Desde
pequeno fui criatura quieta. Observador. Crédulo. Acreditava nas pessoas e no
que as pessoas contavam. Acreditava num mundo melhor. Acreditava – que loucura –
que eu mesmo poderia ajudar a melhorar o mundo!
Nessa
época era uma crença pueril, mística, literária. Segui crédulo e inocente por
muitos anos, mesmo depois dos 18 anos. Minha amiga e o namorado foram morar
juntos, família e ela estavam em atrito todo o tempo.
Na
minha cabeça “morar com o namorado” era somente morar com o namorado. Por isso,
o “menino” crédulo e inocente, assustou com a notícia de que a amiga estava grávida.
“Ah, então, eles fazem sexo...”
Claro
que eu sabia que as pessoas fazem sexo, mas, minha amiga tinha ido morar com o
namorado por outro motivo. Eu deveria ter vergonha de confessar isso? Não, não
tenho. Revela a minha completa inocência ridícula...
Cresci.
Amadureci. Demorou? Tudo no tempo que tinha que ser. Igreja. Universidade. Vida
de adulto. Onde foi parar aquele menino crédulo e inocente? Está calejado!
E
a crença num mundo melhor? Não creio mais nessa balela. Busco aprender como lidar
com a realidade de que o mundo é este e ponto! Não posso mudar o mundo, nem
ajudar a muda-lo. O máximo que posso fazer é mudar a mim mesmo.
Mudar
para ser melhor para as pessoas que amo, pois não posso agradar a todos.
Passados
esses 39 anos de existência, ao contemplar pessoas sem ambição nenhuma – não falo
de ambição por dinheiro, riqueza, fama. Aquela em que a pessoa se conformou em
ser o que é, o que sempre foi, estar onde está e aceitar: “Meu avô foi
pedreiro, meu pai foi pedreiro, eu sou pedreiro. Sou porteiro há 20 anos e vou
me aposentar como porteiro”.
Não
é desvalorização ou menosprezo pelas profissões de pedreiro e de porteiro. Estou
falando do fato das pessoas que se conformaram em exercer este ou aquele papel por
toda vida.
Também
não estou criticando a atitude da pessoa escolher essa “estabilidade” para sua
vida. Eu, particularmente, não posso me conformar com essa estabilidade! Uma vida
inteira do mesmo, outra vez, novamente e de novo...
Uma
professora que trabalhou comigo disse quando voltávamos da festa da formatura
da turma de Pedagogia em que fomos homenageados: “Tenho saudades da pessoa que
eu era”. Ela quis dizer que tinha saudade do tempo em que acreditava mais em
si, nas pessoas, em uma possível missão no mundo.
“Como
eu te entendo!”, porém, minha saudade não é aquela “ah, como eu queria sentir
aquilo de novo”, não, não quero. Hoje, é apenas uma constatação: “não sou mais
aquele crédulo e inocente”.
A
inquietação é que não descobri o que fazer com tudo isso ainda. A casca antiga
está apertada, comprimindo, sufocando. Crescer e amadurecer, de verdade, é uma
jornada constante e dolorida. Para os que estão paralisados na consciente ou inconsciente
“tranquila estabilidade” a casca sempre servirá.
André
Coneglian
03
julho 2020
2 comentários:
Adorei seu texto André. Eu penso que viver é um eterno redescobrir se e a inocência perdida é parte desse processo. Apesar de eu concordar que o mundo é de quem não sente, mudar a si mesmo é também uma forma de mudar o mundo!
Me vejo nessa fase de inocência entre acreditar em um mundo melhor e a decepção ao mesmo tempo. Espero me sentir melhor um dia sobre essa mudança em meus pensamentos.
Postar um comentário