O texto abaixo foi escrito, originalmente em 26/08/2014, ou seja, seis longos anos se passaram. Compartilharei novamente o texto, porém, com alguns excertos destacados em itálico, pois de lá para cá, aprendi muito, mudei, revi conceitos.
Não tínhamos um idiota na presidência, não tínhamos uma pandemia, não tínhamos uma crise generalizada. Meu primeiro sentimento hoje foi de não compartilhar o texto, afinal, minhas palavras não mudarão nada.
Sou consciente que as minhas palavras
não mudarão nada mesmo no exterior; entretanto, elas mudarão o meu interior,
não adoecerei por não dizer o que penso, de tentar ao menos, resgatar o debate,
o diálogo. Enfim...
"TENHO MEDO DO PT"
Londrina, 26 de agosto de 2014.
Londrina, 26 de agosto de 2020 (revisto).
Tecerei e compartilharei alguns comentários acerca da política. Para tanto, peço que levem em consideração os seguintes elementos:
1. Não sou cientista político ou
economista;
2. Não sou partidário ou filiado a
nenhum partido (ainda não, por falta de tempo e desconhecimento, ou por
acreditar nesse momento, ser desnecessário);
3. Não sou dono da verdade, nunca! O que escrevo aqui é pessoal e, portanto, tendencioso.
Quando eu era criança, nas eleições para Presidente quando Lula concorreu com Collor, lembro-me como se fosse hoje, as cores vermelho e azul indicavam fortemente os partidos envolvidos. Numa breve pesquisa para esse relato, estou me referindo ao segundo turno das eleições de 1989 – estava com 8 anos de idade.
Num fim de semana, estávamos na casa de conhecidos, localizada no centro da minha cidade natal, em plena avenida principal, cuja área de convivência com janela enorme para a avenida, tínhamos visão privilegiada do movimento de carros. Nós, crianças, fomos direcionados pelos mais velhos a bradar e comemorar quando os carros passavam com bandeiras do Collor e a vaiar e colocar os polegares para baixo quando os carros apoiavam Lula.
Diziam os adultos: “O PT come criancinhas!” e isso me marcou profundamente. Lula não ganhou aquela eleição. Collor sim. Viva! As criancinhas – eu me incluía no grupo – não seríamos devoradas. Na época, não entendia mesmo nada de política e tive dimensão real – se é que tive – da gravidade de algumas ações do então presidente Collor e equipe, por exemplo, o confisco das poupanças, somente alguns anos atrás.
Os pais, avós e outros adultos responsáveis pelas criancinhas que não foram devoradas pelo PT, suicidaram-se ou viram-se em situações caóticas de um dia para outro, visto que suas economias foram “trancadas” por – leio agora na internet, 18 meses.
Passados alguns anos, jovem, em minha primeira eleição como votante, votei em Lula para presidente, um “da Silva”, proletário, sem graduação, torna-se presidente do Brasil, 2002. Nunca mais votei no PT. [Votei no PT novamente em 2018, no segundo turno, em Fernando Haddad. No primeiro turno, votei em Marina Silva. Tinha/tenho minhas reservas em relação ao PT, todavia, não precisava ser um cientista político ou um vidente para saber o desastre que seria o candidato 17 como presidente. Um desastre como presidente, que não participou de debates, venceu por meio de fake news, envolvido em corrupção e outros piores delitos. Desastre exponencial na pandemia, uma ingerência como líder máximo do Poder Executivo, mais de 115 mil mortos pela covid-19; mais de 100 dias sem Ministro da Saúde] Em 2006, quando Lula se reelegeu, votei em Heloísa Helena do PSOL, que recebeu inexpressivos votos, ficando em terceiro lugar.
Em 2010, votei em Marina Silva, pelo Partido Verde; muito influenciado pela história de vida pessoal e política, narrada pela jornalista Marília de Camargo César. Para mim, foi tocante ler o discurso que Marina escreveu para anunciar sua saída do PT, do qual foi fundadora e sua filiação ao PV, por uma série de motivos elencados lá e outros, talvez, que só Marina os sabe de fato, não explicitados por vários interesses envolvidos, sobre os quais manipuladores e criativos politiqueiros puderam e podem especular até hoje.
Passados tantos outros acontecimentos, Marina Silva desfilia-se do PV e começa o movimento de criação da REDE. E mais uma vez, pessoalmente, vejo muita coerência nas argumentações e motivos para tanto. Algo novo, um partido novo, para uma política nova. E isso é entendido como muito negativo para muitos analistas políticos, uma figura política com grande expressão (quase 20 milhões de votos em 2010), migrar tanto de partido e inventar movimentos – como o da REDE. Inovador até no nome, enquanto partido. Não começa com “P”. Mas os “Democratas” já tinham iniciado a moda – pelo menos mudando de nome, não o velho modo de fazer política. Acho!!!
Afinal, sou um mero leitor, eleitor, leigo, mas com vez e voto para poder expressar o que penso e escolher os meus representantes políticos – e quase sempre os políticos que escolho não são eleitos. Às vezes sim, em nível municipal [na minha cidade natal, Marília-SP], três vezes votei em Sônia Tonin, duas vezes foi eleita!
Onde quero chegar com tudo isso? Não sei, apenas registrar essas palavras. Se minimamente servir para suscitar um discussão saudável, trazer à memória fatos esquecidos – temos uma memória muito curta em muitos quesitos, principalmente no âmbito político –desenterrei algumas questões da minha velha infância, ainda que muito pessoais! Quem mais tem memórias políticas, leigas ou profissionais?!
Estou realmente espantado com algumas “preocupações” e “medos” de pessoas letradas em relação à possível eleição de Marina Silva como presidente do Brasil: “posicionamento fechado para questões do agronegócio, indústria, etc.”, “adepta ao socialismo radical ‘cuba-venezuelano’, entre outros que, quem está com “medo” de Marina Silva sabe do que escrevo... [Medo da Marina Silva? Faz-me rir. Ninguém ficou com medo de um candidato que sempre preferiu a população armada?].
Regina Duarte – atriz global, foi paga para afirmar em rede nacional que tinha medo do PT/Lula (campanha para presidente de 2006). Lembram disso? [Regina Duarte voltou a fazer história – no sentido mais vexatório possível, como secretária da cultura no governo atual; ridícula para dizer o mínimo] Vamos combinar: 8 anos de Lula mais 4 de Dilma somam-se 12 anos de PT. Já é o suficiente, não?! [Dilma foi reeleita, porém, sabemos o que aconteceu: todo um circo foi armado para culminar no impeachment; assume o vice, Michel Temer e, 2018, eleito o candidato com o discurso mais cheio de ódio, sem programa, sem debates. Vociferava contra o PT, contra a corrupção, contra kit gay nas escolas. A Lava Jato, Sérgio Moro, FBI e Estados Unidos, quanta coisa debaixo do pano; tudo premeditado. Os Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário estão à mercê de milicianos, com discursos e ações extremistas. Banalização da Ciência e das Instituições que compõem a Democracia].
Porque, então, não voto em Aécio Neves? PSDB na minha leiga leitura não tem feito nada de muito produtivo e perene enquanto partido eleito e reeleito no Estado de São Paulo, principalmente para categorias como professores (na condição de funcionários públicos) e para o sistema educacional estadual [PSDB é um câncer! Não é pura e simplesmente “não tem feito nada de muito produtivo e perene”. Deliberadamente, sucateiam a Educação, Saúde e Segurança Pública, seja em São Paulo, seja aqui no Paraná, oito anos de Beto Richa como governador, um verdadeiro caos para a Educação Pública].
Marina Silva, figura frágil – fisicamente digo, me remete à figura frágil de Cecília Meireles, outra mulher que tenho a oportunidade de admirar pelas abundantes palavras que deixou registradas em histórias, crônicas, contos, poesias... Como gostaria de ver Marina Presidente, figura frágil, porém, de posicionamento político firme.
O medo do PT – que comia criancinhas – não é real, pois o partido teve mais de uma década para mostrar suas potencialidades e debilidades. [E a demonização dos partidos de esquerda, que o comunismo, que vamos nos tornar uma Venezuela, que Cuba, blá, blá, blá.... É preciso amadurecer!]. Aliás, criou uma artimanha cruel de “bolsa-tudo”, incentivando o já desacerbado e inexistente planejamento familiar nas camadas mais carentes no Brasil, afinal, a distribuição é por cabeça! Instala-se o medo nessas famílias de que a mudança de partido irá lhes tirar essa pequena fonte de renda [Aqui, mudei radicalmente. Sou integralmente a favor da proposta de Eduardo Suplicy, que há anos luta pela implementação da Renda Básica e, nesses tempos de pandemia vimos como é importante uma política social clara, para atendimento àqueles que são vítimas do sistema totalmente desigual em que vivemos].
Deveríamos, todos, ter medo da corrupção e da lógica “politiqueira” em que a grande maioria acaba, mais cedo ou mais tarde, participando... A frase “facebookiana” atribuída a Eça de Queiroz: “as fraldas e os políticos devem ser trocadas pelos mesmos motivos”, deve ser praticada por nós, eleitores, com consciência!
Assim, que o medo da ambientalista evangélica e tantos outros adjetivos que possa reunir e atribuam a ela – sendo reais ou inventados, seja enfrentado pela coragem de enfrentarmos o novo, que possamos dar a Marina Silva e sua equipe a oportunidade de mostrar suas potencialidades e debilidades nesses próximos 4 anos, já que fez compromisso público pela não reeleição, caso eleita agora em 2014.
E se, por um acaso, começar a desandar, ninguém está no cargo de Presidente para sempre; voltemos ao exemplo de Collor que entrou para a história do Brasil como o primeiro Presidente deposto por “impeachment”, por pressão popular – se é que foi assim, conforme minha ingênua leitura e lembrança do fato. Até em países como o Egito, 30 anos depois o presidente consegue ser deposto. Ninguém é vitalício no cargo, nem Fidel Castro; óbvio, as consequências dos atos podem durar alguns anos, décadas depois, mas sempre há a chance de um recomeço!
Confesso que fiquei muito desanimado com a impossibilidade da criação da REDE em tempo hábil para que Marina pudesse se candidatar a presidente [a Rede Sustentabilidade foi criado e quase me filiei]. Não me animei muito com a coligação do PSB e Marina sair como candidata a vice-presidente com Eduardo Campos – figura desconhecida para mim e, acredito para muitos de nós do Sul e Sudeste do Brasil; mas estava firme no propósito de votar nele, pelo mérito da vice.
Será que diante da trágica morte de Eduardo Campos, de tudo que já foi especulado, alguém não divulgou que a verdadeira mandante da queda do avião onde estava Eduardo e seus assessores, tenha sido Marina Silva, essa fundamentalista, para, enfim, tomar o lugar que tanto almejava, o de candidata da coligação. Há tanta imaginação nesse meio! [Mais uma morte misteriosa, essa de Eduardo Campos, como de tantas outras figuras nesse Brasil de política perversa].
Continuo esperançoso de um país melhor para meus filhos, de que não precisamos levá-los ao exterior para que tenham uma formação de primeiro mundo. Tenho esperança de um dia poder dizer a quem quer que seja, que pago por impostos justos, para desfrutar de serviços públicos de qualidade, seja em saúde, educação, transporte público... não usarei a última frase de Eduardo na “surreal” entrevista ao Jornal Nacional na noite de 12 de agosto de 2014: “Não vamos desistir do...”, já virou jargão e jargões costumam ser apenas jargões!
Estou decidido no propósito de 2010: votar em Marina Silva, por acreditar que a mudança, o novo, apesar do friozinho na barriga, sempre trazem consigo novos horizontes e possibilidades que o velho e a mesmice não permitem vislumbrar [Não estou esperançoso, como antes, entretanto, não desisti de tudo. É preciso resistir. O desejo de mudar do Brasil cresceu muito mais. Cogitamos, inclusive morar na Bolívia, afinal, em casa são três bolivianos. Confesso que está bem difícil manter a sanidade diante desse cenário, não só brasileiro, mas mundial de tudo fora de lugar. Nada esteve no lugar. Nunca. Perdi a ilusão de que as coisas estavam no lugar e, mesmo as que não estavam, eu podia contribuir de algum modo para colocar no lugar. Não posso nada, nem me iludir mais!].
André Coneglian, um leigo! [continuo leigo na política, mas como escrevi, não precisa ser um cientista político para saber que o Brasil está um desastre].