O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

domingo, janeiro 12, 2025

QUATRO VEZES ONZE

Londrina-PR, 11 de janeiro de 2025. Manhã de sábado. Férias.

A medida de referência hoje é 11. Dia 11, do primeiro mês, do ano “quadrado perfeito" (452), apenas uma pequena referência a vários vídeos produzidos em razão de 2025 ser esse quadrado perfeito – para o deleite de quem gosta de matemática (não é o meu caso). Entretanto, lembro que 2025 depois de Cristo é somente uma das muitas referências de ano.

Retornando a referência 11, apenas para sair do sistema decimal tradicional, para escrever sobre a proximidade do meu quadragésimo quarto aniversário. Quando completei 4 décadas (lá em janeiro de 2021) escrevi um texto sobre estas quatro décadas: até os 10 anos, e depois que fiz até os 20, e 30 e 40.

Não quero reler este testo agora, mesmo correndo o risco de ser repetitivo (sempre sou!). Afinal, 11 anos, 22 anos, 33 anos e agora 44 anos, se difere apenas pelos últimos quatro anos (dos 40 do último texto).

Todavia, como o autor sou eu, o aniversariante sou eu, e o "EU" é um demônio egoísta narcisista, ficarei feliz se leitor/interlocutor tiver. Recordo aqui a doce e querida Professora Stela Müller, da Universidade Estadual Paulista, que numa das suas aulas disse: "o texto existe para o outro, para ser lido pelo outro, ainda que o outro seja o próprio autor, em caso de diários ou textos mais intimistas".

Claro que reproduzo entre aspas uma essência do que permaneceu em minha memória o que ela disse naquela ocasião. Assim, o Eu quase aniversariante deseja escrever um texto pré-aniversário tendo como referência a medida de 11 anos. Quatro vezes onze é igual a quarenta e quatro. Óbvio.

Não tão exato e óbvio é o existir por esses 44 anos. Por eu ter amado ser aluno, por amar conhecer, aprender... A felicidade (hoje, tola) de relacionar o aprendido na escola com a vida cotidiana, como quando a Profa. Edméia Sola, na 4ª série, em Estudos Sociais, ensinou a. logística dos números das casas: um lado são números pares, do outro, números ímpares. Quando minha mãe foi me buscar, pude comprovar empiricamente. É como se a professora tivesse descortinado algo que sempre esteve ali e nunca tinha visto.

Nascer em dia, mês e ano ímpares (15-01-1981), que inclusive se relaciona com o texto que escrevi no primeiro dia do ano de 2025 – sobre ser o primeiro (letra inicial “A” no nome, primeiro filho dos meus pais, nascer em janeiro, etc) outra relação com conhecimento matemático escolar: par com par é par, ímpar e ímpar também é par, somente par e ímpar é ímpar. Deste modo, todo ano ímpar tenho idade par (2025 – 1981 = 44), todo ano par (2024) tenho idade ímpar e assim vou me despedindo dos 43 anos.

Aos 11 anos (1992) eu estava na 5a série (atual 6º Ano do Ensino Fundamental). Cursando a disciplina de Inglês, com Dona Guacira, elegantérrima, no SESI em Marilia-SP. Eu sonhava cursar Inglês. Aos 11 anos era uma criança velha, Menino do Quarto no forninho. Onze anos depois, aos 22 anos, em 2003, vejam o salto, estava no 2º ano da faculdade.

Esses dias, eu me lembrei que aos 16 anos, coloquei na cabeça que queria ser emancipado e mesmo com poucos recursos, levei meus pais ao cartório e eles me emanciparam. Para que me serviu? Objetivamente, para nada. Arqueologicamente, quando penso nesta - e outras situações, eram indícios do meu desejo de ganhar o mundo, conhecer lugares, países, aprender idiomas, vivenciar culturas diferentes... Realmente foi um sonho casar com uma estrangeira!

Avançando mais 11 anos, com 33 anos (2014), casado, pai do Lorenzo, morando em Londrina -PR, aguardávamos o nascimento de Benjamin. Inclusive, foi no dia 15/01/2014 o ultrassom que Paula fez e descobrimos que era o Benjamin (e não era a Izabel que não veio e não virá). Lembro que no texto das 4 décadas, apontei ser esta a década de maior mudança: graduação, mestrado, casamento, paternidade, doutorado.


Considerando a referencia 11, neste 3º período, acrescento a mudança de Estado/cidade e o nascimento do Benjamin, que quem acompanhou sabe que no 6º mês de gestação, Paula teve toxoplasmose. E em junho próximo, Benjamin completa 11 anos.

E estes últimos 11 anos, também foram repletos de grandes e profundas mudanças. O milagre da alta de Benjamin aos dois anos do acompanhamento da toxoplasmose congênita, devido a nossa declarada vida religiosa como protestantes evangélicos, atribuímos todo mérito ao deus cristão. E, ao escrever "deus' com letra minúscula, não estou desprezando nem desmerecendo a religião, nem desrespeitando as pessoas que acreditam. É importante para mim. Uma das formas concretas de afirmar e reafirmar que não faz mais parte do meu Universo particular a ideia do deus cristão e, consequentemente, o deus judeu, o deus islâmico, este deus todo poderoso que criou a humanidade para atormentá-la.

Mas, e o milagre na vida do Benjamin? Bem resumidamente, para não ser cético total, eu atribuo às energias. Como assim? Quando passei a ressignificar este episódio em nossas vidas, a manhã de domingo no culto em que subimos no palco e as pessoas presentes estenderam as mãos e oraram pela vida e saúde do bebé, eu associei com aquela cena do filme “Avatar” (James Cameron, 2009), quando os Na'vi estão em sofrimento pela destruição de seu ambiente. Desde o início do filme, somos apresentados à conexão que existe entre os Na'vi e tudo o que existe, porém, nesta cena a que me refiro, todos juntos, sentados, e entoando um mantra e um grande milagre acontece. Não um milagre mágico. As forças viventes se unem num propósito comum, lutam por esse propósito e derrotam os exploradores, destruidores, porém, o mal feito, feito está.

De algum modo, na vida real, acredito que se um grande coletivo de humanos concentram sua energia para um propósito em comum, alguma mudança acontece. Mas, não farei disso minha religião, não inventarei dogmas, regras, culto e adoração para esta percepção particular.

Parece que desviei do objetivo principal do texto, entretanto, considero relevante este “parêntese”, pois representa bem a grande mudança neste último período de 11 anos, especialmente em relação à espiritualidade, mais conscientemente, mudança iniciada em 2018.

Como encerrar este texto? Quisera eu eleger um trecho, um verso... ontem pela manhã, eu reli “Elegia”, homenagem de Cecília Meireles para sua avó materna, mãe de criação, Jacinta Garcia Benevides. Nossa! É composto por oito poemas escritos entre 1934 a 1937. Jacinta faleceu em 1931. Vale muito a pena conhecer e ler na íntegra. Inclusive, só a título de curiosidade, versos da "Elegia", na tradução inglesa, foram citados no velório da Princesa Diana.

Por minha vez, são estes versos que escolho para encerrar este texto:

"Neste mês, começa o ano, de novo,/ e eu queria abraçar-te./ Mas tudo é inútil:/ eu e tu sabemos que é inútil que o ano comece."

(Mar Absoluto / Retrato Natural. Editora Nova Fronteira, 1983, p. 177). 

quinta-feira, janeiro 02, 2025

"MUITO TEMPO ATRÁS ISSO ACONTECEU, E ESTÁ ACONTECENDO AGORA"

Londrina-PR, 01 de janeiro de 2025. [01/01/2025]

Hoje é feriado. Nos calendários comuns consta como "Confraternização Universal". Só mais uma contradição. Nada diferente da Hipocrisia Universal. Agora, em que inicio este texto, são 18h35m. Mais cedo, no banho, pensei: "quero escrever algo com minha destra hoje! Registrar a data 01/01/2025". E pensei num possível tema, por exemplo, as coincidências da minha insignificante existência. Sempre gostei de meu nome ser iniciado com a letra "A". Primeira letra do alfabeto (o alfabeto latino, claro). E as outras opções de nomes da minha mãe, tinha outro nome com a letra "A": Álvaro! Tão sonoro. Mas gosto de André Luís, ou me acostumei com ele (43 anos). É considerado o Espírito Evoluído no Espiritismo. Apenas para constar, a outra opção, a terceira, era Pedro Henrique. Também gosto de ter nascido no mês de janeiro. Primeiro mês do ano. Não é no primeiro dia do mês do ano, mas é na primeira quinzena do primeiro mês do ano. Gosto de ser um capricorniano - ou me acostumei a ser. Brinco que tenho medo dos aquarianos. E, segundo minha mãe, eu nasci prematuro, duas semanas pelo menos, ou seja, eu nasceria no final do mês de janeiro, seria um aquariano. Sou (fui) o primeiro filho dos meus pais. Assim, essa tríade, essas coincidências de ser o primeiro filho, nascido no primeiro mês do ano (de 1981), na primeira quinzena, e receber o nome com a primeira letra do alfabeto, consciente ou inconscientemente, ao longo da minha vida, me deixavam feliz. Mesmo sendo extremamente tímido, em nível patológico, o filho de pedreiro e dona de casa, bem-educado, excelente aluno, entretanto, inocente, neófito, bobo, idiota para as questões do mundo, da vida cotidiana no mundo, das malícias. É muito interessante e até assustador chegar à constatação, depois de muitos anos, de que nada do que sofri, nenhum dos meus traumas, dores e questionamentos foram exclusivos ou inéditos. Há um padrão. Nascer e crescer e tornar-se consciente e persistir nessa tomada de consciência, chegar à conclusão de sou uma repetição dos sofrimentos humanos. E por ser este indivíduo, com minha identidade, meus pais, contexto histórico e social, o egoísmo grita: tadinho! como sofre! porque? porque? Lembrei daquele aforismo de Clarice Lispector: ""Nascer estragou-me a saúde!". Acho que é assim, escrevendo de memória, sem pesquisar. E, o que fazer com a constatação de que sou só mais um? Seguir! Sou mais um peão neste tabuleiro, tenho lá minha significância pelos postos assumidos: filho, irmão, amigo, marido, pai... mas todos somos mais um, peões e peões neste imenso tabuleiro. Bem, a guisa de conclusão, ao pensar no que escreveria hoje, também pensei na imposição do sistema capitalista: "Time is money!". Celebrar o novo (ano), fazer planos, olhar o futuro, amanhã e semana que vem e os próximos meses e logo será dezembro novamente e de novo 01 de janeiro, até chegar a minha vez de ganhar uma lápide, mas seguirá a lógica: amanhã, semana que vem, e meus filhos terão 90 e 94 anos, amanhã e semana que vem e o próximo ano...Lembrei quando me deparei com outra perspectiva de tempo, ou de relação com o tempo. Os Aymarás contemplam o passado! Ou seja, à frente deles está o passado, a ancestralidade. Daí a importância da tradição oral, do respeito aos mais velhos. O futuro é desconhecido, não é possível olhar para ele com a nuca. Sinto a emoção, a paz que me invadiu naquela ocasião, a tranquilidade que esta perspectiva da relação com o tempo proporciona! Todavia, tudo é constructo, certo? Quero dizer, é mais uma das muitas possibilidades de entender e de habitar o mundo. Pena que muitas das "opções" impostas à humanidade são nocivas à maioria dos seres viventes e ao meio ambiente desses seres viventes, que, ao final das contas, é tudo uma "coisa" única. É isso, Escrevi! Aliviei esta tensão, esta necessidade de escrever, registrar algumas palavras... Nada muda. Seguirei o fluxo. Férias até dia 18/01. Depois recesso até 29/01. Dia 15/01/2025 completarei 44 voltas ao redor do sol. Talvez escreva mais ou não... André Coneglian, 19h13m.





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Depois de escrever este texto, terminei de ler o livro que Lorenzo disse para eu ler ("Quatro", da Veronica Roth, da trilogia Divergente, Insurgente e Convergente) e quis relembrar minhas impressões de leitura do livro "O oposto de todo mundo", de Joshilyn Jackson. Peguei o livro, pesquisei a postagem que fiz nas redes sociais quando encerrei a leitura à época... e o título da postagem de hoje, é uma frase dita pela mãe da narradora (Paula), uma frase marcante para mim desta história, que acaba resumindo parte do que escrevi: aconteceu há muito tempo atrás, e de novo e novamente e mais uma vez...

Ainda, encontrei uma referência a um texto do Umberto Eco ("Como começa, como termina", em "Diário Mínimo"), em que ele narra os tempos de universitário de poucas posses financeiras... o texto termina assim: "Seremos, então, mais felizes? Ou teremos perdido o frescor de quem tem o privilégio de viver a arte como a vida, na qual entramos quando os jogos já foram feitos e de onde saímos sem saber como acabarão os outros?". Os "jogos" é a vida, ou seja, os jogos já estavam acontecendo quando chegamos e iremos embora sem saber como termina, hahahahahaha