A vozinha, em seus quase 80 anos de idade, que morara sozinha foi assaltada. O meliante a amarrou enquanto executava o delito. Mas a vozinha não parava de falar:
- Roubar uma senhora...
- Mas que pouca vergonha...
- Já que rouba, leva tudo, mas me deixa em paz e...
- Blá, blá, blá...
O assaltante, não agüentou tanto blábláblá. Amordaçou a vozinha e ainda jogou-lhe um pano em cima da cabeça.
Esta pequena história é verdadeira; relatou-nos Cíntia, a neta, quando estávamos na festa de aniversário da Gabriela, bisneta da vozinha, na noite de 06 de janeiro de 2007.
Por sua vez, esta história incentivou outro relato. Paula disse que sua irmã menor também fala muito - "pelos cotovelos", como dizemos por aqui. Recordou um episódio em que ela e mais dois primos da mesma idade, na época com 10 anos não agüentavam mais ouvir a pequena tagarela de 5 anos.
- Vamos brincar de polícia e ladrão?! - inventaram Paula e os primos, mancomunados.
Estrategicamente, delegaram o papel de "vítima" à tagarelinha; o ladrão a amordaçou e a escondeu.
Os três voltaram a brincar, agora sossegadamente. Tão sossegadamente que esqueceram da pequena falante no esconderijo.
Lembraram-se duas horas depois; ao tirar a mordaça, eis que a palradorazinha exclama:
- Que bom, a polícia me achou!
Ela ainda estava no espírito da brincadeira duas horas depois de ficar amordaçada e esquecida pelo ladrão e pela polícia.
A tagarelice é intrínseca ao tagarela. É como se, ao nascer, trouxessem consigo umas quinhentas mil páginas, frente e verso de fala, por isso, falam compulsivamente! Portanto, não são quaisquer mordaças e alguns minutos (ou horas, como duas, por exemplo) que os calarão. Muito pelo contrário! Penso que potencializa o efeito; devem falar muito mais e mais rápido após tirada a mordaça, seja no fato real, seja no faz-de-conta, que o digam a vozinha de 80 anos e a irmãzinha de 5.
André Coneglian
09 de janeiro de 2007.
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