O Quarto do Menino
"No meu quarto que eu lia, escrevia, desenhava, pintava, imaginava mil projetos, criava outros mil objetos... Por isso, recebi o apelido de 'Menino do Quarto', título que adotei como pseudônimo e hoje, compartilho neste 'Quarto Virtual do Menino', o que normalmente ainda é gerado em meu próprio quarto". Bem, esse início já é passado; o 'menino' se casou (set/2008); há agora dois quartos, o do casal e o da bagunça... Assim, diretamente do quarto da bagunça, entrem e fiquem a vontade! Sobre a imagem de fundo: A primeira é uma reprodução do quadro "O Quarto" de Vicent Van Gogh; a segunda, é uma releitura que encontrei no site http://www.computerarts.com.br/index.php?cat_id=369. Esta longe de ser o MEU quarto da bagunça, mas em 2007, há um post em que cito o quadro de Van Gogh. Como disse, nada mais propício!!!... Passaram-se mais alguns anos, e o quarto da bagunça, já não é mais da bagunça... é o Quarto do Lorenzo, nosso primogênito, que nasceu em dezembro de 2010!
sábado, outubro 09, 2021
terça-feira, outubro 05, 2021
Um personagem de filme ou
série, ao ser indagado sobre ter lido um autor contemporâneo, responde: “Só
leio gente morta!”.
Respeito a escolha. Tubo bem!
Eu leio “gente morta” e tenho meus mortos preferidos, mas também leio gente
viva, vivíssima.
Ontem recebi em casa os
livros “Mulher emudecida” e “Mulher umedecida”, ambos de Maria Mortatti.
Maria Mortatti foi minha
professora de graduação em Pedagogia, no ano de 2002. Também foi minha
professora numa disciplina na pós-graduação, em 2006, quando eu estava no
primeiro ano do mestrado.
A admiração pela professora
e pesquisadora é real e significativa desde a primeira aula lá na graduação,
com a disciplina “Didática II”, ocasião em que pediu um dos trabalhos
acadêmicos que mais me marcou: relatar a trajetória escolar. Trabalho que guardo
com carinho, cujas tramas que envolvem a escrita, devolutiva e reverberações
foram narradas em vários outros momentos, como num texto em meu Blog.
Considero essa introdução
importante para desenhar minimamente o cenário que me ajudará a refletir sobre
as leituras dos livros anunciados acima.
A conexão que criei com a
figura/imagem da professora/pesquisadora da “História do ensino da leitura e da
escrita no Brasil”, na relação professora-aluno, de respeito, admiração, muito
tem a ver com o fato da professora ser formada em Letras, ter atuado como
professora de Literatura em escolas públicas e, nas aulas da graduação/pós-graduação
exalar literatura pelos poros.
E ainda, à distância, sigo-a
pelo Facebook, com algumas oportunidades de interação. Foi pela rede social que
soube do lançamento dos livros. No turbilhão desse momento que afligiu a
humanidade e continua a nos castigar aqui no Brasil, somente agora consegui
adquirir e ler os livros. Chegamos assim às minhas percepções e impressões das
leituras.
Um é prosa, outro é poesia. Confesso
que prosa é mais atrativa para mim, por gostar muito de histórias. Poesia é uma
paixão recente, que tenho buscado me alimentar, muito pelos poemas de Cecília
Meireles, e mais recentemente com poemas de Rainer Maria Rilke. Também tenho o
livro “Breviário amoroso de sóror Beatriz”, outro livro de poemas de Maria
Mortatti.
Os contos no livro “Mulher
emudecida” que mais me impressionaram narram episódios da infância/juventude da
personagem principal. A narrativa me ajuda a compor com outros elementos e a
ratificar uma hipótese de algum tempo: Maria é uma pessoa superdotada, com
múltiplas inteligências e sobre-excitabilidades bem marcantes.
Os contextos histórico,
social e familiar dessa menina/adolescente não foram propícios e adequados para
todo o arcabouço de desejos, habilidades e talentos fora da curva, mas Maria
não pode esconder o que lhe é natural: querer conhecer, desbravar, provar, ser
intensa em tudo, no desejo pelo tamanco, pela boneca Belinha, de ser bailarina.
As memórias e eventos
resgatados nos contos contam como a menina/adolescente/jovem foi sendo proibida
de ser quem era. Para mim, sempre nostálgico e revisitando episódios da
infância, ler essas memórias de não apenas uma autora contemporânea, viva,
vivíssima, mas minha professora e uma professora querida, admirada por sua
postura e competência, essas leituras ganham outro significado.
Encerradas as leituras eu
humanizo a figura/imagem cristalizada em meu imaginário na relação
professora-aluno: uma professora de carne e osso, com casa e rotinas (que não
mora na escola e que não se dedica 24 horas do dia aos alunos, ao ensino, essas
ideias todas fantásticas que as crianças criam sobre seus professores, mesmo no
ensino superior, não essas, mas criamos outros idealismos sobre nossos
professores, os maravilhosos e os péssimos).
Recomendo a leitura de ambos
os livros e não vejo a hora de ter em mãos o terceiro livro que completa a
trilogia de “Essa Mulher” (“Mulher enlouquecida”, uma novela). As páginas, da
prosa e dos poemas são regadas de outras referências literárias e de outras
Estéticas, em outras linguagens como músicas clássicas e pinturas.
Em suma: a vida real, do dia
a dia, transformada em palavras, transportada para a literatura, como para extrair
beleza e leveza dessa vida que não é um conto de fadas, muito mais um conto
cheio de falhas (como li dias desses nas redes sociais), falhas nossas que nos
tornam quem somos, nossos “defeitos” estruturais.
Maria, mulher, professora,
pesquisadora, autora, escritora, poeta. Parabéns pela concretização desse
projeto forte e necessário: “Essa Mulher”!
E a todas as mulheres da
minha vida e do mundo: você é o sexo forte, o mundo só é possível pela sua
sensibilidade. Avante!