Por onde começar? São 21h23m do feriado de 15 de novembro de 2022, uma terça-feira. Estou na cama do quarto do kitnet, apartamento 24, na praça Hercílio Luz, no. 39, na cidade de Porto União-SC, grudada com União da Vitória-PR, onde trabalho, como professor temporário na Unespar. Contrato iniciou em 29 de abril de 2021, remotamente, por conta da pandemia do covid-19, e, desde maio desse ano, precisei me mudar, sozinho, para cá. Família - esposa e filhos, ficaram em Londrina.
Foram dias, semanas, meses difíceis, obviamente, porém, as palavras jamais poderão contemplar o que foi e está sendo toda essa vivência. Pois não é "só isso". É toda a vida e suas incontáveis e incalculáveis surpresas e obstáculos, que a maioria das pessoas dizem servir para crescimento e amadurecimento, porém, digo que servem apenas e exclusivamente para fazer sofrer!
Desde o último domingo, 13 de novembro, desinstalei Facebook e Instagram do meu celular. Minhas redes sociais, como a maioria das pessoas que as usam servem como contatos imediatos com o exterior e outras tantas possíveis distrações, divertimento com vídeos de estranhos, a incrível produção e criatividade dos memes, a vida no Brasil nesses tempos turbulentos, violência política e tudo que não consigo escrever...
Sozinho, longe da família, sem as redes sociais, distraindo-me agora somente com o Gatinho Tom - aplicativo de jogo e com a Duolingo, aplicativo de línguas/idiomas... justo hoje, esse último resolveu mudar o layout e eu detestei a mudança... Entretanto, como costumo dizer, mesmo sem querer adaptar-me-ei ao novo... como me adaptei a essa vida mais solitária, mesmo não gostando... Nós, simples mortais, temos um superpoder: é o da adaptação!
Fiz muitas, várias, diversas postagens nas redes sociais... O último texto que publiquei aqui, nesse blog querido, amado, porém "desprezado", foi em janeiro de 2022. "Desprezado" por mim e por leitores. Ninguém quer ler textos enormes, afinal, estamos na era dos vídeos curtos e engraçados e dos muitos divertidos memes.
Ah, outra coisa que tenho feito um pouco antes de abandonar as redes sociais e segui firme depois, foi maratonar a série "This is us"... eu tinha começado faz um tempo, inclusive, como sugestão de uma pessoa que, faz um tempo, detesto a lembrança de tê-la conhecido e os dias de convivência, infelizmente. Pois, essa pessoa e suas ações e palavras estão vinculadas a tudo que não acredito mais e que me faz muito mal saber que passei 20 anos da minha vida "preso" a crenças tão limitantes, limitadoras, castradoras, enfim...
Essa série é uma tortura! Porém, não consigo me desvencilhar... Tenho outros amigos que dizem "amar" a série, que é perfeita, maravilhosa... Deve ser. Teria sido para mim, em outro momento da vida. Nós, humanos, que vivemos de relacionamentos, e temos que aprender a criá-los, alimentá-los, resolvê-los e saber perdê-los, pois assim é a vida e assim somos nós - this is us! Estou terminando a segunda temporada - e são seis! Meu senhor jesuuuuiiiiissssss da goiabeira, quanto sofrimento!
Espero que essas não sejam minhas últimas palavras, não porque desejo me matar, ou porque sinto que vou morrer amanhã ou logo... Porém, a imprevisibilidade da vida é esmagadora!
Paula perdeu uma tia na Bolívia hoje. É a terceira tia que morre desde que ela está no Brasil - mais o primo Jaime (acidente de ônibus). A segunda a ter uma morte trágica. Tia Maria foi a primeira, morreu atropelada. Tia Aleja foi a segunda, ficou doente, faleceu. Tia Alzira estava embriagada, sozinha, caiu da cama e se afogou com o sangue provocado pelas fraturas. Uma idosa. Estava sozinha em casa, ainda que tenha trazido ao mundo 11 filhos...
Minha sogra, dona Júlia, mais velha que tia Alzira, já vem uns meses doente, na cama, quase se foi mês passado. Paula acredita que a mãe não morre, com a esperança de poder revê-la e ver novamente os únicos netos: Lorenzo e Benjamin. Se viram pessoalmente última vez em agosto de 2019. Quando conheceu por primeira vez Benjamin.
Minha família e eu estamos mais distantes do que nunca - mãe, pai, irmãos. Não soubemos criar, alimentar, resolver os relacionamentos nos anos que vivemos juntos, muito menos agora morando longe. Não há quem culpar, pois os adultos não souberam ensinar às crianças, pois também não tiveram exemplos e, assim, seguimos.
Tia Alzira, que tragicamente perdeu a vida hoje, uma vida de sofrimentos e privações de todas as ordens, último domingo comprou "chicharron" (um prato tipicamente boliviano) e levou para a irmã, dona Julia, algo muito raro - pois foi uma senhora de pouquíssimas posses... Era uma despedida. Semana passada, tia Mêche, outra irmã, estava com dona Júlia e disse: muitos pássaros cantando, não tem água para dar a eles... alguém irá morrer... e dona Júlia externou: será que chegou a hora da minha partida?
Todos esses acontecimentos são muito recentes... e nem contei tudo o que se passou nesses últimos tempos. Vários dias com dor de cabeça. Dores na mandíbula, ATM ou bruxismo. Uma ansiedade do tamanho de um dragão. Passei para a segunda fase do concurso na Unespar, em Apucarana, vizinha de Londrina. Daqui a menos de duas semanas é a prova didática e de títulos.
Em junho, fiz outro concurso para a Unesp em Marília, minha cidade natal e não passei na primeira fase, por meio décimo (0,5). Preciso administrar tudo isso e um pouco mais, pois sempre é mais e mais e mais e muito mais.
Por exemplo, esse ano tivemos covid - e nos dias em que fiz a prova em Marília. Este ano, Benjamin recebeu o diagnóstico de síndrome de Hashimoto e, desde então está tomando "puran" todos os dias. Lorenzo recebeu o diagnóstico de asma e está fazendo uso de bombinhas, duas vezes ao dia... Esse ano, Lorenzo já torceu o pé, no treino de badminton e usou muletas por 8 dias. Esse ano, Benjamin e Paula foram para Macapá-AP (setembro) e em Novo Hamburgo-RS (outubro), em ambos lugares para participar de Feira de Ciência e Tecnologia, por conta do projeto "Todos contra o lixo: em defesa dos animais marinhos e silvestres".
Benjamin ganhou um concurso de desenho na TV e o prêmio foi um tablet; ele deu entrevista em dois programas de duas emissoras locais diferentes; reportagens no blog da prefeitura de Londrina e de outros canais nas redes sociais. Lorenzo participou de várias Olímpiadas Nacionais de diversas áreas do conhecimento e ganhou medalhas de ouro e prata.
A vida "e suas incontáveis e incalculáveis surpresas e obstáculos, que a maioria das pessoas dizem servir para crescimento e amadurecimento, porém, digo que servem apenas e exclusivamente para fazer sofrer!", escrevi lá no início... Eu não sou mais eu... Na verdade, eu não sou mais a ilusão que tinha criado de mim, da minha vida toda... esse processo de desintegração não cessa e está ficando cada vez mais difícil.
Até quando? E qual será o resultado desse processo intenso e dolorido? Estou esgotado...
Hoje, depois do banho, decidi ir até a praça aqui em frente - evento raríssimo! Levei "Flor de Poemas" comigo e abri ao acaso e li, por primeira vez "O Aeronauta" (Cecília Meireles). Neste livro, especificamente, não estão os poemas completos - é uma seleção de Darcy Damasceno. Assim, finalizo este texto sem pretensão alguma, reproduzindo a primeira estrofe do Poema 1, d'O Aeronauta que fiz questão de memorizar e espero sabê-lo "para sempre":
"Agora podeis tratar-me
como quiserdes:
não sou feliz nem sou triste,
humilde nem orgulhoso,
- não sou terrestre"
Como vedes, cara minha, sigo terrestre. Pesadamente terrestre!