Londrina-PR, 11 de janeiro de 2025. Manhã de sábado. Férias.
A
medida de referência hoje é 11. Dia 11, do primeiro mês, do ano “quadrado
perfeito" (452), apenas uma pequena referência a vários vídeos
produzidos em razão de 2025 ser esse quadrado perfeito – para o deleite de quem
gosta de matemática (não é o meu caso). Entretanto, lembro que 2025 depois de
Cristo é somente uma das muitas referências de ano.
Retornando
a referência 11, apenas para sair do sistema decimal tradicional, para escrever
sobre a proximidade do meu quadragésimo quarto aniversário. Quando completei 4
décadas (lá em janeiro de 2021) escrevi um texto sobre estas quatro décadas: até
os 10 anos, e depois que fiz até os 20, e 30 e 40.
Não
quero reler este testo agora, mesmo correndo o risco de ser repetitivo (sempre
sou!). Afinal, 11 anos, 22 anos, 33 anos e agora 44 anos, se difere apenas pelos
últimos quatro anos (dos 40 do último texto).
Todavia,
como o autor sou eu, o aniversariante sou eu, e o "EU" é um demônio egoísta
narcisista, ficarei feliz se leitor/interlocutor tiver. Recordo aqui a doce e
querida Professora Stela Müller, da Universidade Estadual Paulista, que numa das suas aulas disse: "o texto existe para o outro, para ser lido pelo outro,
ainda que o outro seja o próprio autor, em caso de diários ou textos mais
intimistas".
Claro
que reproduzo entre aspas uma essência do que permaneceu em minha memória o que
ela disse naquela ocasião. Assim, o Eu quase aniversariante deseja escrever
um texto pré-aniversário tendo como referência a medida de 11 anos. Quatro
vezes onze é igual a quarenta e quatro. Óbvio.
Não
tão exato e óbvio é o existir por esses 44 anos. Por eu ter amado ser aluno,
por amar conhecer, aprender... A felicidade (hoje, tola) de relacionar o
aprendido na escola com a vida cotidiana, como quando a Profa. Edméia Sola, na
4ª série, em Estudos Sociais, ensinou a. logística dos números das casas: um
lado são números pares, do outro, números ímpares. Quando minha mãe foi me
buscar, pude comprovar empiricamente. É como se a professora tivesse
descortinado algo que sempre esteve ali e nunca tinha visto.
Nascer
em dia, mês e ano ímpares (15-01-1981), que inclusive se relaciona com o texto
que escrevi no primeiro dia do ano de 2025 – sobre ser o primeiro (letra
inicial “A” no nome, primeiro filho dos meus pais, nascer em janeiro, etc)
outra relação com conhecimento matemático escolar: par com par é par, ímpar e ímpar
também é par, somente par e ímpar é ímpar. Deste modo, todo ano ímpar tenho
idade par (2025 – 1981 = 44), todo ano par (2024) tenho idade ímpar e assim vou
me despedindo dos 43 anos.
Aos 11 anos (1992) eu estava na 5a série (atual 6º Ano do Ensino Fundamental). Cursando a disciplina de Inglês, com Dona Guacira, elegantérrima, no SESI em Marilia-SP. Eu sonhava cursar Inglês. Aos 11 anos era uma criança velha, Menino do Quarto no forninho. Onze anos depois, aos 22 anos, em 2003, vejam o salto, estava no 2º ano da faculdade.
Esses
dias, eu me lembrei que aos 16 anos, coloquei na cabeça que queria ser
emancipado e mesmo com poucos recursos, levei meus pais ao cartório e eles me
emanciparam. Para que me serviu? Objetivamente, para nada. Arqueologicamente,
quando penso nesta - e outras situações, eram indícios do meu desejo de ganhar
o mundo, conhecer lugares, países, aprender idiomas, vivenciar culturas
diferentes... Realmente foi um sonho casar com uma estrangeira!
Avançando
mais 11 anos, com 33 anos (2014), casado, pai do Lorenzo, morando em Londrina
-PR, aguardávamos o nascimento de Benjamin. Inclusive, foi no dia 15/01/2014 o
ultrassom que Paula fez e descobrimos que era o Benjamin (e não era a Izabel
que não veio e não virá). Lembro que no texto das 4 décadas, apontei ser esta a
década de maior mudança: graduação, mestrado, casamento, paternidade,
doutorado.
Considerando a referencia 11, neste 3º período, acrescento a mudança de Estado/cidade e o nascimento do Benjamin, que quem acompanhou sabe que no 6º mês de gestação, Paula teve toxoplasmose. E em junho próximo, Benjamin completa 11 anos.
E
estes últimos 11 anos, também foram repletos de grandes e profundas mudanças. O
milagre da alta de Benjamin aos dois anos do acompanhamento da toxoplasmose congênita,
devido a nossa declarada vida religiosa como protestantes evangélicos,
atribuímos todo mérito ao deus cristão. E, ao escrever "deus' com letra
minúscula, não estou desprezando nem desmerecendo a religião, nem
desrespeitando as pessoas que acreditam. É importante para mim. Uma das formas
concretas de afirmar e reafirmar que não faz mais parte do meu Universo
particular a ideia do deus cristão e, consequentemente, o deus judeu, o deus
islâmico, este deus todo poderoso que criou a humanidade para atormentá-la.
Mas,
e o milagre na vida do Benjamin? Bem resumidamente, para não ser cético total, eu
atribuo às energias. Como assim? Quando passei a ressignificar este episódio em
nossas vidas, a manhã de domingo no culto em que subimos no palco e as pessoas
presentes estenderam as mãos e oraram pela vida e saúde do bebé, eu associei
com aquela cena do filme “Avatar” (James Cameron, 2009), quando os Na'vi estão
em sofrimento pela destruição de seu ambiente. Desde o início do filme, somos
apresentados à conexão que existe entre os Na'vi e tudo o que existe, porém,
nesta cena a que me refiro, todos juntos, sentados, e entoando um mantra e um grande
milagre acontece. Não um milagre mágico. As forças viventes se unem num propósito
comum, lutam por esse propósito e derrotam os exploradores, destruidores, porém,
o mal feito, feito está.
De
algum modo, na vida real, acredito que se um grande coletivo de humanos concentram
sua energia para um propósito em comum, alguma mudança acontece. Mas, não farei
disso minha religião, não inventarei dogmas, regras, culto e adoração para esta
percepção particular.
Parece
que desviei do objetivo principal do texto, entretanto, considero relevante este
“parêntese”, pois representa bem a grande mudança neste último período de 11
anos, especialmente em relação à espiritualidade, mais conscientemente, mudança
iniciada em 2018.
Como
encerrar este texto? Quisera eu eleger um trecho, um verso... ontem pela manhã,
eu reli “Elegia”, homenagem de Cecília Meireles para sua avó materna, mãe de
criação, Jacinta Garcia Benevides. Nossa! É composto por oito poemas escritos
entre 1934 a 1937. Jacinta faleceu em 1931. Vale muito a pena conhecer e ler na íntegra.
Inclusive, só a título de curiosidade, versos da "Elegia", na
tradução inglesa, foram citados no velório da Princesa Diana.
Por
minha vez, são estes versos que escolho para encerrar este texto:
"Neste mês, começa o ano, de novo,/ e eu queria abraçar-te./ Mas tudo é inútil:/ eu e tu sabemos que é inútil que o ano comece."
(Mar Absoluto / Retrato Natural. Editora Nova Fronteira, 1983, p. 177).