O Quarto do Menino

"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!

domingo, maio 05, 2024

AVE MARIA

 



Esta não é a minha primeira produção escrita sobre Maria – e, não será a última. Desde que a conheci nos idos de 2002, na condição de aluno no segundo ano da graduação, Maria foi minha professora, na disciplina Didática II.

Naquele contexto, causou um frisson na turma de Pedagogia – ou a amavam, ou a odiavam! (A inteligência aliada a organização, clareza e autoconfiança, assusta!). Para mim, foi fascínio. “És fascinação!”. Como conclusão da disciplina, a professora pediu um texto acadêmico, no qual devíamos relatar nossa trajetória escolar.

Escrevi em meu blog, em 2005: “’Da pré-escola ao curso superior: entre o século XX e XXI’, texto apresentado à disciplina Didática II, ministrada pela Profa. Dra. Maria do Rosário Longo Mortatti, novembro de 2002” e sobre a professora, registrei: “um encanto de pessoa, pois respira e exala literatura”.

Numas das aulas na disciplina da pós-graduação, em 2006, num ato de coragem, eu pedi para ler “Sugestão”, poema de Cecília Meireles, pois Maria nos inspira a esquecer a timidez por um instante e espalhar poesia.

Em outubro de 2021, escrevi um texto sobre minhas percepções de leitura dos livros: “Mulher emudecida” e “Mulher umedecida”. Foram leituras impactantes, pois tive a oportunidade de humanizar a professora, figura sobre-humana, mas que ainda causa fascinação.

Nestes últimos anos – 2021 a 2024, Maria lançou livros de poesia, crônicas, ensaios e o objetivo principal deste texto é tecer algumas considerações sobre a leitura do livro “Prosa de leitora: sobre livros, autores e outros acepipes, volume 1”.

Minhas considerações sobre o conteúdo são as melhores: nomes, datas, fatos, percepções da autora-leitora. Um verdadeiro banquete, muito mais que um “acepipe” (aprendi o significado por conta do livro de Maria).

Aqui, tento seguir a fórmula de Maria, produzir uma prosa de leitor, o que a leitura de seus ensaios me provocou. Autores e histórias que já conhecia e Maria confirma alguns dados e percepções. Ainda sobre estes, apresenta novas informações que funcionam como luminárias possibilitando novos modos de ver/sentir este ou aquele autor, esta ou aquela história.

Ler a prosa de Maria, leitora profícua e incansável, produz conexões com nossas próprias vivências e leituras. Uma dessas conexões foi com um trecho de Bernardo Soares, do “Livro do Desassossego”, que muito me impressiona pela clareza e, consigo vincular a essência deste trecho com Maria e suas produções, todas!

O trecho é o que segue: “Dizer! Saber dizer! Saber existir pela voz escrita e a imagem intelectual! Tudo isto é quanto a vida vale [...]”. Maria diz! Maria sabe dizer! Maria sabe existir pela voz escrita e pela imagem intelectual: textos acadêmicos-científicos, prosas, ensaios, poemas e, tem construído firmemente sua herança – para a eternidade, de modo brilhante.

 

Deus me deu a palavra,

não uma palavra qualquer,

mas aquela potente arma alquímica

que fere, destrói, mata pessoas

e ilumina, preserva e pereniza paisagens

 

“Mulher qualquer, mulher” (2024), de Maria Mortatti, poema “A palavra”, (p. 76). Ah, esses versos! Como escrevi: passaram a habitar meu interior. Os versos e o poema todo, confirma: Maria sabe dizer! Com a palavra, Maria pereniza paisagens! E soube fazê-lo de cada autor, livro, história, nos ensaios em “Prosa de leitora”.

Gosto da organização, por exemplo, as datas ao final de cada texto (dd/mm/aaaa), pois, como nos anuncia, foram escritos para seu blog. E muitos dos textos foram motivados exatamente pelo calendário: “Os três de abril de 1616: Shakespeare, Cervantes e Inca”, versa sobre o Dia Mundial do Livro e foi escrito em 23.4.2023, dia em que estes três gigantes faleceram (no ano de 1616). “Bom dia, Lygia!”, escrito no primeiro ano de falecimento de Lygia Fagundes Telles (03.4.2023). Ou ainda, “Júlia Lopes de Almeida e a Cadeira 41 da ABL”, escrito em 30.5.2023, quando a autora homenageada faleceu em 30.5.1934.

Sobre Júlia, há uma crônica escrita por Cecília Meireles, em 1962, no livro “Escolha o seu sonho” (1972), em razão do centenário de aniversário de Dona Júlia (24.9.1862). Não é fascinante como os textos bem escritos e bem lidos relacionam-se e retroalimentam-se? Cecília Meireles, também foi tema dos ensaios de Maria, e citada em outros, como amiga de Gabriela Mistral, além dos versos de Cecília, abrirem o presente livro: “Teu bom pensamento longínquo me emociona./ Tu, que apenas me leste,/ acreditaste em mim, e me entendeste profundamente”.

Preciso registrar para a posteridade, ainda que este dado não seja relevante, mas foi significativo para mim, saber da homossexualidade de Gabriela Mistral, amiga de Cecília. Só fez minha admiração por Cecília crescer.

Como não amar as conexões de quem escreve e de quem lê, por exemplo, com o ensaio: “Uma história de dicionários: do ‘Capelino’ ao ‘Aurélio’”. Maria inicia o texto: “Não sou lexicógrafa, mas gosto muito de dicionários de vários tipos: gerais, temáticos, analógicos, etimológicos, bilíngues, plurilíngues, entre outros”.

Assim, associar este ensaio com a crônica “O livro da solidão”, de Cecília Meireles: “Não sei se muita gente haverá reparado nisso - mas o Dicionário é um dos livros mais poéticos, se não mesmo o mais poético dos livros. O Dicionário tem dentro de si o Universo completo”.

Eu mesmo, semelhante amante de dicionários, tive a ousadia de escrever o poema “O menino que amava dicionários”, sendo o título, o único verso, pois o corpo do poema se transforma em verbetes: “amava, dicionário, o, menino, que”.

Poderia redigir comentários sobre cada um dos 54 ensaios e registrar as reverberações produzidas em mim, amante da Literatura e do objeto Livro, leitor de Cecília, Clarice, Umberto, Adriane, Maria.

Em outro momento de coragem, em 06 de novembro de 2020, aniversário de Maria, escrevi um “poema-presente/’, como ela mesmo chamou:

 

MARIA SEIS DO ONZE

 

Perigosa escorpiana

Sereia de canto ardil

A conheci unespiana

Aluno quase infantil.

 

Seu canto é literatura

Palavra é seu veneno

Elevado sou às alturas

Extasiado, feliz e sereno.

 

Palavras e canções ao cantil

Salve, salve tanta sagacidade

Escritora, poeta e outras mil

Saúde! Paz! Muitas felicidades!

 

André Coneglian

Londrina-PR, 06/11/2020

 

A título de conclusão deste pequeno texto, faço um apelo:

Leiam Maria! A que diz (escreve). A que sabe dizer e existir pela voz escrita e imagem intelectual.

Ave Maria!

 

5.5.2024