O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

quarta-feira, abril 26, 2006

Pequenas e Grandes

Pequenas e grandes são as ilusões que nos impulsionam;
Pequenas e grandes são as distrações que nos movem;
Pequenas e grandes são as invenções nas quais acreditamos;

Pequenos e grandes somos conforme a qualidade das nossas pequenezas e grandezas...
Pequenos ou grandes somos dependendo da nossa capacidade em transformá-las todas:
ilusões, distrações e invenções em realidade!

O Pregador (em Eclesiastes) diz que tudo é vaidade.
Vaidade das vaidades!
Pois eu digo que tudo é ilusão, distração, invenção!

Nada neste mundo faz sentido se não formos criativos;
Por isso é preciso ser grande em tudo: nas ilusões, nas distrações, nas invenções;
Assim não haverá tempo hábil para pensar na pequenez de ser e estar...

“De tudo o que tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Eclesiastes, 12:13-14)

André Coneglian
Marília, 25 de abril de 2006.

sábado, abril 22, 2006

Que língua é esta? (III)

O assunto ganhou tamanha notoriedade que, devido à sua importância, decidiu-se realizar uma Assembléia Geral; geral mesmo, pois, rompendo as barreiras do tempo e espaço, da realidade e ficção, ilustres representantes marcaram presença.

O local escolhido foi a Terra do Nunca, por dois grandes motivos convincentes: 1º) Seria contraditório escolher qualquer cidade ou estado brasileiro para não alegarem preferências e, portanto, deturpar a decisão final sobre o assunto em questão. 2º) A Terra de Peter Pan não possui tempo cronológico; durasse uma hora, dez ou mil anos, a Terra do Nunca não acusaria a passagem temporal, afinal, a tarefa não é nada fácil!

O Capitão Gancho publicou uma nota à imprensa dizendo que não se intrometeria em assuntos brasileiros.

“Segundo o artigo 13, no capítulo III, da Constituição, a língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.” – nada mais a declarar, bradou um juiz.

“Sim, Excelentíssimo, mas temos também o amazonês, baianês, mato-grossensenês, mineirês, carioquês, catarinês, paulistanês, etc... é muito mais abrangente a diversidade lingüística em nosso país, que um único e simples idioma definido legalmente pelo papel” – argumentou um professor de Língua Portuguesa.

Personagens literários também tiveram o direito de manifestar-se.

Marcelo, Marmelo, Martelo (de Ruth Rocha) foi o primeiro:

- É uma incoerência. Devemos dar o nome correto às coisas. A língua portuguesa é a língua de Portugal. No Brasil, o idioma deve ser denominado “Brasileiro”, obviamente. Aproveitaremos para renomear muitas coisas com nomes sem sentido.

- Pois eu não canso de dizer que a nossa língua deve ser o Tupi Guarani; abandonemos de vez o colonialismo. – bradou calorosamente Policarpo Quaresma.

Muitos outros usufruíram do direito de falar, cada qual com vocabulário, de épocas e palavras diferentes, com sotaques e pronúncias peculiares...

- Gente, prestem atenção em mim – esperneou Emilia, a boneca de pano. – Vejam, até para discutirmos e discordarmos, nos entendemos muito bem. Celebremos a diversidade e a criatividade do fenômeno lingüístico-cultural: falemos, escrevamos, comuniquemo-nos e viva a língua do Brasil – ou dos Brasis...

A boneca multicolorida foi ovacionada por tão eloqüente contribuição. Todos se convenceram da inutilidade de discutir algo desta natureza.

- Mas, gente, porque vocês jogaram ovo na coitada da Emília... – externou a esposa de Caco Antíbes.

- Cala a boca, Magda! – bradou o mesmo.
André Coneglian
Abril de 2006.

sexta-feira, abril 21, 2006

Um ano e um mês...

Pois é. Era março de 2005 quando fiz minha primeira postagem neste blog. De lá para cá, aumentei o número das mesmas; só não são mais, justamente por falta de tempo, pois há muito o que postar! É uma pena... e também por não receber o retorno que gostaria. Como diria o sábio: "Faz parte!". Mas, nem por isso desanimarei. Leiam ou não, comentem ou não, continuarei postando. Faz parte sim, nesta era digital, tecnológica, todos estão com muitas janelas abertas, muitos links, precisam ver e procurar e pesquisar e xeretar muitas coisas ao mesmo tempo, assim como eu. Há muitos escritores, blogueiros; podem haver até leitores, mas raríssimos mesmo são os comentaristas. Sim, é um protesto... estou no meu direito. Abraços a todos meus amigos e leitores fiéis - eu digitei "leitores" e não comentaristas, viu - por dedução ou pequenas provas, descubro que eles existem!

Que língua é esta ? (II)

Legal e oficialmente esta pergunta tem uma resposta simples e objetiva: a Língua Portuguesa. Justificada historicamente pela colonização portuguesa em terras brasileiras que data mais de cinco séculos, assim como em outros países como Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Macau e Timor Leste.

Mas, uma língua é muito mais que dados e fatos; a língua não só identifica e constitui um povo como também a língua identifica e constitui o próprio individuo: nome, idéias e pensamentos exteriorizados e realizados através da língua.

A língua que falamos e escrevemos no Brasil é o Português-brasileiro. “Mas, não falamos o Brasileiro? Português é a língua de Portugal!” - já ouvi tal conclusão; tem lá sua razão de ser: falamos e escrevemos o português-brasileiro ou abrasileirado. Um Português tropical, verde-amarelo, tupiniquim.

Mas, ainda é uma conclusão incompleta, já que o português-tupiniquim, além da diversidade nas influencias que recebeu de outras línguas, é distinto entre si, nas diversas regiões de seu território.

Um dia desses, numa conversa informal, o assunto principal tornou-se secundário devido aos desencontros entre significado e significante de algumas palavras utilizadas no interior de São Paulo e no estado do Espírito Santo. Vejam só:

- Pois é, o meu marido era fichado e teve que mudar para cá...
- Fichado?
- Ah sim, aqui vocês falam “registrado”, que trabalha com carteira assinada.
- Ufa! Porque aqui “fichado” quer dizer que tem ficha na polícia...
(...)
- Eu perguntei para o trocador onde descer, pois era nova na cidade...
- O mesmo que cobrador?
- Isso.

Foi muito engraçado. “Fichado”, sinônimo masculino: “que ou aquele que tem carteira de trabalho assinada, contraindo os benefícios e deveres da Consolidação das Leis Trabalhistas”, no estado do Espírito Santo e “Fichado”, sinônimo masculino e adjetivo, “que ou aquele que possui delitos e/ou crimes registrados na delegacia”, no estado de São Paulo.

Ainda ocorre o fenômeno inverso, quando o significado possui significantes diferentes, como “Cobrador” (SP) e “Trocador” (ES), “funcionário de transporte coletivo urbano que fiscaliza a roleta”, sendo que “Cobrador” (SP e ES) é aquele que faz cobranças de débitos, dividas em aberto e “Trocador” (SP) é o móvel destinado a trocar bebês.

O surpreendente é que falamos de estados de uma mesma região e o melhor de tudo é que celebramos uma diversidade lingüística salutar e criativa neste pais “multilíngüe” e todo mundo se entende ainda que seja necessário alguns minutos e alguns ajustes para isso!

André Coneglian
Abril de 2006.

domingo, abril 16, 2006

Assim circula a sociedade

E o círculo casou-se com a circulo e tiveram circulinhos; cresceram, tornaram-se círculos bonitos e vistosos que casaram-se com outros círculos igualmente bonitos e vistosos que por continuidade tiveram lindos circulinhos...

Assim circula a sociedade dos círculos, tão fluída e constante e circulante, senhores e senhoras círculos, respeitosos, profissionais, trabalhadores; jovens e adolescentes e crianças e bebezinhos circulinhos com raios e diâmetros milimetricamente perfeitos para cada faixa etária; tudo em perfeita harmonia geométrica, circular, obviamente.

Até que encontraram um bebê quadrado aos berros numa das rotatórias da cidade circular.

- Oh!!! Uma aberração!
- O que faremos com este ser?
- Não há o que dizer? É horrendo o destino deste pequeno monstro; olha estes quatro cantos... nunca vimos algo parecido; como circulará, como poderá ir e vir por si só? De certo, não sobreviverá!
- Não seja cruel!
- Não sou, apenas externo a constatação de um fato.

O fato abalou aquela sociedade que, desde então viveu abalos constantes... o quadradinho cresceu e sobreviveu, contradizendo todas as previsões e possibilidades... casou-se com uma círculo, sofrendo toda a vida, juntamente com o marido, a crueldade da discriminação. Aqui e ali nasceram outras formas igualmente estranhas para a sociedade dos círculos, que classificaram como esdrúxulas e medonhas: triângulos, retângulos, polígonos, trapézios...

A sociedade circular não era mais a mesma! Entre eles mesmos passou a existir uma forma variante de círculo, formas ovais de diferentes curvaturas; eram tolerantes com os ovais, apenas isso, tolerantes...

Piorou quando passaram a surgir retas, semi-círculos e ângulos... “certamente vivemos um caos! O que seremos daqui mais uns tempos?! Traços? Pontos? E nada mais...”- perguntaram-se os círculos.

Mas a sociedade prosseguia: de todas as formas e tamanhos; aprenderam que a tolerância proporcionava o nascimento de outras virtudes, nunca antes imaginadas possíveis. Até os mais resistentes - os círculos - aprenderam e evoluíram muito.

“Pois é meus netinhos, não consigo imaginar como meus bisavós suportavam aquela monotonia circular... penso que foi isto que fez a minha avó casar-se com meu avô quadrado! Eu o amava muito também” – falava a senhora triângulo para seus três netinhos: triangulo eqüilátero, isósceles e o retângulo.

A Geometria sorria satisfeita por perceber que a harmonia entre todas as formas geométricas tornou-se real, independente de serem círculos ou por possuírem cantos ou pontos.

André Coneglian
14 de abril de 2006.

Que língua é esta...?

Pois bem, uma revista de circulação nacional, da área da educação, promoveu um concurso para a criação de uma frase (com até 200 caracteres), respondendo à pergunta: "Que língua é essa, que falamos e escrevemos no Brasil?"; empolguei-me com a possibilidade de poder ser premiado com o prêmio (um livro, também referente à questão da língua - o que me fascina demais). Pus-me a escrever e escrever... e 200 caracteres foram poucos para tantas palavras.
A frase com a qual estou concorrendo - ainda não fui comunicado se ganhei ou não o livro; seriam contempladas as 10 melhores frases! - é esta: "Falamos e escrevemos a língua que conecta o nosso interior com todo o exterior, que dá vida às idéias, que se entende na diversidade; o Português adornado de brasileirismo, velho e novo, reinventado dia-a-dia". Depois de enxugar e enxugar um texto enorme. A seguir, o que sobrou do texto enorme, uma versão mais condensada dele. Decidi incluir alguns links, para os mais curiosos - como eu - sobre assuntos pertinentes ao texto. Boa leitura!
O Brasil é MULTI: racial e cultural; lingüisticamente, nem se fala (ou se escreve)! O Português é a língua oficial, porém adornado de um brasileirismo, que o torna distinto do Português falado e escrito do Português de Portugal, Angola, Moçambique...

O Português do Brasil é “vários”; constituímo-nos “muitos” e um “só” povo. Incorporamos elementos semânticos e pragmáticos, até morfêmicos e fonéticos do tupi guarani, dos dialetos africanos, francês, inglês... “Abrasileiramos”, reinventando assim nossa(s) língua(s) portuguesa(s).

O que dizer do Português codificado no Sistema Braille? Dedos leitores e usuários do Português! BRASILEIROS que não ouvem a língua portuguesa falam a Língua Brasileira de Sinais, distinta da Língua Gestual Portuguesa, falada pelos surdos de Portugal. E quantos dialetos e línguas distintas temos entre as tribos indígenas brasileiras? Já descobertas, há serem estudadas...

Até os cães parecem latir e os gatos miarem em Português, aliás, toda nossa fauna possui uma sonoridade muito peculiar! O que dizer do BEM-TE-VI? Como cantam na América do Norte? Well-see-you?!

Falamos e escrevemos no Brasil a língua que conecta o nosso interior com o nosso exterior, que dá vida às idéias, que se entende na diversidade. Pluri-bacana! TRI-LEGAL!

Obs.: Leiam a Crônica de Cecília Meireles sobre o modo de falar dos Bem-te-vis, é muito legal: