O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

terça-feira, junho 24, 2025

O DIA EM QUE CONHECI OS VERSOS DE NICANOR PARRA



Eu perguntei não sei quantas vezes
Mas ninguém responde minhas perguntas.
É absolutamente necessário
Que o abismo responda de uma vez
Pois o tempo está ficando curto.

Nicanor Parra


Foi domingo, 22 de junho de 2025. Vi estes versos no story (Instagram) da querida poeta mineira, Adriane Garcia.

A partir daí, foi um mergulho por alguns poemas de Nicanor Parra. Li o que tinha disponível sobre sua biografia. O mais assombroso, mesmo não sabendo quando escreveu estes versos - “pois o tempo está ficando curto”, pensar que foi escrito por um homem que viveu 103 anos. Nicanor Parra (05/09/1914 - 23/01/2018), matemático e poeta chileno.

Logo depois escrevi no Direct para Adriane:

Querida Adriane,

Eu não conhecia nada de Nicanor Parra. Após ler estes versos e mandar uma reação "oooohhhh - boca aberta", fiz associação com alguns versos de Cecília Meireles e escrevi o que está abaixo, antes de escrever esta introdução...

Não sem antes pesquisar sobre Nicanor Parra e estou aqui, estupefato! Agradecido por você ter jogado a isca, por ter riscado esta faísca... Já li uns 10 poemas, em textos que homenageiam Nicanor...

Muito obrigado!

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[o que escrevi antes da introdução acima]:

Minha referência é Cecília Meireles, sabe disso, não é? Meu mundo é dividido em a. C. M e d. C. M, e, claro que depois de Cecília Meireles, venho todos esses anos tentando absorver, incorporar as palavras dela.

E não é algo como uma "paixonite" ou uma "celebrização" da pessoa, da figura pública. É uma conexão inexplicável, mediada pelas palavras, temas, rimas, essência de vida e filosofia de vida, da existência terrena e do Desconhecido...

O poema de Cecília em que está o verso – “Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada”, que fiz analogia com estes de Nicanor Parra, é o que segue:


PERGUNTO-TE ONDE SE ACHA A MINHA VIDA


Pergunto-te onde se acha a minha vida.

Em que dia fui eu. Que hora existiu formada

de uma verdade minha bem possuída


Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.

 

E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida

por esperanças hereditárias? E de cada

pergunta minha vai nascendo a sombra imensa

que envolve a posição dos olhos de quem pensa.

 

Já não sei mais a diferença

de ti, de mim, da coisa perguntada,

do silêncio da coisa irrespondida.

 

Cecília Meireles

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Numa leitura recente dos poemas de Maria Mortatti, “A noite lilás: poemas” (Scortecci Editora, 2025, p. 20), também versam sobre as muitas perguntas que assombram as pessoas de pensamentos inquietos:


COM O TEMPO

 

Com o tempo tudo se vai:

os anos de enganos,

as ilusões perdidas,

as perguntas sem respostas.

Quando tudo se foi

e exaustos nos encontramos

na rede estreita do destino,

esquecida toda a ciência,

almas se roçando em carne viva,

na urgência do instante,

enfim, aprendemos a amar.

 

Maria Mortatti


É óbvio que vou querer livros de Nicanor Parra e li que seus poemas se aproximam do pensamento e filosofia de Albert Camus. Isso é Sincronicidade Pura!

E o poema completo de Nicanor Parra onde estão estes primeiros versos é o que segue. Um primor!


TRÊS POESIAS

1.
Já não me resta nada por dizer
Tudo o que eu tinha pra dizer
Foi dito não sei quantas vezes.


2.
Eu perguntei não sei quantas vezes
Mas ninguém responde minhas perguntas
É absolutamente necessário
Que o abismo responda de uma vez
Porque o tempo está ficando curto.

 

3.
Só uma coisa é clara:
Que a carne se enche de vermes.

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Estes encontros, com palavras, poetas, ideias, pensamentos, me dão a ilusão de alegria! Sim, eu sei, me contento com pouco... pois não tenho mais parte com a criação de expectativas para nada... o abismo não respondeu, não responderá... as perguntas já estão todas nos depósitos do nada...

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