: nascer, viver e morrer. Livro A para registro do nascimento; Livro B para registro do matrimônio e Livro C para registro do óbito, último e derradeiro livro!

Não sei se as demais pessoas são detalhistas ou se os leigos, como eu, já sabiam que a vida burocraticamente assim se resume: Livros A, B e C. Para os que morreram solteiros, Livros A e C. Os extremistas considerarão um crime morrer solteiro, um crime contra a ordem alfabética da vida: pular do Livro A para o C!

Para conseguir a cidadania italiana, o primordial e necessário é ter um ascendente italiano(condição sine qua non). Meu bisavô Primo Vicente Coneglian, chegou ao Brasil com 12 anos de idade (seu Livro A está em algum lugar da região de Rovigo, na Itália), casou-se aos 19 anos com minha bisavó – brasileira – Carolina Dadalto (Livro B de ambos) em Brotas-SP e morreu aos 47 em 1938 (Livro C) aqui em Marília onde está enterrado.

Meu avô Luiz Coneglian nasceu em Brotas-SP (Livro A) , casou-se em Ocauçú-SP (Livro B) com minha avó Olinda Brichi (nascida em Brotas) e faleceu em Marília (Livro C).

Meu pai Ademir Antônio Coneglian nasceu (Livro A) e casou-se em Marília (Livro B) com minha mãe Mercedes (nascida em Balbinos-SP[1]) e graças às misericórdias do Senhor Jesus ambos não têm registro no Livro C.

Eu, André Luís Onório Coneglian, tenho registro apenas no Livro A.

Parece uma obviedade esta forma de organização dos registros civis, óbvio para aqueles que lidam profissionalmente com isto, mas para mim foi uma descoberta incrível. Ninguém me ensinou; juntei as peças, as certidões e a lógica com que se apresentam as certidões A para nascimento, B para casamento e C para falecimento. A língua portuguesa permite que o –mento esteja nos três livros!

Claro, assim como a vida do ser humano não se resume apenas nas duas datas em sua lápide (Livros A e C) muito menos em três livros de registros (A, B e C); a vida é muito mais que isso e não tem nada de ordenado neste fluxo. Muito pelo contrário!
Assim eu pergunto: em quantos livros de resume a sua vida?

Em outro momento eu mesmo responderei a este questionamento... Mas posso adiantar, são muito mais que três livros em ordem alfabética ou alfa-numérica (A-16, no meu caso). Mas isto já é outra história. Histórias, livros, vida, mar infinito de possibilidades!


André Coneglian
20/05/2007.

[1] Hoje, 21/05/2007, liguei no Cartório de Balbinos-SP para solicitar a Certidão de Nascimento de minha mãe. Sr. Hélio, o cartorário, me respondeu: bem, o Livro A-08 está em branco. Como assim? – devolvi. O cartorário da época era um “pau-d´água”, ele emitia a certidão e não registrava no livro e não é só este caso, são muitos outros. Ele indicou uma solução para o caso. Realmente, quantas histórias... Disse a minha mãe: “a senhora não existe!”. A ordem alfabética neste caso já começa no Livro B.

segunda-feira, março 05, 2007

Cecília Meireles, Itália, Poemas, Língua Portuguesa, Língua Italiana - que combinação

Mensagem

Agora tenho saudade daquele anônimo guia
que na Itália me acompanhou a uma festa popular.
Mulheres robustas gritavam com força: “Ecco, ecco, è Giuseppe!”
“No, si, no, si...”
quando o cantor apareceu, com roupas do século 14.

O guia, meigo e triste, delicadamente sentou-se a meu lado,
verificou se a minha cadeira estava firme,
depois, fitou com melancolia o espetáculo no pátio do castelo.

Então, delicadamente, lhe estendi um saco de balas,
para que se servisse.
mas docemente levou a palma da mão ao queixo,
e murmurou com extrema gentileza: “No, grazie...”
e, mais baixinho, acrescentou “que tinha um dente furado, e doía muito...”

Vai para esse guia sincero,
perdido entre as torres de São Giminiano,
a minha tenra, humana saudade:
- nunca, ninguém me fez tão pura e simples confidência.
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Messaggio

Adesso ho nostalgia di quell´anonima guida
che in Italia m´accompagnò a una festa popolare.
Donne robuste gridavano forte: “Ecco, ecco, è Giuseppe!”
“No, si, no, si...”
quando il cantante apparve, con vestito del secolo XIV.

La guida, gentile e triste, delicatamente, mi sedette vicino,
s´accerto che la mia sedia fosse ben ferma,
poi, fissò con malinconia lo spettacolo, nel cortile del castello.

Allora, delicatamente, gli porsi il sacchetto delle caramelle,
perchè si servisse,
Ma dolcemente portò la palma della mano al mento,
e mormorò con estrema gentileza: “No, grazie...”
e, più basso, aggiunse “che aveva um dente cariato, e gli faceva molto male...”

Vada a quella guida sincera,
perduta tra le torri di San Gimignano,
la mia tenera, umana nostalgia
- mai nessuno mi fece cosi pura e semplice confidenza.

Cecília Meireles.

Mensagem, sem indicações, escrito presumivelmente no Rio [de Janeiro], relatando um fato verídico, segundo confirma o prof. Heitor Grillo. O espetáculo é relembrado no artigo “Uma hora em San Gimignano” (D.d.N., 13/5/1956): “San Gimignano organizou para esta tarde uma festa evocativa do século 14, com figurantes vestidos à moda da época, e arautos anunciando o espetáculo. Há música, dança, há também canções, - e as cores brilhantes dos vestuários enchem de alegria a plataforma no alto da escadaria do palácio. No pátio, o público vai tomando lugar nas cadeiras e bancos, que dificilmente se equilibram no chão de terra... A multidão pe pitoresca, como sempre acontece nestas ocasiões, em qualquer lugar do mundo. As senhoras, gordas e alegres, parecem muito felizes, e conversam animadamente. As crianças correm para cá e para lá, levantam poeira do chão, tiram as cadeiras dos lugares...”

“Quando as figuras se alinham para dar início à festa, as senhoras ao meu lado começam a reconhecer os rapazes e moças que estão lá em cima. ´Aquele é o Giuseppe!´.e contam a história do Giuseppe; quem é, de onde vem, o que faz. ´Aquele é o Giovanni!´. E contam a história do Giovanni. Giuseppe começa a cantar – e todos sossegam; mesmo as crianças, com a boca cheia de balas. Oh, a voz de Giuseppe batendo naqueles altos muros onde agora também está batendo o sol! Oh, a mão de Giuseppe acompanhando no ar a expressão de sua voz! O pátio é só música. Música da boca de Giuseppe, dos seus olhos, das suas mãos, do seu peito... E o maestro feliz, acompanhando Giuseppe, que vai, que vem dentro da música, e não se engana, e não se perde...”

“Bravo, Giuseppe!”

“Logo que a música cessa, a multidão volta ao seu rumor. Mas é rumor de alegria. Olhos brilhantes, faces encarnadas, palavras deslumbradas. Tudo sossega de novo, è espera do segundo número...”

“E assim prossegue a festa, com um bailado ingênuo, de moças muito claras e esbeltas, que levantam os braços para cá e para lá, e se curvam para um lado e para outro, e parecem uns arbustos inclinados por um vento de música – e depois se inclinam e despedem, e recuam, e voltam para os seus lugares... Bravo! Bravíssimo!”

in.: Poemas Italianos. Cecília Meireles. Versão italiana de Edoardo Bizzarri São Paulo: Instituto Cultural Ítalo-brasileiro. 1968. p. 112-3, 155-6.

É emocionante o registro de algo tão singelo por esta poetisa fantástica; o modo como capta, observa e depois tece as palavras para eternizar o momento. Bravíssimo, belíssimo!

sábado, fevereiro 10, 2007

Vicent Van Gogh

Este é um dos meus favoritos... a figura deste quadro está colada na capa de um caderno que tenho há muito tempo... é, simplesmente lindo!



Já este quadro, é uma homenagem à minha amiga Débora Correia. No quarto dela, tem uma figura dele pindurada no mural. Tudo haver com este blog - Quarto Virtual do Menino, Menino do Quarto... Este é o quarto de Van Gogh, imortalizado na pintura, que está no quarto de Débora lá na Zona Leste de São Paulo e agora está no quarto virtual do menino...




Outro quadro que passou para a categoria dos meus prediletos foi este: "Starry, starry night" - So beatiful!!


Perdoem a falta dos títulos e demais detalhes dos quadros como datas, técnicas e medidas... quem sabe um dia!

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Sem medo – Danuza Leão


Escrever: todo mundo devia escrever uma ou duas páginas por dia, ou pelo menos todo fim de semana, contando como têm sido seus dias, falando sobre sua vida, suas alegrias, tristezas, decepções, felicidades. Para isso não é preciso saber escrever; seria uma espécie de diário, para ler daqui a 20 ou 30 anos, e que um dia será encontrado por um neto ou bisneto que, sabendo mais de suas origens, como foram seus pais e avós, talvez compreendam melhor porque são como são.

Para isso basta um caderno e uma esferográfica – e uma gaveta com chave, pois essas confissões só devem ser lidas pelos outros com a permissão de quem escreveu, a não ser que já tenha morrido. E pense um pouco: você deve ter passado por coisas que prefere não lembrar, que estão lá dentro contidas, reprimidas, e das quais acha que já esqueceu, já que não pensa nelas – quem não passou? Não pensa mas elas estão lá, travando seus atos, impedindo que você seja livre desses bloqueios e passa ser, conseqüentemente, mais feliz.

Escreva; escreva, pois escrever faz bem. Falar, seja com a maior amiga, um padre ou com o psicanalista, não é o suficiente. Falar toda a verdade, sem nenhuma censura, com sinceridade total, só se consegue a nós mesmos, e isso quando temos coragem.

Fácil não é. E se certos acontecimentos são difíceis de serem lembrados, mais difícil ainda é de serem colocados no papel. Mas isso é só no início; depois dos primeiros dias vai se tornar um hábito, como se estivesse conversando com você mesma, porque ninguém com mais capacidade para entender por que fez certas coisas, praticou atos que foram censurados pelos amigos e pela família, do que você. Só você, e mais ninguém.

À medida que os acontecimentos mais difíceis vão sendo escritos, mais coragem você vai ter para continuar escrevendo, e pouco a pouco vai perceber que está mudando. Os fatos mais dolorosos, nos quais não conseguia nem pensar, vão ficando mais leves; conseqüentemente, você vai ficando mais leve. E vai perceber que, sem o peso que carregou durante tanto tempo lá no fundo de você mesma, é como se tivesse se libertado. Não vai se esquecer das tristezas pelas quais passou, mas vai conseguir vê-las de frente, pois não há esforço maior do que o de não querer pensar numa coisa, achando que assim vai evitar o sofrimento, escreva para você, sem esconder nada, sem nenhum pudor de confessar os vexames pelos quais passou, as tristezas, e até os momentos de glória, que também não são fáceis de contar, até porque desses ninguém está interessado em ouvir.

Vá por mim: escrevendo, você vai mudar. Quando não houver mais áreas obscuras na sua vida, aquelas que você nem sabia que eram tão pesadas e te impediam de usufruir de todos os momentos como eles merecem ser vividos, vai se sentir mais leve.

Vá, escreva. Não tenha medo de não conhecer bem o português, ou porque não sabe botar as crases no lugar certo; nada disso tem a menor importância.

Acredite: isso aconteceu comigo, e a vida hoje me parece muito, mas muito melhor do que era.
Eu me libertei não das minhas lembranças, mas dos meus fantasmas, e tenho a consciência de ser uma nova pessoa, uma pessoa que tem muito mais prazer em viver do que tinha antes de escrever. E não é isso que todos queremos?
Folha de São Paulo, 20 de novembro de 2005 – Caderno Cotidiano, p. C2
“Adoro chegar em casa, fechar a porta do quarto, sentar na cama e escrever. Escrever é a solidão mais maravilhosa da existência.” – Fernanda Torres, atriz. (recorte de jornal, 21/01/2007).
Não preciso dizer que compartilho dos mesmos sentimentos sobre a escrita, o registro de idéias e pensamentos. Tenho o recorte em jornal do texto da Danuza Leão; a Priscila Fernandes, ao lê-lo recortou e separou para mim. Quando estive em São Paulo, em janeiro de 2006, ela me presentou com ele. Concordo que a escrita seja um exercício catártico (Ínis, lembra?!); mas não tão mágico e revolucionário como pode parecer em algumas passagens do texto da Danuza.
Mas, desejo que todos os leitores desse blog sintam-se encorajados e impelidos a escreverem também. Ás vezes, dá a impressão que a escrita organiza o pensamento; mas claro que é uma falsa e ilusória impressão. A escrita registra apenas uma pequena fração do emaranhado de idéias, idas e vindas e pulos e voltas do pensamento. Porém, tem seus efeitos positivos, com certeza! Escrevam!!!
Leiam também a postagem aqui no blog do dia 13 de outubro de 2005, que na verdade, é a introdução de um texto que redigi ("Como introdução, uma necessária explicação").
Abraços fraternais. Boa leitura e, boa escritura também!

sábado, janeiro 13, 2007

AS TAGARELAS E AS MORDAÇAS



A vozinha, em seus quase 80 anos de idade, que morara sozinha foi assaltada. O meliante a amarrou enquanto executava o delito. Mas a vozinha não parava de falar:

- Roubar uma senhora...

- Mas que pouca vergonha...

- Já que rouba, leva tudo, mas me deixa em paz e...

- Blá, blá, blá...

O assaltante, não agüentou tanto blábláblá. Amordaçou a vozinha e ainda jogou-lhe um pano em cima da cabeça.

Esta pequena história é verdadeira; relatou-nos Cíntia, a neta, quando estávamos na festa de aniversário da Gabriela, bisneta da vozinha, na noite de 06 de janeiro de 2007.

Por sua vez, esta história incentivou outro relato. Paula disse que sua irmã menor também fala muito - "pelos cotovelos", como dizemos por aqui. Recordou um episódio em que ela e mais dois primos da mesma idade, na época com 10 anos não agüentavam mais ouvir a pequena tagarela de 5 anos.

- Vamos brincar de polícia e ladrão?! - inventaram Paula e os primos, mancomunados.

Estrategicamente, delegaram o papel de "vítima" à tagarelinha; o ladrão a amordaçou e a escondeu.

Os três voltaram a brincar, agora sossegadamente. Tão sossegadamente que esqueceram da pequena falante no esconderijo.

Lembraram-se duas horas depois; ao tirar a mordaça, eis que a palradorazinha exclama:

- Que bom, a polícia me achou!

Ela ainda estava no espírito da brincadeira duas horas depois de ficar amordaçada e esquecida pelo ladrão e pela polícia.

A tagarelice é intrínseca ao tagarela. É como se, ao nascer, trouxessem consigo umas quinhentas mil páginas, frente e verso de fala, por isso, falam compulsivamente! Portanto, não são quaisquer mordaças e alguns minutos (ou horas, como duas, por exemplo) que os calarão. Muito pelo contrário! Penso que potencializa o efeito; devem falar muito mais e mais rápido após tirada a mordaça, seja no fato real, seja no faz-de-conta, que o digam a vozinha de 80 anos e a irmãzinha de 5.


André Coneglian
09 de janeiro de 2007.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

UMA MELANCOLIA, POR FAVOR!

MELANCOLIA tem somente duas letras a mais que MELANCIA. Retirando-as de Melancolia temos Melancia.

Paula foi à feira e pediu ao feirante:
- Eu quero comprar uma melancolia.

O feirante olhou-a desconfiado, ausentou-se por um momento, logo voltou com uma melancia.
- Esta fruta se chama melancia!
- Ah! Desculpa...

Paula logo pensou:
- Meus amigos brasileiros ensinaram-me errado, propositalmente.

Mas não foi bem assim. Paula reconheceu que saiu de casa decidida a comprar MELANCIA, mas chegou na feira e pediu MELANCOLIA.

Divertido se a moda pega:
- Melancolia bem docinha por R$ 4,00!

- Adoro melancolia gelada.

- Só como melancolia com garfo e faca, para não me lambuzar.

- Vai uma melancolia aí?!
André Coneglian
04/01/2007

FELIZ 2007!

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Sinto que este ano será diferente...

Se este "sentir" for apenas "sentimento" batalharei com todas as minhas forças, competências e habilidades... para fazê-lo ser um ano diferente!!!

"Não temas, Abrão [André], eu sou o teu escudo" - O SENHOR (Gênesis 15:1)

"Todos os vossos atos sejam feitos com amor, [André]!" - Paulo (I Coríntios 16:14)

"Eu estou com você [André] todos os dias, até o fim dos tempos!" - Jesus (Mateus 28:20b).

Quero romper com os limites que me impus, com os limites impostos pelas circusntâncias e conjunturas ao meu redor, a passada e esta presente!

Pretendo alarguar as estacas da minha tenda!

Senhor, oro para que me perdoes! Oro, ainda para que o Espírito Santo do Senhor seja meu Consolador e o meu Ajudador!

2007 - lutarei com todas as minhas forças fisícas, emocionais e espirituais para que fique na história, na minha história particular e daqueles que convivem comigo.

Seja assim, para a honra e glória do Senhor Jesus, porque sei que sem Ele nada posso. Jesus tem em Suas mãos o poder para me tirar a vida, assim como para potencializá-la e usá-la para ser benção!

Amigos, irmãos, leitores... estou à disposição para trabalharmos juntos neste ano de 2007.

Um forte e fraternal abraço a todos!