O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

sexta-feira, julho 03, 2020

INOCÊNCIA PERDIDA



Desde pequeno fui criatura quieta. Observador. Crédulo. Acreditava nas pessoas e no que as pessoas contavam. Acreditava num mundo melhor. Acreditava – que loucura – que eu mesmo poderia ajudar a melhorar o mundo!

Nessa época era uma crença pueril, mística, literária. Segui crédulo e inocente por muitos anos, mesmo depois dos 18 anos. Minha amiga e o namorado foram morar juntos, família e ela estavam em atrito todo o tempo.

Na minha cabeça “morar com o namorado” era somente morar com o namorado. Por isso, o “menino” crédulo e inocente, assustou com a notícia de que a amiga estava grávida. “Ah, então, eles fazem sexo...”

Claro que eu sabia que as pessoas fazem sexo, mas, minha amiga tinha ido morar com o namorado por outro motivo. Eu deveria ter vergonha de confessar isso? Não, não tenho. Revela a minha completa inocência ridícula...

Cresci. Amadureci. Demorou? Tudo no tempo que tinha que ser. Igreja. Universidade. Vida de adulto. Onde foi parar aquele menino crédulo e inocente? Está calejado!

E a crença num mundo melhor? Não creio mais nessa balela. Busco aprender como lidar com a realidade de que o mundo é este e ponto! Não posso mudar o mundo, nem ajudar a muda-lo. O máximo que posso fazer é mudar a mim mesmo.

Mudar para ser melhor para as pessoas que amo, pois não posso agradar a todos.

Passados esses 39 anos de existência, ao contemplar pessoas sem ambição nenhuma – não falo de ambição por dinheiro, riqueza, fama. Aquela em que a pessoa se conformou em ser o que é, o que sempre foi, estar onde está e aceitar: “Meu avô foi pedreiro, meu pai foi pedreiro, eu sou pedreiro. Sou porteiro há 20 anos e vou me aposentar como porteiro”.

Não é desvalorização ou menosprezo pelas profissões de pedreiro e de porteiro. Estou falando do fato das pessoas que se conformaram em exercer este ou aquele papel por toda vida.

Também não estou criticando a atitude da pessoa escolher essa “estabilidade” para sua vida. Eu, particularmente, não posso me conformar com essa estabilidade! Uma vida inteira do mesmo, outra vez, novamente e de novo...

Uma professora que trabalhou comigo disse quando voltávamos da festa da formatura da turma de Pedagogia em que fomos homenageados: “Tenho saudades da pessoa que eu era”. Ela quis dizer que tinha saudade do tempo em que acreditava mais em si, nas pessoas, em uma possível missão no mundo.

“Como eu te entendo!”, porém, minha saudade não é aquela “ah, como eu queria sentir aquilo de novo”, não, não quero. Hoje, é apenas uma constatação: “não sou mais aquele crédulo e inocente”.

A inquietação é que não descobri o que fazer com tudo isso ainda. A casca antiga está apertada, comprimindo, sufocando. Crescer e amadurecer, de verdade, é uma jornada constante e dolorida. Para os que estão paralisados na consciente ou inconsciente “tranquila estabilidade” a casca sempre servirá.

André Coneglian
03 julho 2020

2 comentários:

Unknown disse...

Adorei seu texto André. Eu penso que viver é um eterno redescobrir se e a inocência perdida é parte desse processo. Apesar de eu concordar que o mundo é de quem não sente, mudar a si mesmo é também uma forma de mudar o mundo!

Anônimo disse...

Me vejo nessa fase de inocência entre acreditar em um mundo melhor e a decepção ao mesmo tempo. Espero me sentir melhor um dia sobre essa mudança em meus pensamentos.