Utilizarei
três pessoas da Bíblia, José do Egito, Ester e Daniel, que tiveram em seus
contextos de vida, posições importantes em cargos políticos e da nobreza, exercendo
grande influência nos países em que foram contemporâneos.
José
e Benjamin foram os dois últimos filhos de Israel com Raquel, sua esposa amada.
Portanto, ambos eram seus filhos preferidos. José teve sonhos e declarava-os
abertamente aos seus irmãos mais velhos, que o odiavam pela preferência do pai
por ele.
Em resumo, tudo o que aconteceu na vida de José, foi para leva-lo até
o Egito, interpretar os sonhos do Faraó e ser colocado como o segundo homem do
Egito, em posição política tão eminente e importante num reino pagão, para
administrar os sete anos de fartura e os sete anos de escassez de alimento.
O desfecho desse ciclo, como sabemos, José reencontra os irmãos que viajaram até o
Egito para buscar alimento para a família que ficou em Canaã, há perdão, mudam-se para o
Egito, prosperam, multiplicam-se em terra estrangeira.
Ester,
cujo nome hebraico era Hassada, era órfã de pai e mãe, criada pelo primo
Mardoqueu. Quando Vasti foi destituída como rainha, Mardoqueu “inscreveu”
Hadassa no processo seletivo para o posto de rainha do Rei Assuero. No livro de
Ester, capítulo 2, versículo 9, lemos que:
“E
a moça pareceu formosa aos seus olhos, e alcançou graça perante ele; por isso
se apressou a dar-lhe os seus enfeites, e os seus quinhões, como também em lhe
dar sete moças de respeito da casa do rei; e a fez passar com as suas moças ao
melhor lugar da casa das mulheres”.
“Pareceu
formosa aos olhos” de um funcionário do rei, ou seja, a primeira etapa do
processo seletivo para o posto de rainha. A conclusão é que, depois de um ano de espera, Ester também achou
graça aos olhos do Rei Assuero e assumiu o posto de Rainha:
“E
o rei amou a Ester mais do que a todas as mulheres, e alcançou perante ele
graça e benevolência mais do que todas as virgens; e pôs a coroa real na sua
cabeça, e a fez rainha em lugar de Vasti” (Ester 2:17).
Quem
conhece a história da rainha Ester, sabe o papel estratégico que ela teve para
preservar a vida do pai adotivo, Mardoqueu, e de todos judeus de sua época: “quem sabe se para tal tempo como
este chegaste a este reino?” (Ester 4: 14b), lembrou Mardoqueu a Ester,
que estava com medo de quebrar o protocolo, ao entrar na presença do Rei
Assuero sem ser chamada.
Daniel
viveu na Babilônia desde a sua juventude, levado como escravo judeu. Esteve
diante de três reis pagãos: Nabucodonosor, Belsazar e Dario. Para o primeiro,
Daniel interpretou os sonhos; para o segundo, teve o episódio da mão que
escreveu uma mensagem na parede e Daniel a interpretou também e, na sequência,
Belsazar mandou que “vestissem Daniel de púrpura, e lhe pusessem cadeia de ouro
ao pescoço, e proclamassem que passaria a ser o terceiro no governo do seu
reino” (Daniel 5:29).
Naquela
mesma noite, Belsazar foi morto, ou seja, cumpriu-se a mensagem revelada na
parede: “dividido foi o teu reino e dado aos medos e aos persas” (Daniel 5:
28). Dario, ao assumir o reino conquistado, constitui 120 sátrapas “e sobre
eles, três presidentes, dos quais Daniel era um”.
O
desenrolar dessa história sabemos que levou Daniel à cova dos leões. Por ser temente
ao Deus Vivo? Não! Vejamos: “Então, o mesmo Daniel se distinguiu destes
presidentes e sátrapas, porque nele havia um espírito excelente; e o rei
pensava em estabelecê-lo sobre todo o reino. Então, os presidentes e sátrapas
procuravam ocasião para acusar a Daniel a respeito do reino; mas, não puderam
acha-la, nem culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum
erro nem culpa” (Daniel 6:3,4).
José,
governador do Egito, antes dele era somente o Faraó, exerceu seu cargo de modo
excelente, num reino pagão. assim como o fez quando era escravo na casa de Potifar ou na prisão, mesmo acusado injustamente. Cultivou sua devoção ao Deus de Abraão, Isaque e
Jacó em foro íntimo. José foi temente ao Senhor o tempo todo, o que quero dizer
é: não IMPÔS o seu modo de vida utilizando-se de sua posição política.
Ester,
judia, rainha de um rei pagão, levada pelas circunstâncias – pelo próprio Deus –
àquele posto para salvar a vida do primo e evitar um grande massacre dos judeus
de sua época. Como rainha, servia ao Senhor Deus em foro íntimo, por isso foi
encontrando graça aos olhos alheios e “conquistando” o lugar que devia estar.
Temente
ao Deus Vivo, Daniel era fiel, um espírito excelente, executava sua
responsabilidade política perante Dario, num reino idólatra, de modo impecável,
diante dos homens, por isso o rei o colocaria sobre todo o reino, depois do
rei, seria Daniel. Principalmente, Daniel manteve-se fiel ao Deus Vivo, mesmo
num cargo politico tão importante num reino pagão.
Esses
três exemplos de homens e mulher, tementes ao Deus Vivo numa posição política
importante bastam para eu dizer o seguinte: foram políticos destacados em
reinos pagãos e não leio relato algum nas páginas da Bíblia que decretaram
alguma lei ou qualquer ordem, impondo seus costumes e fé. Exerciam seus papéis
e viviam sua fé ao Deus Todo Poderoso, de modo pessoal e, óbvio, essa fé
conduzia suas ações enquanto políticos, porém, nunca para impor sua fé àquelas
nações.
Será
preciso desenhar? Precisamos de políticos éticos. Não de um salvador dos bons
costumes que brigará com “unhas e dentes” – e armas, para proteger a “família
tradicional brasileira”. Os judeus religiosos da época de Jesus não entenderam
que o Salvador não era um salvador político; eles esperavam o Rei que os
livraria da opressão romana e Jesus não foi esse rei para eles; os judeus o levaram
à condenação perante os romanos.
A
história também nos ensina quando a fé é institucionalizada, seus efeitos são
contrários ao princípio da própria fé.
“[...]
Mesmo gerando antipatias – e até perseguições, como no reinado de Nero entre os
anos 54 e 68 – eles [os cristãos] foram tolerados nos primeiros séculos de vida
de sua religião. Com a decadência do império no final do século II e a ameaça
de invasões bárbaras, iniciou-se outro período de dura perseguição aos cristãos,
que se recusavam a servir no exército romano. Mas nem isso impedia o
cristianismo de ganhar seguidores, tornando-se logo a crença mais popular no
império. Percebendo a força crescente da religião, o imperador Constantino I
resolveu usá-la politicamente para fortalecer seu próprio poder e enfrentar a
decadência romana. Sob a inspiração do lema ‘um Deus no Céu, um Imperador na
Terra’, Constantino proclamou em 313 o Édito de Milão, lei que garantia
liberdade para cultuar qualquer deus, o que seria fundamental para a futura
conversão total do império à religião”. (Fonte: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-foi-a-conversao-do-imperio-romano-ao-cristianismo/)
Nosso
posicionamento “cristão” na política está longe do exemplo de José do Egito,
Ester e Daniel. O mundo jaz no maligno (I João 5:19), mundo é mundo, igreja é
igreja, estamos no mundo, não somos do mundo (João 17:14-16). O mundo que jaz
no maligno não se transformará em paraíso. Sua fé precisa ser vivida no dia a
dia, iniciando no mais profundo âmago do ser para ser exteriorizada em ações
que serão vistas, conhecidas e reconhecidas e, de repente, numa posição
política importante, continuar sendo um cristão de dentro para fora, nunca
impondo a fé, que é pessoal.
É o Espírito Santo que convence do pecado e do
juízo!
Escrito
originalmente em 26 de setembro de 2018, com excertos e reconfiguração em 13 de
abril de 2020.