"Vocês me dão licença, vou me recolher..."
Estas foram as últimas palavras que ouvimos do amigo Alessandro.
Dia 22/11 [2023] recebemos a notícia de que ele estava com "câncer terminal".
Dia 24/11 [2023] a noite fomos visitá-lo em sua casa. Quando chegamos, ele estava dormindo. Ficamos conversando com Cleide, sua esposa e com Bia, irmã da Cleide.
Passados uns 40 minutos, Cleide o ajudou a levantar, para tomar remédio e ele veio caminhando do quarto para a sala.
Estava com uma crise de soluço há alguns dias...
Trocamos algumas palavras. Ele estava fisicamente debilitado, psicológica e emocionalmente abalado. Tomou o remédio e disse estas palavras para Paula e para mim: "Vocês me dão licença... preciso me recolher..." e voltou para o quarto.
Nove dias depois, Alê recolheu-se! Recolheu-se desta vida que conhecemos e que chamamos de "realidade". Cleide publicou em suas redes sociais, minutos depois dele partir: "Deus me deu, Deus tomou. Bendito seja o nome do Senhor", era o domingo 03/12 [2023].
No velório, ouvi: "ao menos não foram longos meses sofrendo..."
Uma pessoa boníssima. Realmente, não merecia qualquer tipo de sofrimento.
Descansou. Recolheu-se!
O grande problema, como sempre nestes casos, é de quem fica nesta realidade com a dor da ausência. A esposa, agora viúva, a filha, agora órfã de pai, os pais idosos que perderam o primogênito, irmão, sobrinhos, cunhados, concunhados, amigos do trabalho, da igreja, da vida...
A bíblia cristã, a qual tive como livro sagrado por quatro décadas, duas delas como cristão evangélico, registra que melhor é ir numa casa em luto que numa festa "pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério", diz a continuação.
Devo discordar educada e respeitosamente.
Vivos devem viver. Viver intensamente, se assim o desejarem e tiverem saúde e condições para fazer. Ir a uma casa em luto, em respeito à dor dos que ficaram. Recolher-se quando sentir que é preciso, quando for necessário. O mundo já é cheio de restrições e dificuldades naturais. Não se pode deixar de fazer isto ou aquilo com medo do que vão pensar ou dizer. "Vamos nos permitir", pois um dia iremos nos recolher deste mundo.
Vamos amar! Semear amor, plantar amor, colher e recolher amor. Espalhar mais amor!
É preciso "festar" se tem desejo e possibilidade de fazê-lo, como escrevi. É preciso estar com aqueles e aquelas que colaboram com esta festa.
Cecília Meireles escreveu num contexto de desarmamento, de cultura de paz que: "Se fosse possível não ensinar a matar, - uma vez que para morrer todos nascemos já ensinados...". Desse modo, é preciso viver e festejar a vida! Pois a humanidade nasceu para morrer.
Triste fato! Nós, os vivos da vez, que lutemos para dar conta das ausências de pessoas queridas que já foram...