O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

sábado, dezembro 23, 2023

MEU AMIGO ALÊ

 "Vocês me dão licença, vou me recolher..."

Estas foram as últimas palavras que ouvimos do amigo Alessandro.

Dia 22/11 [2023] recebemos a notícia de que ele estava com "câncer terminal".

Dia 24/11 [2023] a noite fomos visitá-lo em sua casa. Quando chegamos, ele estava dormindo. Ficamos conversando com Cleide, sua esposa e com Bia, irmã da Cleide.

Passados uns 40 minutos, Cleide o ajudou a levantar, para tomar remédio e ele veio caminhando do quarto para a sala.

Estava com uma crise de soluço há alguns dias...

Trocamos algumas palavras. Ele estava fisicamente debilitado, psicológica e emocionalmente abalado. Tomou o remédio e disse estas palavras para Paula e para mim: "Vocês me dão licença... preciso me recolher..." e voltou para o quarto.

Nove dias depois, Alê recolheu-se! Recolheu-se desta vida que conhecemos e que chamamos de "realidade". Cleide publicou em suas redes sociais, minutos depois dele partir: "Deus me deu, Deus tomou. Bendito seja o nome do Senhor", era o domingo 03/12 [2023].

No velório, ouvi: "ao menos não foram longos meses sofrendo..."

Uma pessoa boníssima. Realmente, não merecia qualquer tipo de sofrimento.

Descansou. Recolheu-se!

O grande problema, como sempre nestes casos, é de quem fica nesta realidade com a dor da ausência. A esposa, agora viúva, a filha, agora órfã de pai, os pais idosos que perderam o primogênito, irmão, sobrinhos, cunhados, concunhados, amigos do trabalho, da igreja, da vida...

A bíblia cristã, a qual tive como livro sagrado por quatro décadas, duas delas como cristão evangélico, registra que melhor é ir numa casa em luto que numa festa "pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério", diz a continuação.

Devo discordar educada e respeitosamente.

Vivos devem viver. Viver intensamente, se assim o desejarem e tiverem saúde e condições para fazer. Ir a uma casa em luto, em respeito à dor dos que ficaram. Recolher-se quando sentir que é preciso, quando for necessário. O mundo já é cheio de restrições e dificuldades naturais. Não se pode deixar de fazer isto ou aquilo com medo do que vão pensar ou dizer. "Vamos nos permitir", pois um dia iremos nos recolher deste mundo.

Vamos amar! Semear amor, plantar amor, colher e recolher amor. Espalhar mais amor!

É preciso "festar" se tem desejo e possibilidade de fazê-lo, como escrevi. É preciso estar com aqueles e aquelas que colaboram com esta festa.

Cecília Meireles escreveu num contexto de desarmamento, de cultura de paz que: "Se fosse possível não ensinar a matar, - uma vez que para morrer todos nascemos já ensinados...". Desse modo, é preciso viver e festejar a vida! Pois a humanidade nasceu para morrer.

Triste fato! Nós, os vivos da vez, que lutemos para dar conta das ausências de pessoas queridas que já foram...



CARTA A CECÍLIA MEIRELES POR OCASIÃO DE SEU 122º ANIVERSÁRIO

Londrina-PR, 07 de novembro de 2023.

 


Querida Cecília,

         Escrevo esta carta, no dia do seu aniversário de 122 anos, para te dizer que pedi essa atividade para meus alunos do 5º Ano A, do reforço, da Escola Municipal Prof. Carlos Zewe Coimbra. Primeiro, eles escreveram um pequeno texto no caderno deles com sua biografia.

Desde que comecei como professor desta turma, eles foram informados do meu amor por você e por tudo o que você escreveu; eles conheceram alguns poemas do maravilhoso “Ou isto ou aquilo” e também outros poemas de outros livros.

Eu te conheci, conscientemente, aos 19 anos no ano de 2000, quando comprei o livro “Crônicas de Viagem, vol. 1”, ou seja, conheci primeiro sua prosa, só depois seus poemas.

Mas a verdade é que eu já tinha um livro seu de poemas na minha estante, uma antologia feita por sua filha caçula, Maria Fernanda. O livro era da biblioteca da escola onde estudei o Ensino Médio. Por algum motivo, o livro não voltou para a biblioteca e fará quase 30 anos que o livro está comigo.

Em 2007, quando fui pela primeira vez ao Rio de Janeiro, um dos meus objetivos principais da viagem era ir até o seu endereço, o último onde morou, Rua Smith de Vasconcelos, nº 30, no bairro de Cosme Velho.

Eu acreditei, de modo pueril, que, ao chegar na casa, alguém me recepcionaria e que me apresentaria e eu teria a oportunidade de conhecer o seu lar. Claro que isso não aconteceu. Tirei algumas fotos com uma câmera digital, fui embora meio triste, meio alegre.

Eu agradeço ao Universo por ter me apresentado a você e suas obras. Amo tudo, exatamente tudo o que você escreveu, o que já li e o que ainda não li, mas lerei um dia e tenho certeza que vou amar.

“Arte de ser feliz" e "História de Bem-te-vi” são as primeiras crônicas que tenho lembrança de ler e gravar em minha memória (depois de crónicas de viagem). Também gosto muito das crônicas “A 500 metros”, “Fim do mundo” e “Brinquedos incendiados”, mas como já escrevi, gosto de tudo o que você escreveu.

Os seus poemas italianos me fascinam e “Sugestão" é um poema que me marcou profundamente – “sede assim qualquer coisa,/ isenta, serena, fiel/ /não como o resto dos homens”. Também o poema “Reinvenção”, os versos, “a vida, a vida, a vida,/ mas a vida, só é possível reinventada”. Porém, você já sabe, amo tudo, tudo, tudo o que você escreveu.

Bem, para não me alongar muito, vou finalizar por aqui, feliz por poder comemorar seu aniversário de 122 anos hoje e de saber que você estará comigo todos dias aqui na Terra até o dia que em que eu virar poeira.

Muito obrigado por tudo!

 

André, seu leitor...