Há alguns anos escrevi um poema intitulado “Perdoe se eu morrer”.
Sinto-me compelido, pelos meses de terror que vivemos com a pandemia e o crescente número de mortos no Brasil nesses primeiros meses de 2021, a repensá-lo, reescrevê-lo, reeditá-lo.
Perdoe o escambau!
Se eu morrer, serei mais um número na estatística divulgada todos os dias. E nada muda!
Se eu morrer, os verdadeiros culpados continuarão ilesos, debochando, chamando as dores de tantos enlutados de mi mi mi.
Se eu morrer, algumas pessoas que me conheceram em vida, ficarão tristes, farão homenagens das redes sociais, colocando fotos, e contando situações que vivemos juntos, desejarão “meus sentimentos”, “meus pêsames” aos meus familiares. E espero que tenham dor na consciência aqueles que votaram no presidente-genocida, mas será tarde, como já é tarde para tantos que morreram.
Muitos desses mortos, vítimas da própria escolha por terem votado nesse energúmeno, terem acreditado no tratamento precoce, aglomerado e não obedecerem às normas da OMS e demais normas restritivas.
Se eu morrer, minha família irá sentir todos os dias minha falta, passado o torpor da perda, a rotina é mais cruel para aqueles que ficam: ele acordaria essa hora, tomaria banho, faria o café, talvez iria na padaria se não tivesse pão.... mas deverão seguir sem mim. Deverão lutar pelas suas próprias vidas e se puderem, pelas vidas das pessoas desfavorecidas. Há tanto por fazer nesse mundo.
Façam por vocês, façam pelas pessoas, não por instituições, não em nome de ninguém, não pela promessa de um porvir em qualquer paraíso não terreno. A vida é aqui e agora e está sendo desperdiçada, como se as vidas das pessoas não valessem nada!
Se eu morrer de covid-19, vocês que permaneceram vivos, lutem para que os responsáveis, presidente e todos seus asseclas sejam responsabilizados civil e penalmente o quanto antes, por mim e por todos que morreram vítimas da incompetência e ingerência programada e proposital para deixar morrer, para matar!
Peço, suplico: valorizem nossas escolas públicas, universidades públicas, os professores, Educadores, o Sistema Único de Saúde, as demais instituições públicas. Valorizem a Ciência! Estudem, leiam, não tenham medo do PT, da Esquerda, do Comunismo sem antes entenderem o que está em jogo. Cresçam, amadureçam, participem das instâncias de decisões de escolha, não deixem escolherem por vocês.
A ingenuidade, o ódio gratuito e fantasioso ao PT nos trouxe para esse cenário de terror. Não estou defendendo o PT. Estou chamando a atenção para a maturidade. Analisar as situações de modo mais profundo. Estou cansado, esgotado. Perdi o encantamento com tudo. Sigo vivo pela minha família, esposa e filhos. Paula é forte! Não queria ter perdido o encantamento, entretanto, não foi uma escolha. Uma série de fatores me trouxe para esse nada, situações e pessoas!
Talvez, um dia, no futuro, caso não tenha morrido de covid ou qualquer outro motivo, ao reler esse texto eu possa rir, estar numa situação melhor que a atual. Sofrimento é ter consciência crítica num mundo que é essencialmente cruel!
E você, lendo esse texto, é porque está respirando. Encontre a missão da sua vida. Faça a diferença na vida. Não exija que ninguém seja como você, não deixe que as pessoas te coloquem em caixas ou formas pré-estabelecidas. Be brave! Be happy!
André
Coneglian
23.03.2021
p.s.:
298.676 mortos até 23 de março de 2021. Hoje, 08 de julho de 2021 são mais de 529
mil mortos, ou seja, 230.324 pessoas morreram desde a escrita desse texto até a data de hoje, quando o compartilho aqui, em pouco mais de três meses. Perdi amigos, amigos perderam pais, cônjuges, perdi ex-aluno, alunos perderam pais... nos "habituamos" aos muitos óbitos...
Um comentário:
Concordo com você André, sobrevivendo, precisamos lutar pelas vidas que foram negligenciadas.
Espero que possamos estar aqui, para cobrar e buscar viver o agora, no “pós pandemia”.
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