Às 18h30, fui buscar pão no
mercado aqui próximo de casa, ainda que seja apenas duas quadras, é uma
caminhada que permite muitos pensamentos. E, pelo horário, o trânsito estava um
caos; atravessar a Avenida Higienópolis é demorado e perigoso.
Na caminhada de hoje, lembrei de um trecho da série Sense8 – a única série que me permito rever e rever os episódios, trecho do qual fiz uma postagem em 15 de maio de 2023 (Instagram/Facebook), cujo print mostro abaixo:
Segue sendo assustador imaginar que este tipo de homem continua circulando entre nós. Veja bem, não há nenhum mal em ser “simples” e guiar-se por uma filosofia de vida que se resume a “comer, beber, cagar, foder… e lutar por mais”. O problema é forçar as pessoas de sua convivência a engolir este tipo de filosofia, na maior parte do tempo de jeito truculento e intimidador.
Lembrei da canção “Casa no campo”, cantada por Elis Regina, associando com uma imagem de uma publicação do Instagram, de tantas imagens estáticas e em movimento que entupi minhas vistas (cansadas) no dia de hoje:
Eu quero uma casa
no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa
no campo
Onde eu possa ficar do tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros
e cabras
Pastando solenes no meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a
esperança de óculos
E meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa
no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros, e nada mais
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos, meus livros e nada mais
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros, e nada mais
Desde que
conheci esta música, eu sempre quis esta casa no campo. Entretanto, como frequentei algumas casas no campo desde a infância, sabia que o trabalho no campo é árduo, cuidar de
plantações e animais. Talvez uma “simples” chácara, como a que fomos convidados
para conhecer e passar umas horinhas na piscina (ou na beira da piscina, como
eu fiquei, sendo devorado por borrachudos).
Apesar disso,
foi uma tarde muito interessante, se eu contar que a chácara é de um casal de
médicos, com uma filha única pré-adolescente, pomar com várias árvores
diferentes – jaqueira, mangueira, jabuticabeira, pitangueira, etc... e flores,
e uma “casa de boneca” de madeira enorme e, dentro da casa principal um quarto
dedicado ao hobby do homem – aeromodelismo.
É uma
realidade ainda distante de nós (minha família e eu), enfrentando o cotidiano para pagar aluguel,
alimentação e umas poucas regalias (internet, lanche de vez em quando, etc).
Quero deixar
claro que, na minha caminhada atrás dos dez pães e 1 litro de leite, eu pensei
no trecho da série Sense8 e também num filme que amo “Peixe Grande e suas
histórias maravilhosas”, apresentado pelo amigo Gilson Cardoso à nossa equipe
da época no Núcleo de Atendimento Psicopedagógico, da Secretaria Municipal de Educação
de Marília-SP.
“Peixe
Grande e suas histórias maravilhosas” tem um enredo lindo, encantador, todo
ele. Todavia, há um trecho-chave, cujo acontecimento na história faz todo
enredo possível. Se você pretende assistir ao filme – o que recomendo
fortemente, o spoiler que darei logo
mais não estraga a experiência.
O
personagem principal, quando adolescente junto com outros dois amigos, descobrem
como irão morrer, cada um de um modo e épocas diferentes. E, desde então, esta
questão me atormenta: como seria se eu soubesse o modo e quando irei morrer,
viveria os dias até lá de modo melhor e mais intenso? É possível tantas
elucubrações acerca de viver sem saber o dia e enredo da própria morte... Então
como gastar todos estes dias?
Neste
momento em que me organizei para registrar os pensamentos e os questionamentos,
obviamente, outras ideias e associações foram surgindo e, simplesmente fui
adicionando, como a letra de “Casa no Campo” e a breve descrição da visita à
chácara do casal de médicos.
Basicamente,
pensamentos e questionamentos sobre o nonsense
que é estar vivo e consciente sobre a existência, ou seja, nada novo debaixo do
sol escaldante, da promessa chuva, de terremotos catastróficos em terras longínquas,
com pouquíssimas almas dispostas a sentarem e escutarem nossas neuroses...
E você que me lê, vivo, provavelmente (e eu, terei partido?), a vida é simples? Comer, beber, cagar, foder e lutar por mais? Ou mais do que o funcionamento fisiológico de um animal mamífero?
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