Fomos passar o natal de 2021 na casa dos meus pais, em Marília-SP. Saímos de Londrina-PR no dia 23 de dezembro bem cedo. Retornamos no dia 26, domingo. Chegamos em casa perto do meio-dia.
Para resumir a ópera e chegar ao cerne: na casa dos meus pais há o quartinho da bagunça. Quando solteiro, boa parte do meu arquivo pessoal ficava no quartinho da bagunça. Quando me casei, levei muita coisa comigo, entretanto, muita coisa ficou.
Já com uma década e poucos anos de casado, fiz uma nova seleção, jogando muita coisa. Por fim, restou uma última caixa no quartinho da bagunça. É sobre esta última caixa que pretendo tecer algumas considerações.
Não era uma caixa de sapatos, nem aquelas comuns de papelão. Foi a embalagem de uma das impressoras que tive, uma impressora pequena. Nessa última caixa, passados muitos anos, depois de todas as seleções e descartes, entre textos utilizados na universidade (graduação, mestrado, doutorado), minhas produções pessoais (desenhos, pequenos textos escritos a mão), fiquei com uns 15% do conteúdo dela.
Desfiz-me dos textos utilizados em algumas disciplinas do mestrado (Profa. Helen, minha orientadora, Prof. Sidnei, que foi orientador dela, Prof. Dagoberto, disciplinas sobre o livro, a leitura, leitores)... Ainda tinha um material produzido por uma professora do primeiro ano de graduação - textos fotocopiados, porém, tão bem feito, com capa, o programa da disciplina, mas decidi que era hora de desprender-me. Cheguei a visitar e participar de algumas reuniões do Grupo de Pesquisa dessa professora, sobre o "Integralismo" no Brasil.
Encontrei um "diploma de honra" da Encyclopedia Britannica do Brasil "por sua participação em nossa exposição de desenhos intercolégios realizado no Marília Tenis Clube", de 13 de agosto de 1994. Ainda esforço minha memória para lembrar algum detalhe desse evento: qual foi o desenho? eu fui na exposição? Eu guardo muita coisa na memória, mas desse evento só o diploma é o mais concreto que tenho.
Sobre desenhos, encontrei algo como "retratos" que fiz dos meus alunos surdos do Projeto de Extensão em que fui bolsista por dois anos e eles continuaram meus alunos nos estágios curriculares na área da Deficiência Auditiva. Formalmente, estive em contato com esses alunos por três anos, no mínimo.
Nessa caixa também estava minha pasta de estágio da área da Deficiência Auditiva, com um "10,0" a lápis e discreto da supervisora de estágio. Também o projeto "Jogo de Xadrez para Surdos" que propus na escola onde fiz o estágio na sala especial para surdos.
Há tantos outros itens com enorme relevância afetiva: um cartão do amigo Valter me desejando feliz 2003, mas um cartão totalmente manual, papel cartolina, colagens, letra do amigo. Onde se encontra isso nos dias de hoje?
Um desenho e texto - "Anjos sem asas" que escrevi em homenagem a minha prima Michelle, que compunha uma agenda minha com outros textos. Só este sobreviveu, pois fui incentivado no discipulado da igreja a me desfazer de tudo que era da minha "velha vida". Joguei textos, CDs (Madonna, por exemplo)... Quanto me arrependo! TANTÍSSIMO!
Estou imensamente grato ao UNIVERSO por estar longe desse tipo de abordagem limitadora, estreita e "emburrecente". De certo modo, lá no fundo, eu sabia que era idiotice me desfazer das minhas produções e objetos pessoais... guardei muitos desenhos "obscenos" e também minha coleção dos signos do zodíaco.
Há o texto intitulado "Um pequeno ensaio sobre mim", em folhas rascunhado manualmente, o qual pretendo digitar e socializar. Um cartão que foi produzido para que os alunos da turma "Maternal" presenteasse suas mamães, com um poema escrito por mim, a pedido das professoras, quando fui estagiário. Fiz isso para a turma da professora Lena também, minha amiga até hoje.
Meu autorretrato, que utilizei na pasta de estágio (Portifólio), inclusive as capas que produzi para esse material com colagens diversas, estavam guardadas, desenho que ganhei de algumas crianças nos meus estágios.
O que pretendo com esse texto? Fazer um inventário de tudo que encontrei? Não! Apesar de ter esse desejo. Um tesouro que sobreviveu há tantos anos e mudanças (mudanças internas, já que meus pais permanecem na casa onde estavam guardados).
Talvez, meu objetivo é, ao resgatar as memórias que estes itens me remetem e, ao contrário, eventos que eu havia me esquecido, mas o item me força uma lembrança - como do diploma da exposição do desenho, poder registrar e compartilhar aqui, com meus amigos, virtuais e reais, com meus leitores fiéis aquilo que considero relevante.
"A última caixa" é literalmente a última caixa que eu tinha na casa dos meus pais. Há uma conta que sigo no Instagram em que o autor - Luciano Lobato, é psicólogo, produtor do conteúdo dessa conta, escreveu sobre "caixas" e é muito interessante a analogia que ele faz das nossas caixas ao longo da existência. Clique aqui se quiser ler.
Também gosto de associar com o filme "O fabuloso destino de Amèlie Poulain" quando ela encontra uma pequena caixa com recordações de uma criança e passa a buscar o dono daquelas lembranças.
De certo modo, fico impressionado com o volume de coisas que produzi, que consegui guardar ao longo dessa minha pequena história de 40 anos. E por questões práticas, logística e de espaço precisamos ir nos desfazendo... É como a vida: cabe numa caixa!
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