Nicanor Parra
Foi domingo, 22 de junho de 2025. Vi estes versos no story (Instagram) da querida poeta mineira, Adriane Garcia.
A partir daí, foi um mergulho por alguns poemas de Nicanor Parra. Li o que tinha disponível sobre sua biografia. O mais assombroso, mesmo não sabendo quando escreveu estes versos - “pois o tempo está ficando curto”, pensar que foi escrito por um homem que viveu 103 anos. Nicanor Parra (05/09/1914 - 23/01/2018), matemático e poeta chileno.
Logo depois escrevi no Direct para Adriane:
Querida Adriane,
Eu não conhecia nada de Nicanor Parra. Após ler estes versos e mandar uma reação "oooohhhh - boca aberta", fiz associação com alguns versos de Cecília Meireles e escrevi o que está abaixo, antes de escrever esta introdução...
Não sem antes pesquisar sobre Nicanor Parra e estou aqui, estupefato! Agradecido por você ter jogado a isca, por ter riscado esta faísca... Já li uns 10 poemas, em textos que homenageiam Nicanor...
Muito
obrigado!
---------------------
[o que escrevi antes da introdução acima]:
Minha referência é Cecília Meireles, sabe disso, não é? Meu mundo é dividido em a. C. M e d. C. M, e, claro que depois de Cecília Meireles, venho todos esses anos tentando absorver, incorporar as palavras dela.
E não é algo como uma "paixonite" ou uma "celebrização" da pessoa, da figura pública. É uma conexão inexplicável, mediada pelas palavras, temas, rimas, essência de vida e filosofia de vida, da existência terrena e do Desconhecido...
O poema de Cecília em que está o verso – “Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada”, que fiz analogia com estes de Nicanor Parra, é o que segue:
PERGUNTO-TE ONDE SE ACHA A MINHA VIDA
Pergunto-te onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída
Vão-se
as minhas perguntas aos depósitos do nada.
E
a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida
por
esperanças hereditárias? E de cada
pergunta
minha vai nascendo a sombra imensa
que
envolve a posição dos olhos de quem pensa.
Já
não sei mais a diferença
de
ti, de mim, da coisa perguntada,
do
silêncio da coisa irrespondida.
Cecília
Meireles
----------------------
Numa leitura recente dos poemas de Maria Mortatti, “A noite lilás: poemas” (Scortecci Editora, 2025, p. 20), também versam sobre as muitas perguntas que assombram as pessoas de pensamentos inquietos:
COM O TEMPO
Com
o tempo tudo se vai:
os
anos de enganos,
as
ilusões perdidas,
as
perguntas sem respostas.
Quando
tudo se foi
e
exaustos nos encontramos
na
rede estreita do destino,
esquecida
toda a ciência,
almas
se roçando em carne viva,
na
urgência do instante,
enfim,
aprendemos a amar.
Maria Mortatti
É óbvio que vou querer livros de Nicanor Parra e li que seus poemas se aproximam do pensamento e filosofia de Albert Camus. Isso é Sincronicidade Pura!
E o poema completo de Nicanor Parra onde estão estes primeiros versos é o que segue. Um primor!
TRÊS POESIAS
1.
Já não me resta nada por dizer
Tudo o que eu tinha pra dizer
Foi dito não sei quantas vezes.
2.
Eu perguntei não sei quantas vezes
Mas ninguém responde minhas perguntas
É absolutamente necessário
Que o abismo responda de uma vez
Porque o tempo está ficando curto.
3.
Só uma coisa é clara:
Que a carne se enche de vermes.
---------------------
Estes encontros, com palavras, poetas, ideias, pensamentos, me dão a ilusão de alegria! Sim, eu sei, me contento com pouco... pois não tenho mais parte com a criação de expectativas para nada... o abismo não respondeu, não responderá... as perguntas já estão todas nos depósitos do nada...
Nenhum comentário:
Postar um comentário